Gargalo de Produção Preocupa Indústrias
Gargalo de Produção Preocupa Indústrias
O Estado de São Paulo - 29/03/2003
Pesquisa mostra que boa parte das fábricas já opera perto do máximo da capacidade instalada
Marcelo Rehder
Se as exportações crescerem 10% este ano, como o governo prevê, e a demanda doméstica aumentar 2%, boa parte dos setores da indústria de bens intermediários (aqueles que são absorvidos na produção de outros bens, como o aço nos automóveis e o papel na embalagem) vai bater no limite da capacidade instalada de produção. Além de pressionar ainda mais a inflação, essa situação pode inviabilizar o crescimento das exportações a partir de 2003. O diagnóstico foi feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que propõe a adoção pelo governo de um programa emergencial para incentivar os investimentos no setor.
O mesmo alerta foi feito pela Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), na quinta-feira. Segundo a diretora do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Fiesp, Clarice Messer, as empresas não têm condições de aumentar as exportações porque estão no "gargalo". Como são as vendas externas que têm sustentado a atividade industrial no Estado, Clarice diz que não há motivos para se esperar crescimento do setor nos próximos meses.
De acordo com o estudo do Iedi, a indústria brasileira está operando em média com 80% da capacidade instalada. Mas há setores onde o índice já chega perigosamente a 93,3%, caso do segmento de papel e gráfica (ver tabela). A indústria de borracha opera com 89,5% da capacidade, enquanto na siderurgia e metalurgia o índice está em 88%.
"Acima de 88% acende o sinal de alerta", diz o diretor-executivo do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Segundo ele, em qualquer dos cenários previstos para a economia brasileira este ano, até mesmo em caso de uma estagnação da demanda interna e manutenção do crescimento das exportações, a utilização de capacidade será crítica em vários setores. Levando-se em conta um horizonte de dois ou três anos, Almeida avalia que o problema também pode se apresentar em segmentos de bens de consumo, que hoje tem uma situação mais folgada que a da indústria de base.
"Se os gargalos fossem nas indústrias de bens de consumo, a gravidade do problema seria bem menor, porque daria para aumentar o grau de utilização da capacidade sem novos investimentos, apenas com a abertura de um terceiro turno, por exemplo", observa o diretor do Iedi. Mas essa alternativa não é viável para as indústrias de base, que em sua maioria opera em sistema de produção contínua.