IEDI na Imprensa - Para Especialistas, Objetivo É Eleitoral
Para Especialistas, Objetivo É Eleitoral
O Globo – 20/12/2005
Em vez de dar aumento real ao mínimo, governo deveria investir em infra-estrutura, dizem.
Ricardo Galhardo
As conseqüências do pacote de benefícios em gestação no governo divide a opinião de economistas e consultores. Mas dois aspectos são quase unânimes: o pacote tem fortes indícios eleitorais e se, em vez de aumentar salários, compensar estados e reajustar a tabela de Imposto de Renda o governo investisse em infra-estrutura, o impacto na economia seria mais positivo.
— O governo aumentou muito as despesas e ainda consegue cumprir as metas de superávit primário. Mas isso estreita a possibilidade de gastos em investimento, que estão em declínio desde 1980, e reduz espaço para a redução da carga tributária. O mais correto seria aumentar o superávit com corte de gastos em custeio — disse o economista Guilherme Loureiro, analista da Consultoria Tendências.
Para ele, o efeito negativo vem a longo prazo. Segundo Loureiro, se o governo não tivesse dado reajustes ao salário-mínimo além da inflação desde 1994, a dívida pública, que hoje é de 51,1% do PIB, poderia estar em 44,2%. Para alcançar esse índice, o país terá que fazer um superávit primário de 5% do PIB até 2010:
— Se no ano passado o governo tivesse dado R$287 em vez de R$300, este ano não estaríamos falando em R$350.
A opinião geral é que o pacotão de benefícios só não prejudicará o equilíbrio fiscal graças aos seguidos recordes de arrecadação.
— A arrecadação tributária tem vindo sempre com surpresas. Agora mesmo fomos surpreendidos com um recorde histórico no mês de novembro. É lógico que eu gostaria que este dinheiro fosse todo para investimento em infra-estrutura. Mas a área financeira certamente gostaria que a receita fosse usada para pagar dívidas e a área social prefere investir na ampliação dos programas — avaliou Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e professor-adjunto da UFRJ.
Segundo ele, embora decisões como o aumento do salário-mínimo acima da inflação, a compensação aos estados pelas perdas da Lei Kandir e a correção da tabela do Imposto de Renda não sejam novidades neste governo, agora podem ter influência eleitoral.
— É natural que em um ano de eleição todo mundo queira fazer o bem. O que existe é uma disputa pela receita extra do aumento de arrecadação. E o governo está guardando quase tudo para gastar num ano eleitoral — disse.
Para Luiz Gonzaga Beluzzo, da Unicamp, o pacote não terá grande efeito macroeconômico:
— Ainda não temos detalhes do pacote como, por exemplo, se esses gastos estão financiados. Mas tivemos um excesso de arrecadação. A relação dívida/PIB não muda. A questão fiscal para eles (equipe econômica) é esta. O superávit também está crescendo.
Para ele, o pacote deve ajudar no aquecimento da economia no ano que vem, mas o efeito será modesto, e não terá impacto sobre os investimentos do governo, que já são quase inexpressivos (2% do PIB). Beluzzo também concorda que a proximidade da eleição presidencial pode ter efeito sobre a condução da economia.