Análise IEDI
O peso da piora da pandemia
O novo surto de Covid-19 e o endurecimento das medidas restritivas cobraram em mar/21 um preço elevado do setor de serviços, que apresentou seu pior desempenho desde abril do ano passado. A queda foi de -4,0% frente a fev/21, já descontados os efeitos sazonais.
Embora não tenha sido o único a sentir o impacto negativo da deterioração sanitária e da suspensão dos auxílios emergenciais às famílias e às empresas, já que a indústria e o varejo também ficaram no vermelho, o setor de serviços mal havia retomado o patamar de faturamento pré-pandemia em fevereiro último e, em mar/21, voltou a submergir.
Em comparação com fev/20, isto é, antes dos choques iniciais da Covid-19, o nível de faturamento real dos serviços ficou 2,8% abaixo em mar/21. A indústria e o comércio varejista, a seu turno, ficaram acima deste patamar a maior parte da segunda metade de 2020 e só perderam este diferencial positivo na entrada de 2021. Isso sugere que para os serviços, a crise só deve passar de fato com o avanço da vacinação e o total controle da pandemia.
Ainda em relação aos dados com ajuste sazonal, que dão o tom mais de curto prazo do setor, o recuo de mar/21 foi acompanhado pela maior parte dos ramos de serviços: 3 dos 5 identificados pelo IBGE ficaram no vermelho, com destaque para os serviços prestados às famílias, que, como mostram as variações a seguir, foram os que mais caíram.
• Serviços – total: +0,3% em jan/21; +4,6% em fev/21 e -4,0% em mar/21;
• Serviços prestados às famílias: -2,6%; +8,7% e -27,0%, respectivamente;
• Serviços de informação e comunicação: -0,8%; +0,1% e +1,9%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: +2,1%; +3,3% e -1,4%;
• Transportes, armazenagem e correios: +3,1%; +4,2% e -1,9%;
• Outros serviços: -8,2%; +3,3% e +3,7%, respectivamente.
A queda de -27,0% nos serviços prestados às famílias se aproximou muito daquela de mar/20, de -31,7%, com ajuste sazonal, e foi ensejada por perdas expressivas em seus dois componentes: serviços de alojamento e alimentação (-28%) e outros serviços pessoais (-7,2%). Com isso, este ramo ficou 44,4% abaixo do pré-crise, algo comparável apenas ao segmento de transporte aéreo (38,2% abaixo), fortemente prejudicado pela redução da mobilidade das pessoas.
Os demais ramos que ficaram no negativo na passagem de fev/21 para mar/21 não tiveram uma performance tão negativa e, antes disso, vinham acumulando uma sequência de meses de crescimento. Foram os casos de serviços profissionais, administrativos e complementares e serviços de transporte, sendo que este último ramo conseguiu se manter em um patamar de faturamento real superior ao de fev/20 (+1,4%), diferentemente dos serviços profissionais (-3,6%), cuja reação nunca foi suficiente para tanto.
Entre os ramos resilientes, estão os serviços de informação e comunicação, cuja demanda tende a ser beneficiada pelos períodos de maior isolamento social e home office, e outros serviços, em que o IBGE reúne um conjunto diversificado de atividades, como financeiras, imobiliária, etc.
Estes dois ramos também são aqueles que melhor se encontram em relação ao quadro pré-pandemia: em mar/21, ambos ficaram 4,7% acima do faturamento de fev/20. Além disso, estão entre as maiores altas em relação ao mesmo período do ano passado: +6,2% no caso de informação e comunicação e +7,3% no caso de outros serviços, enquanto o setor de serviços como um todo, muito ajudado por bases baixas de comparação, registrou variação de +4,5%.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de março, o volume de serviços prestados apresentou retração de 4,0% frente a fevereiro de 2021, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (março/2020), aferiu-se incremento de 4,5%. No acumulado em 12 meses e para o acumulado no ano (março) registraram-se decréscimos de 8,0% e 0,8%, respectivamente.
Para a comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, dois dos cinco segmentos analisados apresentaram incrementos : outros serviços (3,7%) e serviços de informação e comunicação (1,9%). Os três segmentos restantes apresentaram retrações na mesma base de comparação: serviços prestados às famílias (-27,0%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-1,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,4%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se redução de 22,0% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com março de 2020, quatro dos cinco seguimentos analisado apresentaram expansões: transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (8,8%), outros serviços (7,3%), serviços de informação e comunicação (6,2%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,7%). O único segmento analisado que apresentou retração nessa base de comparação foram os serviços prestados às famílias (17,1%). Já para o segmento de atividades turísticas houve retração de 19,1%, frente a março de 2020.
Na análise para o acumulado do ano (janeiro-fevereiro), três dos cinco segmentos apresentaram expansões: serviços de informação e comunicação (3,5%), outros serviços (1,9%) e transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (1,7%). Por outro lado, os dois segmentos restantes registraram retrações: serviços prestados às famílias (-25,4%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-3,1%). Para a mesma comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu variação negativa de 27,4%.
Na análise por unidade federativa, no mês de março de 2021 comparando ao mesmo mês do ano anterior (março/2020), aferiu-se incrementos do volume de serviços em 19 dos 27 estados, sendo os maiores: Mato Grosso (38,1%), Mato Grosso do Sul (19,5%), Tocantins (15,9%), Pará (14,4%), Goiás (13,3%) e Santa Catarina (13,2%). Em sentido oposto, as 8 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Piauí (-6,7%), Distrito Federal (-4,9%), Sergipe (-4,7%)., Pernambuco (-4,1%), Ceará (3,1%) e Alagoas (-2,9%).
Por fim, na análise do acumulado no ano em 2021, 12 dos 27 estados apresentaram incrementos, sendo os mais expressivos: Mato Grosso (10,3%), Santa Catarina (9,4%), Mato Grosso do Sul (6,7%), Pará (6,1%), Minas Gerais (6,3%) e Roraima (5,2%). Por outro lado, as 15 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Bahia (-9,8%), Rio Grande do Norte (-8,7%), Pernambuco (-8,5%), Sergipe (-8,2%), Alagoas (-8,0%), Ceará (-7,7%) e Distrito Federal (-7,5%).