IEDI na Imprensa - Câmbio Gera Preocupação na Indústria
Câmbio Gera Preocupação na Indústria
Brasil Econômico - 14/12/2009
Valorização do real diminui competitividade e setor já fala em desindustrialização
Marcelo Cabral
A indústria brasileira convive com outros fantasmas além do fracasso em cumprir as metas da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). O maior é o processo de valorização do câmbio, que coloca em xeque as conquistas do segmento. “A política industrial tem objetivos interessantes, mas sozinha ela não consegue resolver o problema da competitividade. E isso se agrava com o real valorizado. Hoje, a política cambial inviabiliza os objetivos da PDP”, afirma Antônio Correia de Lacerda, da PUC-SP.
O processo de elevação do valor do real frente ao dólar ganhou impulso com a crise e se somou ao movimento feito pela grande competidora internacional do país, a China, de desvalorizar sua moeda. A questão prejudicou a competitividade das empresas nacionais no mercado externo, tornando caro o preço do produto brasileiro frente aos concorrentes. Além disso, no mercado interno, as importações baratas levaram a uma verdadeira enxurrada de produtos vindos da Ásia.
Alguns economistas dizem que, se o real continuar forte por muito mais tempo, poderá gerar o risco de desindustrialização no Brasil. “Podemos sim chegar a uma desindustrialização, porque o câmbio pode acabar por inviabilizar a produção no país. Em um mercado global, os custos são calculados em dólares. Assim, se fica muito caro para uma empresa produzir aqui, ela vai transferir isso para outros países”, afirma Lacerda. “Realmente essa questão preocupa. A coisa já está particularmente grave em alguns segmentos, como o de produtos derivados do cloro, que estão perdendo produtividade demais com o câmbio atual. A cotação da moeda torna mais fácil buscar lá fora do que fazer aqui dentro”, completa Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O Brasil já possui um déficit comercial de US$ 51 bilhões em setores onde demanda muitos componentes importados, tais como os semicondutores e os farmacêuticos. A novidade é que esse número pode disparar puxado pelo movimento de fabricação externa em segmentos que tradicionalmente são feitos por aqui mesmo. Exemplos são a siderurgia, o vestuário, os calçados e os têxteis.