IEDI na Imprensa - Indústria Pode Ter Déficit Comercial Recorde no Próximo Ano, diz IEDI
Indústria Pode Ter Déficit Comercial Recorde no Próximo Ano, diz IEDI
Valor Econômico - 22/12/2009
Marta Watanabe
A indústria de transformação pode ter no próximo ano um déficit de balança comercial recorde, com possibilidade de superar o maior saldo negativo já registrado, de R$ 11,26 bilhões, em 1998. A previsão, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) é feita com base na perspectiva de manutenção da atual taxa de câmbio combinada à expectativa de crescimento interno, que deverá resultar em elevação da compra de manufaturados e bens intermediários do exterior.
Com isso, em 2010 a balança da indústria deve prosseguir com a tendência de déficit registrada desde o ano passado, quando fechou com resultado negativo de US$ 7,17 bilhões. Em 2009, a indústria de transformação prosseguiu com a balança deteriorada, acumulando de janeiro a setembro um déficit de US$ 4,83 bilhões. Para este ano, a previsão do Iedi é um saldo negativo do setor entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), não chega a citar números, mas acredita que é bem possível que a indústria tenha no próximo ano um déficit recorde. "Teremos em 2010 um grande volume de importações de manufaturados e nossas exportações devem crescer principalmente com base em commodities", conclui
Em 2008 a deterioração da balança da indústria foi causada principalmente pela queda nos superávits apresentados pelos segmentos de alta e média-alta intensidade tecnológica. O mercado doméstico aquecido aumentou a demanda de bens intermediários de alto valor unitário, como mantas de cristal líquido para televisores e monitores de informática. Ao mesmo tempo, o real valorizado contribuiu para a queda no valor das exportações.
Em 2009 o que mais contribuiu para o resultado do setor foi a queda nos superávits dos produtos de média-baixa e baixa intensidade que, sob o efeito da crise, experimentaram retração de demanda e de preços internacionais.
Na análise da balança da indústria por intensidade tecnológica, porém, o economista Rogério Cesar Souza, do Iedi, destaca que, embora tenham tido saldos negativos menores que em 2008, as indústrias de alta e média-alta intensidade registraram déficits muito elevados no acumulado de janeiro a setembro, de US$ 12,7 bilhões e de US$ 19,2 bilhões, respectivamente.
No segmento de alta intensidade tecnológica, pesa a forte importação de bens intermediários, como componentes eletrônicos e dispositivos de LCD. Trata-se, segundo a pesquisa do Iedi, de setores que possuem problemas estruturais, com grande demanda de componentes do exterior e baixo valor agregado no país. O dólar desvalorizado acabou apenas agravando a situação.
Entre os segmentos de média-alta intensidade tecnológica, o levantamento destaca a mudança de sinal da indústria automotiva, que saiu de um superávit de US$ 1,8 bilhão de janeiro a setembro de 2008 para um déficit de valor semelhante no mesmo período em 2009. Para esse setor, especificamente, houve influência das medidas anticíclicas adotadas pelo governo federal, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na venda de automóveis, por exemplo. As iniciativas contribuíram para a manutenção de vendas no mercado interno e, numa ambiente de retração de demanda internacional, houve queda nos embarques do setor.
Embora com saldos positivos, os segmentos de média-baixa e baixa intensidade tecnológica tiveram resultados fortemente deteriorados em 2009, contribuinte bastante para o saldo total da indústria de transformação. O superávit da média-baixa intensidade caiu de US$ 4,6 bilhões de janeiro a setembro de 2008 para US$ 2,89 bilhões no mesmo período deste ano. Mantendo os termos de comparação, a baixa intensidade teve queda US$ 30,5 bilhões para US$ 24,11 bilhões.
Na indústria de média-baixa tecnologia, o desempenho é explicado pela redução de superávit dos produtos metálicos. No caso do segmento de baixa intensidade, a queda de saldo foi resultado de vários setores industriais. Além de alimentos, bebidas e fumo, também contribuiu a deterioração das exportações de produtos têxteis, de vestuário, couro e calçados. Nesse segmentos, diz a pesquisa do Iedi, contribuiu para o resultado não somente a queda de demanda por conta da crise, mas também da valorização do real, que trouxe perda de competitividade.
Para os pesquisadores do Iedi, a deterioração da balança da indústria de transformação não deve ser creditada totalmente à crise. Desde 2005 o setor apresentava queda de saldo. A variação cambial era compensada por uma elevação média anual de 10% no preço de exportação, mas em 2009, com a retração nos valores das trocas internacionais, isso já não foi mais possível. Além do câmbio, há outros problemas que são estruturais. Entre eles, os pesquisadores do Iedi apontam questões como falta de infraestrutura, de crédito e também alta carga tributária.