IEDI na Imprensa - Indústrias e Comércio Põem o Pé no Freio
Indústrias e Comércio Põem o Pé no Freio
O Globo - 17/12/2008
Fiesp registra 34 mil demissões, vendas no varejo recuam e projeção de crescimento para 2009 cai a 2,4%
Vinícius Segalla, Henrique Gomes Batista e Patrícia Duarte
O nível de emprego na indústria paulista voltou a cair em novembro. De acordo com dados divulgados ontem pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o setor dispensou 34 mil trabalhadores no mês passado, o que significou um recuo de 0,19% (já com ajuste sazonal) em relação a outubro, quando 10 mil postos já haviam sido cortados no setor. De janeiro a novembro deste ano, porém, o indicador mostra expansão de 5,66% no emprego industrial no estado, com a criação de 123 mil novas vagas em relação ao mesmo período de 2007.
De acordo com o departamento de Economia da Fiesp, os números de novembro, em termos absolutos, não fogem da média de cortes de novembro e dezembro, quando sempre há uma queda na produção industrial, com conseqüente redução dos postos de trabalho. O problema é que, diferentemente de anos anteriores, agora há demissões em setores que normalmente não demitem nesta época.
— O que chama a atenção é que estamos assistindo a um efeito combinado, da sazonalidade com os reflexos da crise internacional — observou Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp.
Segundo ele, a grande maioria das demissões que ocorrem neste período vem de setores específicos, como o sucroalcooleiro.
— São setores que têm um perfil sazonal muito forte, com a produção variando muito de acordo com o período do ano. O que nos preocupa agora é vermos que as demissões aconteceram em setores que não costumam dispensar nesta fase como o setor de veículos automotores e anexos, como borracha, plástico e peças metálicas.
E isso não é algo que se registra todos os anos, é, sim, a impressão digital da crise— disse Francini.
Com carros e construção, vendas caíram 8%
As vendas no comércio varejista em outubro registraram queda de 0,3%, em comparação ao mês anterior, divulgou ontem o IBGE. Foi a primeira queda depois de sete meses em expansão. No índice de margem ampliada, que analisa também a venda de veículos e motos e material de construção, a queda foi ainda maior, de 8% em relação ao mês anterior, quando havia registrado uma expansão de 4% na comparação com agosto. Pesou para esse resultado a diminuição de 19,9% nas vendas de veículos e motos, partes e peças. A segunda maior retração foi registrada no setor de vestuário e calçados (4,4%). No segmento de material de construção, a queda foi de 1,9%.
No acumulado de 2008, o comércio tem crescimento de 10,4% na comparação com o mesmo período de 2007. A receita nominal variou 0,1%, com ajuste sazonal.
O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogerio Cesar Souza resumiu:
— Em outubro ficou claro que o consumidor colocou a mão no bolso e diminuiu as compras por causa da falta de crédito e da crise. E o setor que mais sentiu foi justamente o automotivo, pela piora das condições dos financiamentos bancários.
A expectativa é que o resultado de novembro seja ainda menor, com recuperação no mês de dezembro. Com relação ao setor de material de construção, móveis e eletrodomésticos, as perspectivas não são otimistas. As vendas devem continuar reduzidas nos primeiros meses do próximo ano.
CNI projeta crescimento de 2,4% em 2009
O Brasil deverá crescer apenas 2,4% em 2009, segundo as projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgadas ontem. A entidade afirmou, entretanto, que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) poderá ser de apenas 1,8%, no cenário mais pessimista, ou de até 3,2%, se a crise mundial for minimizada. O número é inferior à meta do governo de expansão de 4% e do resultado esperado para 2008, de 5,7%. Segundo as perspectivas da entidade, o PIB industrial, que deverá crescer 6% em 2008, terá expansão de 1,8% em 2009.
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, considerou a previsão da CNI para o PIB pessimista. Ele voltou a fazer referência às projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) de expansão de 3%. O BC anuncia suas expectativas para 2009 na segunda-feira.