Análise IEDI
Evolução do crédito e elevação dos juros
Segundo os dados do Banco Central divulgados hoje, o crédito continuou se expandindo a um ritmo robusto na entrada da segunda metade do ano. Em jul/21, o total das concessões registrou alta de +20,6% ante jul/20, já descontada a inflação medida por meio do IPCA. Desde abr/21 as taxas de crescimento têm sido de dois dígitos.
Este desempenho, que também reflete fracas bases de comparação, vem sendo suportado pelas operações livremente pactuadas entre as partes (+23,7% ante jul/20), já que o crédito oficial (+5,7%), que no início da crise da Covid-19 assumiu mais rapidamente um comportamento anticíclico, mostra agora nítida desaceleração.
A única fração do mercado de crédito em declínio é a dos empréstimos oficiais às empresas e isso desde o 2º trim/20. Mesmo assim, como mostram as variações reais a seguir, as concessões totais às empresas continuam evoluindo favoravelmente.
• Concessões reais totais: -1,6% no 1º trim/21; +33,1% no 2º trim/21 e +20,6% em jul/21;
• Concessões reais às empresas: -7,6%; +23,8% e +13,4%, respectivamente;
• Concessões reais às famílias: +4,3%; +42,6% e +27,6%, respectivamente.
No caso do crédito às famílias, em que os empréstimos oficiais continuam se expandindo na esteira no financiamento habitacional, as taxas de crescimento estão no positivo desde o último trimestre de 2020 e são mais elevadas do que as do crédito às empresas. Agora em jul/21 as concessões totais a pessoas físicas registraram alta de +27,6% frente ao mesmo período do ano anterior.
A continuidade destas trajetórias positivas pode, contudo, ser negativamente afetada pela nova fase de elevação da taxa básica de juros (Selic), que tende a ser repassada gradualmente para as taxas dos empréstimos. De jan/21 a jul/21, os juros Selic mais do que dobraram, passando de 2% a.a. para 4,25% a.a. e seguiram em alta em ago/21 (5,25% a.a.), em reação ao avanço recente da inflação.
Por ora, os juros médios das operações livres, que refletem melhor as condições de mercado, ainda não mostraram elevação. Estavam em 28,4% a.a. em jan/21 e ficaram em 28,9% a.a. agora em jul/21. Mas há sinais de aumento em algumas modalidades importantes para pessoas jurídicas.
São os casos, por exemplo, das taxas médias de juros para desconto de duplicada, que em jul/21 (12,2% a.a.) foi a mais elevada desde jul/20; para conta garantida (36,3% a.a.), que só não foi maior do que a de mar/20, e para o financiamento de exportação (10,4% a.a.), que não era tão alta em termos nominais desde nov/18.
A inadimplência, por sua vez, permanece em torno de 3% da carteira total de operações livres desde o final do ano passado, sem aumentos nem no segmento corporativo nem no crédito às famílias ao longo de 2021.
Depois de ter atingido patamar de 2,4% em abr/20, o pior mês da crise da Covid-19, a inadimplência das empresas recuou para 1,6% em jul/21, segundo os dados do Banco Central. No crédito livre às pessoas físicas, diminuiu de 5,5% em abr/20 para 4,1% em jul/21.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central do Brasil hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$4,3 trilhões em julho, apresentando crescimento de 1,2% em relação ao mês imediatamente anterior. Por sua vez, o saldo de crédito a pessoas físicas alcançou variação positiva de 1,5% (R$2,4 trilhões) frente ao mês imediatamente anterior e a carteira de pessoas jurídicas apresentou variação positiva de 0,8% na mesma comparação, alcançando R$1,8 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (julho de 2020), o saldo total de crédito registrou incremento de 16,2%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$2,5 trilhões, com variação positiva de 0,9% em relação ao mês anterior e expansão de 16,7% quando comparado com julho de 2020. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$1,3 trilhão, aferindo expansão de 1,6% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 20,1% quando comparado com o mês de julho de 2020. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se montante da ordem de R$1,2 trilhão, apresentando expansão de 0,1% em relação ao mês anterior e variação positiva de 13,1% na comparação com o mesmo período de 2020.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,8 trilhão para julho de 2021, em termos nominais, indicando expansão de 15,5% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 1,6% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$1,1 trilhão, apresentando incremento de 16,0% quando comparado ao mês de julho de 2020. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$677,3 bilhões, havendo um acréscimo de 14,6% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Para o mês de julho de 2021, foram concedidos R$418,4 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 21,3% frente ao montante de R$344,8 bilhões observado em julho de 2020. Deste volume apresentado em julho de 2021, R$356,2 bilhões foram originados de recursos livres e R$62,2 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, variação positiva de 24,4% para recursos livres e incremento de 6,3% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$138,0 bilhões), cartão de crédito (R$133,1 bilhões), crédito não rotativo (R$52,2 bilhões), crédito pessoal (R$36,0 bilhões) e cheque especial (R$27,9 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$50,5 bilhões), capital de giro (R$20,1 bilhões), cheque especial (R$16,1 bilhões), conta garantida (R$9,8 bilhões) e cartão de crédito (R$7,3 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$16,3 bilhões), financiamento imobiliário (R$15,9 bilhões), microcrédito (R$1,4 bilhão) e BNDES (R$496,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$5,5 bilhões), o BNDES (R$3,0 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$1,3 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$1,0 bilhão, o que significa um acréscimo nominal de 19,8% frente a julho de 2020. As maiores expansões ficaram para: serviços financeiros (64,3%), varejo – bens duráveis (44,9%), comércio geral – bens intermediários (34,3%), comércio varejo – bens não-duráveis (32,4%), comércio atacado – bens duráveis e não duráveis (31,8%), comércio (31,8%), demais serviços prestados às famílias (25,9%), outros serviços (22,3%), transporte via terrestre (18,8%) e transporte (11,9%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$724,8 bilhões, variação positiva de 5,3% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$36,7 bilhões, variação positiva de 28,8% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mês de julho de 2020.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$1,871 trilhão, representando 43,9% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$1,721 trilhão, representando 40,4%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$671,8 bilhões, representando por sua vez 15,7% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em julho alcançou 20,4% a.a., apresentando variação positiva de 0,4 p.p. no mês e aumento de 1,3 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 14,6 p.p., o que representou aumento de 0,2 p.p. no mês e declínio de 1,5 p.p. em doze meses.