Carta IEDI
Radiografia das Exportações Brasileiras
O objetivo desta edição da Carta IEDI é contribuir com a decisiva questão de como o país poderá ampliar suas exportações em um momento em que o novo governo anuncia como uma de suas políticas mais relevantes, o apoio à exportação. Cabe observar que o aumento das exportações é a condição para que o país consolide em 2003 e nos próximos anos, um ajuste externo que, em 2002, foi obtido essencialmente por queda de importações.
São resumidas e comentadas várias características das exportações brasileiras em comparação com outros países de economia emergente e industrializada.
Os pontos tratados são:
- O Brasil exporta pouco.
- Diversificar exportações é o caminho brasileiro de comércio exterior.
- A participação de manufaturados na pauta de exportação está estagnada.
- O país exporta pouco de produtos de “demanda crescente” no mundo.
- No campeonato do dinamismo das exportações o Brasil é o último colocado.
- A exportação de produtos dinâmicos deve ser meta da política de exportação.
- O passaporte do dinamismo exportador é o investimento em tecnologia.
- Houve significativo avanço nos últimos anos, mas as exportações brasileiras de produtos com maior conteúdo tecnológico está ainda distante dos padrões internacionais.
Leia mais sobre o tema no texto a seguir
Alguns fatos conhecidos e outros nem tanto são comentados a seguir, a propósito de um levantamento que o IEDI está concluindo sobre o comércio exterior brasileiro em uma perspectiva comparativa com diversos outros países emergentes e países desenvolvidos. Os dados primários são da ONU e cobrem 261 setores (SITC, revisão 3, 3 dígitos) para o período 1996/2001.
Estamos adiantando os resultados atinentes às exportações, procurando contribuir com a decisiva questão de como o país poderá ampliar suas exportações em um momento em que o novo governo anuncia como uma de suas políticas mais relevantes, o apoio à exportação. Cabe observar que o aumento das exportações é a condição para que o país consolide em 2003 e nos próximos anos, um ajuste externo que, em 2002, foi obtido essencialmente por queda de importações.
1) O Brasil exporta pouco.
Foram US$ 58 bilhões em 2001 e US$ 60 bilhões em 2002, o que corresponde a 12% do PIB. A média de 17 principais países emergentes é 29% do PIB. Entre os 10 principais países desenvolvidos, a média é de 14% do PIB, muito influenciada pelo resultado dos EUA (6,5% do PIB). Excluído esse país, a média salta para 21%. As exportações brasileiras representam apenas 1,2% do total mundial. Entre 1996 e 2001, um espaço de tempo relativamente curto, países como México, Irlanda e China aumentaram significativamente (entre 1 e 2 pontos percentuais) sua participação no comércio mundial. Mantido por um período de tempo suficiente longo o atrativo cambial das exportações e executando políticas adequadas, o Brasil pode almejar atingir 2% das exportações mundiais, o que significa dobrar suas exportações no próximo quinquênio.
2) Especialização, não; diversificação, sim.
O Brasil já tem e pode desenvolver mais ainda uma pauta exportadora diversificada. Mesmo em segmentos industriais onde o Brasil exporta relativamente pouco em comparação com outros países emergentes (como na indústria intensiva em escala – onde se destacam setores como o automobilístico, ferro e aço –, na indústria de fornecedores especializados – como maquinaria-bens de capital, máquinas de escritório e computadores –, na indústria intensiva em P&D – componentes eletrônicos, equipamentos de telecomunicações, indústria aeroespacial, produtos farmacêuticos e medicamentos etc – e na indústria intensiva em trabalho – têxtil, vestuário, calçados, móveis etc), o país tem se destacado pelo que já exporta (ferro, aço, ônibus e carrocerias, aviões, aparelhos celulares, calçados, etc) e pelo potencial que tem em exportar mais (esses setores, além de automóveis, serviços de engenharia, tratores, equipamentos de telecomunicações, vestuário, móveis etc). O Brasil tem ainda o que muitos outros países emergentes não têm: uma forte base exportadora agropecuária e agroindustrial. Isso lhe confere a vantagem de possuir uma pauta de exportação diversificada, o que é importante como proteção das exportações totais frente às oscilações do comércio exterior. De “A a Z” (guardadas as devidas proporções), da agropecuária à indústria, dos produtos da “velha” aos produtos da “nova economia”, o país tem potencialidades mais amplas do que aproveita em termos de exportação. O caminho brasileiro é o da diversificação das exportações e não o da especialização. O papel da política de exportação é retirar os entraves e estimular esse percurso.
3) A participação da exportação de manufaturados está estagnada.
