IEDI na Imprensa - As Importações Atingem Pico Histórico em Setembro
As Importações Atingem Pico Histórico em Setembro
Brasil Econômico - 05/11/2010
Com expectativa de ingressar em 20% do mercado nacional, produtos estrangeiros prometem recorde de consumo este ano.
Carolina Alves
Nunca antes na história deste país o brasileiro consumiu tantos produtos importados. A frase, que por motivos óbvios não virou mote da campanha presidencial deste ano, tornou-se real no terceiro trimestre de 2010. Segundo dados da consultoria econômica LCA, a participação dos importados atingiu o pico histórico em setembro, conquistando 20,3% do consumo interno. As projeções para o ano todo seguem a tendência de gerar um novo recorde, embora num ritmo menos acelerado que o apresentado até o momento. Para o fechamento de 2010, a LCA projeta que os importados dominem 20%do mercado, volume quase 5 pontos percentuais acima do registrado no ano passado (15,7%).
“O câmbio tem grande parcela de culpa nisso, mas o Brasil enfrenta há muitos anos um problema estrutural maior, que impede que a indústria nacional seja realmente competitiva, mesmo dentro do seu próprio mercado”, analisa o economista Douglas Uemura, da LCA.
Qualificação da mão de obra, baixa oferta de tecnologia de ponta, elevada carga tributária. Estes são os principais entraves à competitividade da indústria brasileira, conforme ressalta o economista Celso Grisi, professor da Universidade de São Paulo e presidente do Instituto de Pesquisa Fractal.
“A capacidade instalada do setor, que vem caindo há meses, revela uma certa ociosidade produtiva. Mas o problema vai além: muitas indústrias estão apenas montando produtos, com peças geralmente importadas, ao invés de produzir”, destaca Grisi. O efeitos de longo prazo é de mais perda de competitividade.
Câmbio
A demanda interna está aquecida e tem sido muito bem aproveitada pelos setores de comércio e serviços, que têm apresentado recorde de vendas. Entretanto, a indústria nacional não está acompanhando esse ritmo. “O câmbio está minando a indústria, que vem, inclusive, elevando exponencialmente a importação de insumos, máquinas e equipamentos, que nós mesmos fabricamos no país, para produzir a custos menores”, afirma o economista Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Ele ressalta que as importações, em quantidade, de bens de capital cresceram 76% no terceiro trimestre frente ao mesmo período do ano passado. Já a compra de insumos do mercado externo subiu 40%.
Invasão asiática em autopeças
Mais baratos que os nacionais, os produtos da China e de Taiwan vem competindo de forma desleal com os brasileiros no segmento de peças e acessórios para veículos. “Câmbio, custo Brasil, baixa produtividade. O país criou uma série de empecilhos que atravancam sua indústria”, diz Márcio Codogno, vice-presidente da Associação Nacional de Autopeças (Anfape). O custo da produção local chega a ser 30% maior que os importados.
Importados de olho na ascensão de classe
A ameaça asiática vem atingindo também a indústria de móveis brasileira. “A inserção das classes C e D no consumo do setor e as facilidades de crédito e crediário estão elevando muito a demanda nacional, que poderia ser melhor absorvida pela indústria local se não fosse pelo câmbio”, diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez. Ainda assim, o setor projeta 10% de alta nas vendas do mercado interno.
Aumento da ociosidade
O nível de capacidade instalada da indústria recuou pelo segundo mês consecutivo, atingindo 81,9% em setembro (contra 82,2% em agosto). “Isso é resultado de maturação dos investimentos e de queda da produção, parte pelos elevados estoques, parte pela queda da demanda internacional”, diz o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo de Ávila.