IEDI na Imprensa - A Força Motriz
A Força Motriz
O Globo - 09/12/2011
No Brasil há redução da importância relativa da atividade industrial na economia
Frederico Fleury Curado
A produção industrial é a principal força motriz das economias desenvolvidas e vem crescendo de forma marcante nos países em desenvolvimento, em particular na Ásia. Paradoxalmente o Brasil caminha no sentido inverso, com redução da diversidade e da importância relativa da atividade industrial na economia nacional.
A combinação de problemas estruturais que se perpetuam no país, a inexistência de políticas de longo prazo e uma moeda supervalorizada vêm causando a contínua perda de competitividade da indústria nacional e a contração ou mesmo desaparecimento de cadeias produtivas instaladas no país.
Nos últimos 30 anos a participação da indústria de transformação no valor adicionado nacional caiu de 30% para 23%. Esse recuo fica mais evidente quando o comparamos com o crescimento experimentado pela Coreia no mesmo período, de 9% para 38%, ou com o da China, de 27% para 52%, ou com o da Indonésia, de 9% para 30%.
Ao mesmo tempo que se deve reconhecer o bom desempenho de nossos setores primários, com tecnologias diferenciadas que embasam sua competitividade global, é fundamental reverter a tendência de redução da participação da indústria de transformação na geração de riqueza nacional, iniciando-se um novo ciclo de expansão e diversificação.
Um país com a dimensão geográfica e populacional do Brasil não precisa fazer uma opção entre ser uma potência produtora de commodities e uma potência industrial, tendo todas as condições de ser ambos, principalmente considerando-se nosso atual estágio de desenvolvimento econômico e social.
Um dos instrumentos-chave para essa estratégia é uma política industrial ampla, ousada e longeva. É inegável que a PDP e o recente Plano Brasil Maior endereçam pontos importantes para a indústria brasileira e sinalizam, com clareza, a consciência do Estado para o problema. Há muito o Brasil não contava com tal assertividade, e sobre esses pilares iniciais é possível construir um processo de revigoramento da indústria nacional.
Quais seriam os objetivos de uma política industrial de longo alcance? I) aumentar a produtividade da indústria; II) incrementar sua competitividade global; e III) estimular investimentos.
Na questão da produtividade, as estratégias devem se concentrar na qualificação de mão de obra, no desenvolvimento tecnológico, na inovação lato sensu e na modernização do parque industrial. Nesse sentido, Estado e empresas têm papéis complementares e de verdadeira parceria, compartilhando riscos e sintonizando suas prioridades.
No que tange à competitividade global, além da capacidade de enfrentar a concorrência de importados no mercado doméstico, é preciso que nossa indústria conquiste mercados de exportação. Há fatores sistêmicos a vencer, como câmbio, infraestrutura, políticas comerciais, custo de capital e sistema tributário, nos quais o papel protagonista é do Estado, tanto na gestão macroeconômica como em sua eficiência orgânica. As soluções para esses problemas no Brasil não são fáceis ou de curto prazo, mas são rigorosamente necessárias para o futuro do país.
Já o estímulo aos investimentos na indústria passam pela análise das cadeias produtivas instaladas no país vis-à-vis o cenário competitivo mundial, buscando-se fortalecer as que têm competitividade global e identificar os principais déficits na balança comercial, pois representam ensejo para o atendimento da demanda doméstica. Além disso há oportunidades de fornecimento local para cadeias em desenvolvimento, como a de petróleo, gás e defesa. Aqui também se evidencia a necessidade de parceria entre Estado e Indústria, de um lado criando-se um ambiente favorável para se investir e, de outro, assumindo-se os riscos de capital inerentes à atividade empresarial.
Merecem endosso as palavras da presidente Dilma Rousseff em seu discurso de lançamento do Plano Brasil Maior: se não é concebível o desenvolvimento do Brasil sem inclusão social, também não o é sem uma indústria forte, inovadora e competitiva.
Frederico Fleury Curado é presidente da Embraer e vice-presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).