Expectativa É Que Setor Cresça Mais
Expectativa É Que Setor Cresça Mais
O Estado de São Paulo - 01/01/2003
Projeções dependem da superação da taxa de juros elevada e aumento da produtividade
Nilson Brandão Junior
RIO - A indústria deve representar uma das principais provas de fogo do novo governo petista. A produção industrial começará o primeiro trimestre carregando, ainda, parte do crescimento registrado nos últimos meses de 2002. Mas para que o grande trunfo inicial se transforme num crescimento potencial de 5% em 2003, projetado por especialistas, será preciso encontrar espaço e enfrentar desafios importantes, como a taxa de juros elevada, a retomada de ganhos significativos de produtividade e o aumento da competitividade.
As últimas projeções do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostram que a produção deve fechar o quarto trimestre com crescimento de 7% sobre o período de 2001. E, para este ano há um potencial de avanço de 5%, revela o diretor-executivo do instituto, Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Para 2002, as novas estimativas do Iedi apontam agora para um crescimento de 2,5% sobre o ano anterior. Dessa forma, o crescimento para este ano poderia ser o dobro do esperado para 2002.
Poderia, porque, concretamente, este avanço dependerá da capacidade e da chance que o novo governo terá de manejar, no curto prazo, uma série de variáveis, que vão desde a política monetária, a instabilidade financeira e expectativas adversas sobre a economia até a recuperação do crédito externo.
"Este ano vai ser um ano de expectativas, porém, os investimentos poderão ser maiores que no ano passado. Estamos otimistas", disse o presidente da General Electric (GE) para a América do Sul, Alexandre Silva.
Mas, o que o novo governo deve fazer? "O novo governo pode não prejudicar e não repetir mais a política cambial de 1994 a 1998. Nem perder a oportunidade de reduzir juros", responde o diretor-executivo do Iedi. O comentário mostra um certo ressentimento de parcela do setor, para a qual a indústria foi prejudicada, sobretudo entre 1990 e 1998.
Incentivos - "Espero que a produção seja estimulada e não punida", reforça Gomes de Almeida, completando que houve, em geral, "uma ideologia predominantemente antiindustrial neste período e setores que não eram maduros não agüentaram o tranco". O diretor do Iedi dá exemplos. Aponta que setores de bens de capital e componentes eletrônicos foram sucateados com a abertura comercial e a sobrevalorização cambial.
Deveriam ter sido alvo de "políticas específicas", que permitissem acordos para adaptação. Ele mesmo reconhece, contudo, que o tal sucateamento foi parcial e outros setores da indústria cresceram. Mas, ainda assim, pouco, pondera.
Já o economista da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato Fonseca, afirma que algumas medidas pró-indústria foram adotadas, parte delas no âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "O que se cobrava era uma política mais integrada. Faltou mais coordenação das ações feitas e um maior comprometimento, mais claro, com o impulso da indústria, sem protecionismos ou subsídios", diz Fonseca. E é justamente este ponto que concentra boa parte das análises de especialistas que acompanham o assunto: o novo governo deverá adotar ações coordenadas para a indústria.
O economista e ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros avalia que, a partir de agora, os esforços devem ser concentrados em três pontos básicos. São eles: operação integrada de políticas de ciência e tecnologia e comercial externa; expansão do mercado de capitais; e execução da já tão debatida reforma tributária.
"Dadas as limitações do mercado doméstico, certos saltos tecnológicos só acontecerão se a produção doméstica se destinar desde logo também ao exterior" diz o economista. "Um exemplo claro é como internalizar eficientemente a produção de certos componentes de informática."
O diretor-executivo do Iedi defende o estímulo a políticas de atração de investimentos, internos e estrangeiros, para o setor de inovação, no qual o Brasil tem de "queimar etapas". Assim como para setores do mundo moderno, em que todos os países estão, de uma forma ou de outra, engatinhando, além de foco nas atividades que já dão sinais de estrangulamento da capacidade instalada, como aço, papel, celulose e química. "Com as reformas, não se precisa de proteção, subsídio, incentivo fiscal, mas da modernização da nossa estrutura", completa.
Ajustes - Parece consenso que a indústria do País sofreu forte ajuste nos anos 90, com sacrifício de parte dos empregos, em paralelo a outros ajustes internos, como as privatizações, estabilização da moeda e modernização financeira. Não há dúvida, igualmente, de que ocorreram ganhos de produtividade, organização e gestão de empresas, principalmente depois de 1999, com a mudança do regime cambial, quando começou a se forjar o aumento do coeficiente das exportações na parcela produzida no País, hoje facilmente detectável.
As estatísticas da CNI permitem enxergar facilmente alguns destes fenômenos.
Comparando os dez primeiros meses de 2002 ao mesmo intervalo de tempo em 1992, o nível médio de pessoal ocupado encolheu 25% e a produtividade avançou 71% na indústria. Mas a própria CNI diagnostica que nos últimos anos da década de 90 o crescimento da produtividade da mão-de-obra mostrou "tendência decrescente", o que, no limite, pode afetar a própria competitividade da indústria.