Balança Comercial Empobreceu em Tecnologia, diz estudo do Iedi
Balança comercial empobreceu em tecnologia, diz estudo do Iedi
Valor Econômico - 02/05/2003
Comércio Exterior: Compra e venda de produtos de ponta perderam espaço no ano passado
Denise Neumann
As exportações e as importações brasileiras ficaram mais pobres do ponto de vista tecnológico em 2002. As exportações de média e média/alta tecnologia perderam espaço na pauta brasileira. Elas recuaram de 26,4% do total em 2001 para 24,4% do total em 2002.
Nas importações, esse recuo foi de três pontos percentuais. Em 2001, as importações de alta e alta/média tecnologia representavam 48,9% de tudo o que o país comprou no exterior; no ano passado, elas recuaram para 46% do total.
As exportações ficaram mais pobres pela queda no embarque de aeronaves e pela redução nas vendas externas de celulares e terminais de telefonia, avalia o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. A queda nas importações refletiu, principalmente, o fim do ciclo de investimentos em telecomunicações.
Almeida lembra que o Brasil é historicamente um país que importa muito mais do que exporta bens de alta intensidade tecnológica e essa situação foi pouco alterada pelas desvalorizações cambiais de 1999 e de 2002.
Em 2001, na média mundial, as exportações e importações desses bens representavam 44% do comércio mundial destes bens. "A importação brasileira está acima da média; a exportação, bem abaixo", observa ele.
O Brasil, diz o economista, continua com suas vendas externas muito concentradas em mercados onde a demanda mundial está em queda. No ano passado, 27% das exportações brasileiras foram de setores com crescimento negativo no comércio mundial e apenas 10% delas foram de setores muito dinâmicos, onde a demanda mundial cresceu acima de 5% ao ano nos últimos cinco anos, informa Almeida.
O Iedi tem em mãos uma detalhada base de dados sobre as exportações e importações brasileiras no ano passado. Os dados agregam as exportações por intensidade tecnológica, demanda mundial e perfil da indústria (intensiva em escala, em trabalho ou em recursos naturais). A análise das estatísticas mostra que a desvalorização cambial de 2002 não detonou uma mudança no perfil exportador brasileiro. Os principais responsáveis pelos bons resultados foram os produtos primários e os intensivos em recursos naturais.
A principal mudança no perfil das exportações brasileiras começou antes de 1999. Desde 1998 começou a crescer a participação dos produtos intensivos em pesquisa & desenvolvimento (P&D). Em 1997, estes bens (principalmente aviões, equipamentos de telecomunicações e produtos farmacêuticos) representavam 4,7% da pauta exportadora brasileira.
Nos anos de 1998, 1999 e 2000, essa participação evoluiu a uma velocidade anual média superior a 2 pontos percentuais até alcançar um peso de 11,9% no total das vendas externas do Brasil em 2000. Aí, o crescimento estacionou e em 2002 recuou para 10,1% do total.
Os dados também mostram que o efeito da desvalorização foi nulo no incentivo à exportação de bens intensivos em trabalho (calçados, têxtil, vestuário, móveis, etc). As exportações deste segmento tem mantido uma participação de 10% , acompanhando o crescimento médio nas vendas externas no Brasil. "Nesse segmento, o produto brasileiro sofre concorrência forte de países onde o custo da mão-de-obra é menor", pondera Almeida.
Os dados do Iedi também permitem olhar setores nos quais está ocorrendo substituição de importações. Desde 1998 há uma redução expressiva nas importações de indústrias intensivas em escala, onde se destacam os setores automobilístico e a siderúrgico.
Em 1998, o país importou US$ 11,3 bilhões em bens intensivos em escala. No ano passado foram apenas US$ 6,7 bilhões. uma retração de 40%. Em proporção ao total de importações a queda foi de 20% para 14%.
O país também reduziu expressivamente suas importações de bens agrícolas e àqueles intensivos em recursos naturais, cujo valor caiu 22% entre 1998 e 2002. No total, as importações de 2002 foram 18% menores que as de 1998, ano anterior à primeira desvalorização do real.
Em dois segmentos, a importação sofreu um recuo expressivo entre 2001 e 2002: fornecedores especializados e intensivos em P & D. "Mas aqui não temos substituição de importações. Ocorreu queda no investimento. No primeiro segmento, o resultado é puxado pelo fim do racionamento de energia; no segundo, pelo fim do ciclo de investimentos em telecomunicações", pondera o diretor do Iedi.