IEDI na Imprensa - Produção Cai e Comércio Continua Forte
Produção Cai e Comércio Continua Forte
Valor Econômico - 05/11/2010
Conjuntura: Resultados do terceiro trimestre mostram descompasso entre oferta e consumo domésticos
Denise Neumann e Rafael Rosas
Os dados de setembro da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) aprofundaram o descompasso entre produção industrial e consumo. No acumulado do terceiro trimestre sobre o segundo trimestre, a produção da indústria recuou 0,5%, enquanto o volume de vendas do varejo continuou a crescer na mesma comparação, indicando uma alta de 2,9% apenas até agosto.
Paradas programadas e importações foram as principais causas da queda de 0,2% da produção industrial em setembro, na comparação com agosto, segundo avaliação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as principais influências para o recuo de setembro, o destaque foi a baixa de 4% de outros produtos químicos, grupo que engloba itens como adubos e fertilizantes, inseticidas e resinas plásticas. André Macedo, gerente da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), frisou que paradas programadas em refinarias contribuíram para o recuo de outros produtos químicos e ainda tiveram impacto na queda de 1,5% no refino de petróleo e álcool.
A avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) é diferente. Rogério César de Souza, economista-chefe da instituição, chama atenção para o forte aumento dos produtos importados. Embalados pelo real valorizado, a importação está tomando espaço do produto nacional, diz ele. No mesmo trimestre em que a produção caiu 0,5%, a importação total cresceu 10% em volume, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) dessazonalizados pela LCA Consultores. "Nos outros países, a estratégia é agressiva para ajudar as exportações. Aqui é o contrário", diz Souza, do Iedi.
A indústria brasileira registrou o auge da produção em março, quando a produção do setor de transformação foi 0,8% maior que o registrado no auge do pré-crise, em julho de 2008. Desde março, a produção recuou em quase todos os meses e o resultado de setembro foi um nível de atividade 3% inferior ao de março, na série com ajuste sazonal do setor de transformação. Em março, 78% dos setores aumentaram a produção. Em março, apenas 44%, segundo os dados da pesquisa do IBGE.
Para Macedo, do IBGE, as importações explicam uma parte da retração da produção nacional. "Os principais impactos negativos batem em bens intermediários", ressaltou Macedo, lembrando que as importações e os estoques acima da média histórica contribuíram em setembro para o recuo da produção da metalurgia básica, o que acabou se configurando no segundo mês seguido de queda. "As importações afetam principalmente os intermediários, mas não tem como colocar toda a queda da indústria na conta dos importados", acrescentou. Pelo dados da Funcex, o volume importado de bens intermediários no terceiro trimestre foi 8,2% superior ao do segundo trimestre.
No terceiro trimestre sobre o segundo, na série com ajuste sazonal, a produção caiu em todas as categorias de uso. A queda maior foi de bens de capital (menos 2,2%), seguida de menos 1,9% em bens de consumo duráveis, de 1% em bens intermediários e de 0,7% em semi e não duráveis.
Em setembro sobre agosto, o recuo foi de 0,5% da produção de bens intermediários e de 2,6% em bens de capital e de 1,3% em bens duráveis. Para Macedo, contudo, elas não são suficientes para indicar uma tendência de queda na produção geral. Em relação aos bens de capital, Macedo afirmou que o grupo foi influenciado pelo comportamento de máquinas e equipamentos e pela produção de bens para telefonia, influenciados pela redução das exportações de celulares. Já os bens duráveis sentem os efeitos do fim das isenções tributárias.
Questionado sobre a queda de 0,5% na produção em relação ao segundo trimestre, Macedo frisou que o recuo aconteceu depois de cinco trimestres seguidos de alta e ponderou que, após um primeiro trimestre aquecido, quando a produção subiu 2,9%, a indústria brasileira entrou em ritmo de acomodação, desacelerando para 1,2% no segundo trimestre. "A leitura do resultado é de estabilidade. Houve perdas em setores importantes, fruto de paralisações, o que exerceu as maiores pressões", disse Macedo.
O técnico do IBGE lembrou que a comparação com períodos mais longos ainda apresenta dados positivos. Além da alta de 6,3% na comparação com setembro do ano passado, a produção industrial cresceu 11,2% nos últimos 12 meses, comparada com os 12 meses imediatamente anteriores, recorde para qualquer período de 12 meses. No acumulado entre janeiro e setembro, comparado com igual período do ano passado, a alta chega a 13,1%, também recorde para os nove primeiros meses do ano, na série iniciada em 1991.