Análise IEDI
Ocupação em alta, mas com fragilidades
A primeira metade de 2021 se encerrou com uma taxa de desocupação de 14,1%, o que corresponde a 14,4 milhões de pessoas que buscaram, mas não encontraram emprego no trimestre móvel findo no mês de junho. Os dados são da pesquisa Pnad Contínua do IBGE divulgados nesta manhã.
Embora tenha se desacelerado um pouco, o número de desempregados continuou crescendo a taxas de dois dígitos quando em comparação com o mesmo período de 2020. No 1º trim/21 registrou alta de +15,2% e agora no 2º trim/21 aumentou +12,9%, o que indica que a reação do nível de atividade econômica dos últimos meses ainda não conseguiu ensejar uma retomada forte o suficiente do emprego para absorver todos aqueles que procuram um trabalho.
Ainda na comparação com igual trimestre do ano anterior, o número de ocupados registrou sua primeira variação positiva em abr-jun/21, depois de quatro trimestres seguidos de declínio. A alta foi de +5,3% ou 4,5 milhões de pessoas a mais com uma ocupação. Este desempenho teria um significado mais favorável não fosse o crescente número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas.
Aqueles que têm um emprego, mas trabalham menos do que poderiam e gostariam, de modo a lhes assegurar um nível mais elevado de renda, compreendem este contingente de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, que atingiu a marca recorde de 7,5 milhões de pessoas. Frente a abr-jun/20, a alta foi de +34,4% ou 1,9 milhão de pessoas a mais nesta situação.
Ou seja, a insuficiência de horas trabalhadas atinge quase metade (42%) da ocupação criada no período. Resultado: o rendimento real habitualmente recebido continua no vermelho (-6,6%), bem como a massa de rendimentos (-1,7%), que é a base do consumo das famílias.
A reação da ocupação no 2º trim/21 foi puxada por atividades muito impactadas pelas medidas restritivas de combate à pandemia, refletindo suas bases deprimidas de comparação, como mostram as variações interanuais a seguir. Ainda assim, o sinal positivo foi difundido, marcando a trajetória de quase todas as atividades acompanhadas pelo IBGE.
• Ocupação total: -8,9% no 4º trim/20; -7,1% no 1º trim/21 e +5,3% no 2º trim/21;
• Ocupação na indústria: -10,3%; -7,7% e +2,9%, respectivamente;
• Ocupação em transportes: -12,8%; -11,1% e +3,4%;
• Ocupação no comércio: -10,9%; -9,4% e +4,6%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: -27,7%; -26,1% e +7,7%;
• Ocupação em serviços domésticos: -22,3%; -17,3% e +9,0%;
• Ocupação na construção: -11,8%; -5,7% e +19,6%, respectivamente.
A reação mais forte coube ao emprego na construção, de +19,6%, após uma sequência de cinco trimestres negativos. Em seguida, vieram ramos de serviços que estiveram entre as perdas mais agudas durante os piores momentos da pandemia, como serviços domésticos e de alojamento e alimentação, que agora no 2º trim/21 reagiram com altas de +9% e +7,7%, respectivamente.
Outros setores que conseguiram ampliar postos de trabalho em ritmo superior à média geral foram serviços de informação e comunicação (+7,3% ante abr-jun/20) e agricultura (+11,8%).
Já setores com dinamismo mais associado à evolução do mercado doméstico de bens também ampliaram vagas, mas em ritmo inferior ao total da ocupação. Foram os casos do comércio, cuja ocupação registrou +4,6%, dos serviços de transportes, com +3,4%, e da indústria, com +2,9%.
Quem deixou a desejar, por sua vez, foram os segmentos de outros serviços, que reúne um conjunto diversificado de atividades, que a despeito de perdas de dois dígitos do 2º trim/20 ao 1º trim/20 teve variação de mero +0,2% na ocupação em abr-jun/21, e de administração pública, saúde e educação (-1,4% ante 2º trim/20), devido a bases mais elevadas de comparação dada a exigência de pessoal adicional no início da pandemia.
Conforme os dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 14,1% no trimestre compreendido entre abril de 2021 e junho de 2021. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, janeiro de 2020 a março de 2021, houve retração de 0,6 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 0,8 p.p., quando registrou 13,3%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.515,00, apresentando variação negativa de 3,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (jan-fev-mar). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano passado houve declínio de 6,6%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 215,5 bilhões no trimestre que se encerrou em junho, registrando variação negativa de 0,6% no trimestre imediatamente anterior (jan-fev-mar) e variação negativa de 1,7% quanto ao mesmo trimestre do ano passado (R$ 219,3 bilhões).
No trimestre de referência a população ocupada registrou 87,8 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 2,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (jan-fev-mar) e incremento de 5,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (83,3 milhões de pessoas ocupadas).
Frente ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 2,4%, com 14,4 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado observou-se expansão de 12,9%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 102,2 milhões de pessoas, representando crescimento de 1,8% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 6,3% frente ao mesmo trimestre do ano passado (96,1 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, 9 dos 10 agrupamentos analisados apresentaram variações positivas, sendo eles: Construção (19,6%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (11,8%), Serviços domésticos (9,0%), Alojamento e alimentação (7,7%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (7,3%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (4,6%), Transporte, armazenagem e correios (3,4%), Indústria geral (2,9%) e Outros serviços (0,2%). Na mesma base de comparação, o agrupamento de Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais apresentou variação negativa de 1,4%.
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registraram-se acréscimos em 5 categorias analisadas, sendo elas: trabalho privado sem carteira (16,0%), trabalhador por conta própria (14,7%), trabalho familiar auxiliar (8,7%), trabalho doméstico (8,4%) e trabalho privado com carteira (0,1%). Em sentido oposto, as seguintes categorias apresentaram retrações: setor público (-4,4%) e empregador (-4,2%).