Há mais de uma década a exportação de manufaturados corresponde a cerca de 55% das exportações brasileiras. Nos casos de maior êxito exportador entre os países de economia emergente, essa proporção é próxima ou supera 80%, sendo que a média mundial é 81%. Ao lado das políticas de ampliação do acesso a mercados externos, desenvolvimento tecnológico, crédito ao custeio e à modernização do maquinário agrícola, que tanto têm auxiliado (e poderão futuramente auxiliar muito mais) na exportação de produtos primários, são necessárias políticas tão eficazes quanto estas para a promoção da competitividade, desenvolvimento de marcas, inovação e atração de investimentos nos setores industriais. O investimento da empresa brasileira no exterior é também um instrumento de incentivo à exportação de manufaturados. O câmbio favorecido não exclui a necessidade dessas políticas.
4) É pequena a exportação brasileira de produtos de “demanda crescente” no comércio mundial.
Setor de “demanda crescente” é entendido como aquele cujo valor de exportação aumentou como percentual da exportação mundial em um determinado período. Apenas 26% das exportações brasileiras foram, em 2001, de produtos de setores cuja demanda foi crescente no comércio exterior no período 1998/2001. É o mais baixo índice entre todos os países emergentes e países desenvolvidos analisados. O índice médio mundial é de 43%. Ampliar a exportação de manufaturados, o que permite maior agregação de valor na cadeia produtiva, não é o único instrumento para que o país procure se posicionar melhor no comércio mundial, mas é um dos mais importantes.
5) Ter competitividade é bom; ter competitividade em produtos dinâmicos no comércio mundial é muito melhor.
Exportar produtos em que temos competitividade é condição básica do êxito exportador que pretendemos para o Brasil. Mas é claro que se esses produtos tiverem dinamismo no comércio mundial, nossas exportações poderão crescer mais. Após a mudança da política cambial em 1999, os produtos de exportação brasileiros ganharam competitividade (“ganho de competitividade” é entendido como aumento da participação da exportação de um determinado setor de um país na exportação mundial desse setor – aumento do “market share” do país nesse setor). As exportações brasileiras desses setores passaram a representar 71% das exportações totais em 2001 (67% em 1998), aproximando-se de outros países emergentes. No entanto, isso não de traduziu em aumento vigoroso das exportações (nossas exportações cresceram 4,4%, em média entre 1999 e 2001) porque as exportações brasileiras têm um grande peso em setores sem dinamismo no comércio mundial, ou, colocando de uma outra forma, porque os setores de produtos mais dinâmicos do comércio mundial têm baixa participação nas exportações brasileiras.
6) No campeonato do dinamismo das exportações o Brasil é o último colocado.
Vamos chamar de “setores em decadência” no comércio exterior os setores cujas exportações mundiais, em valor, tiveram crescimento zero ou crescimento negativo entre 1996 e 2001. E de “setores muito dinâmicos” aqueles cujas exportações mundiais cresceram anualmente 5% ou mais (em média, as exportações mundiais cresceram 2,5% entre 1996 e 2001). Nas exportações brasileiras, os “setores em decadência”, correspondiam a 32% do total em 2001, enquanto a média mundial era de 18%; os “setores muito dinâmicos” respondiam por 15% das exportações brasileiras, sendo de 26% o padrão mundial. Nenhum país emergente ou desenvolvido analisado tinha índice maior de exportação de “setores em decadência” do que o Brasil; nenhum país tinha índice de exportação de “setores muito dinâmicos” menor do que o brasileiro.
7) O passaporte do dinamismo exportador é o investimento em tecnologia.
Porque mesmo em setores onde as vocações naturais brasileiras conferem grande vantagem comparativa ao país, a tecnologia é cada vez mais o instrumento de manutenção/aumento ou de conquista de competitividade. Desenvolvimento tecnológico é também atrair investimentos internos e externos para setores que na literatura internacional (OCDE, por exemplo) são denominados de “alta” ou “média-alta” tecnologia. Considerando a média mundial do período 1996/2001, quase 2/3 (63%) das exportações mundiais de setores “dinâmicos” (crescimento médio anual entre 2,5% e 5%) ou “muito dinâmicos” (crescimento acima de 5% ao ano) em 2001, eram de setores de alto ou médio-alto conteúdo tecnológico. Mesmo no Brasil, 64% das exportações de produtos “dinâmicos” ou “muito dinâmicos” em 2001, eram produtos de alto ou médio-alto conteúdo tecnológico. Exportar mais desses produtos não é o único, mas, certamente, é o instrumento mais seguro para ampliar o dinamismo das exportações.
8) Houve uma significativa evolução da exportação de produtos com maior conteúdo tecnológico, mas ainda estamos distantes da média mundial.
A exportação de produtos com maior conteúdo tecnológico (alta ou média-alta tecnologia) correspondia a 19% das exportações totais brasileiras em 1996, 24% em 1998 e 26% em 2001, uma evolução digna de destaque e que muito se deve à exportação de aeronaves. Mas, na média mundial essa mesma proporção é de 44%, situando-se entre 50% a 75% entre os países emergentes de maior êxito exportador, o que denota que o Brasil pode e deve investir ainda mais para continuar progredindo nessa área.



















