IEDI na Imprensa - Perda de Competitividade
Perda de Competitividade
O Estado de São Paulo - 28/12/2009
Editorial
As previsões relativamente otimistas do governo e de associações empresariais a respeito do desempenho do comércio exterior brasileiro em 2010 não incluem a indústria de transformação. Embora bem menores do que o saldo de cerca de US$ 24 bilhões de 2009, as projeções para o superávit comercial em 2010 não são ruins, visto que a economia mundial só há pouco começou a dar sinais de recuperação. Elas variam de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões. Mas o superávit dependerá sobretudo das exportações de commodities, pois o saldo comercial da indústria deverá ser negativo pelo terceiro ano consecutivo.
A indústria de transformação brasileira registrou um superávit recorde de US$ 22,4 bilhões em 2005, mas, desde então, suas importações crescem mais depressa do que as exportações. Em 2008, registrou o primeiro déficit comercial (de US$ 7,17 bilhões) desde 2001 e, em 2009, o resultado negativo deve ficar entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões. Mas, em 2010, poderá superar o déficit de 1998, o maior já registrado até agora (de US$ 11,3 bilhões).
Não foi a crise mundial que provocou essa mudança. A deterioração da balança comercial da indústria brasileira começou bem antes da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, que levou ao colapso do sistema financeiro americano e à contaminação do mercado financeiro em escala global. Tantas vezes apontada como a grande vilã do comércio exterior, na verdade a taxa de câmbio tem um papel secundário na transformação pela qual vem passando a balança da indústria, como reconhecem instituições de pesquisas ligadas ao setor. Outros fatores reduzem a competitividade do produto brasileiro.
O Brasil, diz o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tem um grande déficit na "competitividade sistêmica". Altos custos do crédito interno, tributos muito elevados e "indevidamente cobrados", encargos excessivos sobre a folha de salários, o alto custo e a má qualidade da infraestrutura são os fatores apontados pelo Iedi - junto com a valorização do real em relação ao dólar - como responsáveis pela perda do dinamismo das exportações da indústria brasileira.
É nos segmentos que usam mais intensivamente a tecnologia que a indústria apresenta, nos últimos anos, os piores resultados comerciais. Esse fato foi observado em 2008 e se repetiu em 2009. Nos três primeiros trimestres desse ano, os segmentos de alta e média-alta intensidade tecnológica registraram déficits comerciais muito altos, de US$ 12,7 bilhões e US$ 19,2 bilhões, respectivamente. No caso do segmento de alta tecnologia, o pior resultado foi observado no comércio de aparelhos e equipamentos de áudio, vídeo e comunicações, inclusive componentes eletrônicos, em razão das importações de componentes da Ásia para a fabricação de bens de consumo e de produção para o mercado doméstico. O segmento inclui também equipamentos médico-hospitalares, óticos e de precisão, classificação que abrange as telas de cristal líquido (LCD) utilizadas na fabricação de televisores e monitores para computador.
O déficit do segmento de média-alta intensidade tecnológica no período janeiro-setembro de 2009 deveu-se principalmente às importações de produtos químicos, de máquinas e equipamentos e, excepcionalmente nesse ano, de veículos. Nos últimos anos, a indústria automobilística respondeu por fatia expressiva do superávit comercial, mas, em 2009, com a retração do mercado externo, seu resultado foi negativo.
Os segmentos de média-baixa e baixa intensidade tecnológica continuam a registrar saldos positivos, embora menores do que os de anos anteriores. O superávit comercial de produtos metálicos (média-baixa tecnologia), por exemplo, caiu de US$ 9 bilhões nos nove primeiros meses de 2008 para US$ 5 bilhões no período janeiro-setembro de 2009. Também o saldo do segmento de alimentos, bebidas e fumo (baixa tecnologia) caiu, nessa comparação, de US$ 23,7 bilhões para US$ 20,3 bilhões; e o saldo do segmento de madeira e seus produtos, papel e celulose, diminuiu de US$ 5,1 bilhões para US$ 3,5 bilhões.
Esses números mostram que o Brasil não acompanha a tendência do comércio mundial, no qual os segmentos mais dinâmicos são justamente os de maior intensidade tecnológica.