Análise IEDI
Melhora progressiva
Os últimos dados do IBGE, divulgados hoje, mostram que o mercado de trabalho segue reagindo. O contingente de desempregados ainda é elevado, mas vem caindo com certa velocidade, bem como o desalento e a subocupação por insuficiência de horas trabalhadas, enquanto o emprego com carteira está em aceleração. Atualmente o maior obstáculo é o rendimento, muito corroído pela inflação.
No trimestre móvel findo em abr/22, a taxa de desocupação continuou com dois dígitos, em 10,5%, mas é a menor para este período desde 2015. Um ano atrás estava em 14,8%, implicando um declínio acentuado em comparação com o padrão vigente antes da pandemia, quando o mercado de trabalho se recuperava da crise de 2015/2016.
Já o número de pessoas desempregadas foi de 11,3 milhões, muito elevado, é certo, mas o menos expressivo desde a primeira metade de 2016. Frente ao mesmo período do ano anterior, pela nona vez consecutiva houve recuo deste contingente, com a diferença que agora o ritmo chegou a -25,3% no trimestre findo em abr/22.
Ao lado desta redução no número dos desempregados, outros aspectos que também prejudicavam a qualidade da retomada recente do emprego estão perdendo força. É o caso da subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e do desalento: -10% e -24,6%, respectivamente.
A ocupação, por sua vez, está em alta e apresenta um desempenho consistente, mantendo-se em torno de +10% desde meados do ano passado. Agora no trimestre findo em abr/22 registrou +10,3%, como mostram as variações a seguir. A boa notícia é que este ritmo vem se mantendo com o apoio da aceleração do emprego com carteira assinada.
• Ocupação total: +10,2% em ago-out/21; +9,3% em nov/21-jan/22 e +10,3% em fev-abr/22;
• Ocupação com carteira: +8,1%; +9,3% e +11,6%, respectivamente;
• Ocupação sem carteira: +19,8%; +19,8% e +20,8%;
• Trabalho por conta própria: +15,8%; +10,3% e +7,2%, respectivamente.
Frente ao mesmo trimestre móvel do ano anterior, o emprego com carteira, que não só possui rendimentos mais elevados, mas também mais regulares, permitindo melhor acesso ao crédito, cresceu à frente da ocupação total pela primeira vez desde o início da pandemia: +11,6% ante +10,3%, como visto anteriormente. Cerca de 40% da melhora do emprego total vieram dos postos com carteira em fev-abr/22.
Muito disso está relacionado com a recomposição do emprego industrial, já que a indústria estabelece relações de trabalho majoritariamente formais. A ocupação neste setor cresceu +9,4% em fev-abr/22 e também assumiu uma trajetória de aceleração.
A alta do emprego industrial respondeu por 12% do total da ocupação criada em relação a um ano atrás, ficando atrás apenas do comércio (25%) e do serviços de alojamento e alimentação (13%), que, como se sabe, são atividades muito intensivas em mão de obra e ainda se recuperam dos efeitos da pandemia.
Embora o avanço do emprego com carteira venha acompanhado de desaceleração do trabalho por conta própria, que inclui os chamados “bicos”, as ocupações informais seguem se expandindo fortemente. Os empregos sem carteira registraram +20,8% e os conta própria, +7,2% ante fev-abr/21.
Devido a estas ocupações que tendem a pagar menos, o rendimento nominal médio de todos os trabalhos cresce pouco (+1,5%) e fica mais vulnerável à corrosão provocada pela aceleração da inflação. Assim, o rendimento médio real está sistematicamente no vermelho desde o início de 2021 e registou -7,9% no trimestre findo em abr/22 ante o mesmo período do ano anterior.
Esta evolução tem comprometido a massa de rendimentos reais, que é a base de consumo da população, cujo desempenho só não foi negativo em fev-abr/22 devido à expansão da ocupação. Apresentou variação de +1,9% ante fev-abr/21, mas encontra-se em um valor 4% abaixo de fev-abr/19, isto é, antes do choque inicial da pandemia.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 10,5% no trimestre compreendido entre fevereiro e abril de 2022. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov/21-dez/21-jan/22), houve retração de 0,7 p.p., e frente ao mesmo trimestre do ano anterior verificou-se variação negativa de 4,3 p.p., quando registrou 14,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.569, apresentando variação de 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov/21-dez/21-jan/22), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve declínio de 7,9%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 242,9 bilhões no trimestre que se encerrou em março, registrando retração de 7,5% frente ao trimestre imediatamente anterior (nov/21-dez/21-jan/22) e variação positiva de 3,7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 238,5 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 96,5 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 1,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 10,3% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (87,5 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 5,8%, com 11,4 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se variação negativa de 25,3%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 107,9 milhões de pessoas, representando crescimento de 0,4% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 5,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (102,7 milhões de pessoas).
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, as variações nos agrupamentos analisados foram: Alojamento e alimentação (29,2%), Serviços domésticos (22,6%), Outros serviços (21,4%), Construção (14,6%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (13,7%), Transporte, armazenagem e correios (11,7%), Indústria (9,4%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (4,0%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,5%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (0,6%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, registraram-se as seguintes variações frente ao mesmo trimestre do ano anterior: Trabalho doméstico (22,6%), Trabalho privado sem carteira (20,8%), Trabalho privado com carteira (11,6%), Empregador (11,2%), Trabalhador por conta própria (7,2%), Setor público (0,6%) e Trabalho familiar auxiliar (-2,0%).