Uso da Capacidade Instalada Preocupa
Uso da Capacidade Instalada Preocupa
Gazeta Mercantil - 01/04/2003
Maria Clara R. M. Prado
Não é novidade o fato de alguns setores importantes do setor produtivo do País terem reduzido, de forma acentuada, o nível de sua capacidade ociosa. Isso aconteceu, no ano passado, com as indústrias de papel e celulose, de borracha, siderúrgica, de metalurgia de não-ferrosos e de outros produtos metalúrgicos.
Não foram pressionadas pela demanda interna, como se sabe, mas sim pelo atrativo que a acentuada desvalorização cambial exerceu em favor das exportações.
A novidade vem das projeções feitas pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) para o comportamento em 2003 do nível de utilização da capacidade instalada em diferentes setores da indústria de transformação.
O estudo tomou por base simulações para o desempenho das exportações daqueles setores e, ainda, da demanda doméstica. Cinco cenários foram traçados, considerando diferentes estimativas par a aquelas duas variáveis.
O resultado faz pensar que a área econômica do governo tem todos os motivos do mundo para estar preocupada, não apenas com o nível da inflação, mas também com as perspectivas do desempenho da balança comercial.
Por problema de espaço, esta coluna está reproduzindo acima parte da tabela divulgada pelo Iedi. Optou-se por fazer um corte, deixando de fora os setores que em 2002 revelaram nível do uso da capacidade instalada inferior a 80%, inclusive.
Também ficaram de fora da tabela as simulações traçadas pelo Iedi para o cenário 3 (que contempla aumento das exportações no mesmo nível de 2002 com relação a 2001 e expansão de 4% na demanda doméstica de cada setor), cenário 4 (crescimento de 5% nas exportações setoriais e aumento de 4% na demanda doméstica) e cenário 5 (10% mais nas exportações setoriais e aumento de 2% na demanda doméstica).
Bem, não é difícil imaginar que nos cenários 3, 4 e 5 a pressão pelo grau de utilização da capacidade instalada é cada vez mais crescente. No cenário 5, por exemplo, o setor de papel e gráfica chegaria a um estado crítico neste ano, pois estaria trabalhando a plena capacidade (99,7%), praticamente sem margem para aumentar a produção.
A industria metalúrgica de não-ferrosos chegaria a 98,3% da capacidade, enquanto a da borracha teria alcançado 97,2% da capacidade instalada e a siderurgia, 96,9%.
Para os setores que tiveram queda de exportação no ano passado, o Iedi supôs que as exportações neste ano repetiriam o ocorrido em 2001.
Vale dizer, ainda, que as simulações tomaram por base os encadeamentos produtivos construídos a partir da matriz de relações interindustriais.
O que se vê é que haveria maior uso da capacidade instalada neste ano em quase todos os setores, ainda que não ocorresse nenhum aumento das exportações em comparação com o que se verificou em 2002 sobre 2001 e nem da demanda doméstica, condições imaginadas para o cenário 1.
A insuficiência dos investimentos no setor produtivo explica o quadro. Falta capital interno para financiar a expansão da capacidade instalada. Há aqui um problema estrutural, relacionado à baixa poupança doméstica, e outros de ordem conjuntural, como níveis do câmbio e dos juros.
A indústria brasileira cresceu apenas 1,7% ao ano, em média, nos últimos 20 anos. Isso representa expansão per capita de apenas 0,1%. Quer dizer, nenhuma.