Análise IEDI
O emprego sob duas perspectivas
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que a redução do desemprego vem tendo continuidade. A taxa de desocupação não apresenta mais dois dígitos, ficando em 9,1% no trimestre findo em jul/22, o que a coloca em um patamar abaixo daquele do pré-pandemia. Entretanto, os avanços recentes, para além da Covid-19, inda não fazem frente aos efeitos negativos da crise econômica de 2015-2016.
É na evolução recente que se concentram as boas notícias. O número total de ocupados cresceu +8,8% entre os trimestres findos em jul/21 e jul/22, enquanto o contingente de desempregados recuou -31,4%. Neste mesmo período, a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas caiu -17,1% e o número de desalentados, -19,8%.
Como mostram as variações interanuais a seguir, o trabalho com carteira assinada registrou pela segunda vez uma taxa de crescimento robusta, ainda que inferior a tipos informais de contratação, como o trabalho sem carteira.
• Ocupação total: +9,4% em nov/21-jan/22; +10,3% em fev-abr/22; +8,8% em mai-jul/22;
• Trabalho com carteira assinada: +9,3%; +11,6% e +10,0%, respectivamente;
• Trabalho sem carteira assinada: +19,8%; +20,8% e +19,8%;
• Trabalho doméstico: +19,9%; +22,6% e +14,1%;
• Ocupação por conta própria: +10,3%; +7,2% e +3,5%, respectivamente.
A indústria, por sua vez, segue ampliando seus empregados, com alta de +8,2% no trimestre findo em jul/22, representando 965 mil postos ocupados a mais do que em igual período do ano anterior. Este contingente representou 12,5% do total do aumento da ocupação no período e ficou atrás apenas de dois setores: comércio e reparação de veículos (+2,2 milhões de ocupados) e administração pública, defesa e serviços sociais (+1,1 milhão).
A indústria, ao lado da maioria das atividades ficou no grupo daqueles que conseguiram manter o ritmo de expansão do emprego nesta entrada do segundo semestre de 2022. As exceções neste processo couberam à construção (de +14,6% em fev-abr/22 para +7,4% em mai-jul/22) e à agropecuária (de +0,6% para -1,8%). Em alojamento e alimentação (de +29,2% para +19,7%) e serviços domésticos (de +22,6% para +13,8%) a acomodação não comprometeu o forte crescimento.
Estes resultados nos últimos meses, entretanto, ficaram longe de compensar o impacto negativo da crise de 2015-2016. Tanto é que a atual taxa de desocupação ainda está bem acima daquela de 2014 (7,0% em mai-jul/14). Agora no trimestre findo em jul/22, o número de desocupados é 43% maior do que aquele do mesmo trimestre de 2014, enquanto o número de ocupados está apenas 7,4% acima.
A informalidade elevada continua um problema a ser sanado. Entre os trimestres findos em jul/14 e jul/22, há queda no contingente de ocupados com carteira assinada de -4,8%. Em contrapartida os postos sem carteira assinada ou os conta própria, que incluem os chamados bicos, cresceram +25,3% e +24,4%.
Como o IEDI enfatizou em outras ocasiões, a informalidade geralmente vem acompanhada de rendimentos menores e mais irregulares e dificulta ou encarece o acesso das pessoas ao mercado de crédito, o que reduz sua capacidade de consumo e prejudica o dinamismo do mercado doméstico.
Outros dados preocupantes: o número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas em jul/22 era 51,7% maior do que em igual trimestre de 2014 e o número dos desalentados, isto é, daqueles que pararam de buscar emprego após repetidos insucessos, praticamente triplicou neste período.
Conforme os dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação no trimestre compreendido entre maio e julho de 2022 registrou 9,1%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr/2022), houve retração de 1,4 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação negativa de 4,6 p.p., quando registrou 13,7%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.693, apresentando variação de 2,86% em relação ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr/2022). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve declínio de 2,9%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 260,7 bilhões no trimestre que se encerrou em julho, registrando crescimento de 4,8% frente ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr/2022) e variação positiva de 6,7% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (R$ 245,7 bilhões).
No trimestre de referência a população ocupada registrou 98,7 milhões de pessoas, variação positiva de 2,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 8,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (90,7 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 12,9%, com 9,9 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se variação negativa de 31,4%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 108,6 milhões de pessoas, representando variação positiva de 0,6% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 3,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (105,1 milhões de pessoas).
Na análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, dez dos agrupamentos analisados, nove apresentaram expansão: Outros serviços (21,3%), Alojamento e alimentação (19,7%), Serviços domésticos (13,8%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (13,2%), Transporte, armazenagem e correios (9,1%), Indústria (8,2%), Construção (7,4%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (7,0%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (3,8%). Em sentido oposto, Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura registrou retração de -1,8% no período.
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, seis das sete categorias apresentaram expansão frente ao mesmo trimestre do ano passado: Trabalho privado sem carteira (19,8%), Empregador (16,2%), Trabalho doméstico (14,1%), Trabalho privado com carteira (10,0%), Setor público (5,2%), Trabalhador por conta própria (3,5%). Na mesma base de comparação, a categoria de Trabalho familiar auxiliar apresentou declínio de -9,3%.