IEDI na Imprensa - Investimento, O Grande Desafio
Investimento, O Grande Desafio
Folha de São Paulo - 14/03/2014
Condições favoráveis ao investimento abrem caminho para a indústria ser competitiva e o país crescer
Pedro Luiz Passos
Investir, na atividade empresarial, significa acreditar no futuro e na disposição de correr riscos. Implica sacrifícios, já que corresponde a abrir mão de parte do consumo corrente. Mas as oportunidades são proporcionais aos riscos: o investimento de hoje viabiliza a ampliação da oferta de bens e serviços de amanhã, conjugada ao aumento de qualidade, além da redução de custos de produção e de preços ao consumidor.
Por tudo isso, o investimento não tem contraindicações, apesar de ser algo que o Brasil não tem feito a contento. Investimos pouco e mal em áreas como infraestrutura de transportes, energia e saneamento, na modernização e na expansão da capacidade produtiva industrial e em capital humano e inovação.
Talvez já esteja esgotado o modelo de crescimento desacompanhado de investimentos que potencializem os acréscimos de produtividade. Torna-se por isso prioritário discutir tais movimentos e suas lacunas. No ano passado, a economia cresceu 2,3%, configurando uma trajetória de baixa expansão que já perdura por um triênio. O PIB aumentou nos últimos três anos, em média, só 2%, taxa insuficiente para incentivar novos gastos de capital.
Em 2013, o volume de investimentos cresceu 6,3%. Mas, longe de indicar recuperação sustentada, essa elevação apenas repôs, com pequena folga, a retração do investimento em 2012 (-4%). Na média de 2011 a 2013, o avanço de 2,2% do investimento foi pouco maior que a evolução do PIB no período e inferior ao aumento do consumo. Esse padrão de crescimento precisa ser alterado para refletir a necessária mudança do eixo dinâmico da economia do consumo para o investimento.
No Brasil, o investimento total (público e privado) equivale a 18,4% do PIB e assim se mantém há vários anos. É pouco para assegurar o crescimento sustentado com avanços sociais e de produtividade. Para atender tais prioridades, a taxa de investimento deveria ser de 25% do PIB, conforme as referências internacionais. Emergentes com alto desempenho e que vêm reduzindo o fosso entre a renda de sua população e a de países avançados investem 30% ou mais do PIB. Na China, o índice chegou a quase 50% nos últimos anos.
Em parte, o investimento no Brasil é menor que entre os emergentes devido aos valores relativamente baixos investidos na construção comparados às aplicações em máquinas e equipamentos. Em 2013, por exemplo, o investimento em construção cresceu 2,3%, mas passou de 10% em bens de capital. Como a modernização e a incorporação de progresso técnico no setor manufatureiro têm relação estreita com investimentos em máquinas e equipamentos, é possível que esteja em curso uma melhora dos padrões de produção e produtividade da economia.
Isso vai favorecer a competitividade da indústria e da economia em geral. Para que haja avanços ainda maiores de produtividade, no entanto, é preciso conferir esforço redobrado ao investimento na construção. O pano de fundo desse processo envolve a retomada da confiança nas grandes metas da política econômica, sobretudo nas áreas fiscal e a monetária. Também decisivo será o aprimoramento da regulação, além do reforço da interação público-privada no programa de concessões em infraestrutura.
É preciso sublinhar uma característica preocupante: o distanciamento das indústrias dos mercados externos. Segundo pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), apenas "3,6% das empresas com intenção de investir em 2014 têm como foco principalmente ou totalmente o mercado externo". Já as empresas com intenção de investir unicamente para o mercado doméstico correspondem a 44% do total, enquanto, em 2010, somente 28,5% das indústrias tinham no consumo interno o foco de suas operações.
Não há vantagens em uma especialização tão acentuada como essa. A perda da capacitação exportadora decorrente do baixo investimento voltado ao mercado externo desestimula as empresas a buscar padrões internacionais de custo e eficiência. E, quanto menos sintonizadas estiverem com o processo de inovação no mundo, maior será a relação de dependência tecnológica e menor a relevância de sua inserção nas cadeias produtivas globais.
Tal viés põe em risco o desenvolvimento industrial em médio prazo. É mais seguro, além de atender melhor ao interesse nacional, voltar a investir para exportar, reaproximar-se da economia internacional e se integrar às cadeias globais de produção.
Pedro Luiz Passos, 62, empresário, é presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e conselheiro da Natura. Escreve às sextas-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.