Análise IEDI
Mês de acomodação
Embora novembro tenha se firmado, nos últimos anos, como um mês de bons resultados para do comércio varejista, devido às promoções que passaram a caracterizá-lo, a evolução do setor em nov/20 foi de quase estagnação. Na série com ajuste sazonal, as vendas reais variaram -0,1% ante out/20 e apenas +0,6% em seu conceito ampliado, que inclui os segmentos de veículos, autopeças e material de construção.
Em comparação com o ano anterior, continuou havendo expansão das vendas, mas em ritmo mais moderado do que nos meses anteriores. Em seu conceito restrito, registrou +3,4% ante nov/19, depois de ter avançado +7,3% e +8,4% em set/20 e out/20, respectivamente. Em seu conceito ampliado, ficou em +4,1%, também abaixo dos dois meses anteriores (+7,4% e +6,1%).
Este fraco desempenho pode estar associado com a própria pandemia, levando a liquidações menos agressivas em nov/20. Além disso, é difícil não considerar os efeitos negativos da aceleração da inflação no final do ano, sobretudo de alimentos, que retirou poder de compra da população, assim como a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300. Isso tudo em um contexto de elevado desemprego.
Outro fator é que, dada a reação dos meses anteriores, as bases de comparação já foram recompostas, eliminando efeitos estatísticos que vinham ajudando na obtenção de taxas mais robustas de crescimento. Vale lembrar que o varejo ampliado está 5,2% acima do nível de vendas pré-pandemia.
Em 40% dos dez ramos do varejo acompanhados pelo IBGE, os resultados foram negativos na passagem de out/20 para nov/20, como indicam as variações com ajuste sazonal a seguir. Se comparado com nov/19, esta proporção do setor no vermelho chegou a 50%. Ou seja, para algumas atividades do setor o quadro foi ainda mais adverso.
• Varejo restrito: +0,4% em set/20; +0,8% em out/20 e -0,1% em nov/20;
• Varejo ampliado: +1,0%; +2,1% e +0,6%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -0,5% +0,8% -2,2%
• Tecidos, vestuário e calçados: -2,9%; +6,8% e +3,6%;
• Móveis e eletrodomésticos: -1,5%; -1,4% e -0,1%;
• Veículos e motos, partes e peças: +5,2%; +4,8% e +3,5%;
• Material de construção: +2,5%; -0,5% e -0,8%.
O resultado negativo nas vendas de móveis e eletrodomésticos e de material de construção tende a ser uma acomodação, depois do crescimento recente que levou ambos os segmentos a patamares superiores ao pré-pandemia: 17,9% e 18,1% acima de fev/20. São dois ramos que contornaram bem as dificuldades do ano passado e terminaram 2020 no azul, já que até nov/20 acumulam alta de +11,6% e +10,1%. Se houve crise para estes ramos, foi passageira.
Outros dois segmentos do varejo também se saíram bem em 2020, pois, diferentemente da grade maioria das atividades econômicas, foram favorecidas pelo quadro pandêmico. É o caso de artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria, que estão 13% acima de fev/20 e acumulam alta de +7,7% em jan-nov/20; e de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, com vendas 3,1% acima de fev/20 e alta de +5% em jan-nov/20. Algo semelhante também ocorre com outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento.
Em contrapartida, o quadro ainda está longe de satisfatório para o ramo de combustíveis, ainda muito afetado pelo baixo nível de atividade econômica geral, e o ramo de veículos e autopeças. No primeiro caso, houve declínio de -0,4% em nov/20 ante out/20, permanecendo 5% aquém do patamar pré-pandemia e acumulando perda de -10% em jan-nov/20.
No caso das vendas de veículos e autopeças, embora estejam 1,9% abaixo de fev/20, conseguiram se manter no positivo na passagem de out/20 para nov/20, mas não deixou de apresentar certa desaceleração. No acumulado do ano até novembro, a queda chega a -15,1% frente a igual período do ano anterior.
A partir dos dados de novembro de 2020 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou decréscimo de 0,1% frente ao mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de novembro de 2019, houve crescimento de 3,4%. Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se variação positiva de 1,3%, enquanto o acumulado no ano apresentou variação positiva de 1,2%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se variação positiva de 0,6% em relação a outubro de 2020, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mês de novembro de 2019, houve acréscimo de 4,1%. Para o acumulado dos últimos 12 meses verificou-se decréscimo de 1,3% e o acumulado no ano registrou variação negativa de 1,9%
A partir de dados dessazonalizados, cinco dos oito setores analisados registraram variações positivas em comparação ao mês imediatamente anterior: livros, jornais, revistas e papelaria (5,6%), tecidos, vestuário e calçados (3,6%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (3,0%) artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (2,6%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,4%). Nessa base de comparação, os três setores restantes apresentaram variações negativas: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,2%), combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e móveis e eletrodomésticos (-0,1%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se incremento de 0,6%, de maneira que o setor de veículos, motos, partes e peças registrou variação positiva de 3,5%, enquanto material de construção obteve decréscimo de 0,8%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (novembro de 2019), registrou-se variação positiva em três das atividades analisadas: móveis e eletrodomésticos (17,8%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (16,2%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (11,7%). Por outro lado, houve decréscimo nos cinco setores restantes: livros, jornais, revista e papelaria (-15,3%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-9,9%), combustíveis e lubrificantes (-6,7%), tecidos, vestuário e calçados (-4,9%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,7%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se variação positiva de 4,1%, de modo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou expansão de 0,8% e o setor de material de construção obteve variação positiva de 17,0%.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-novembro de 2020), aferiu-se variação positiva de 1,2% no comércio varejista, com crescimento em quatro dos oito segmentos analisados: móveis e eletrodomésticos (11,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (7,7%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (5,0%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,6%). Em sentido oposto, os demais segmentos analisados apresentaram retrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-29,7%), tecidos, vestuário e calçados (-25,1%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-16,6%) e combustíveis e lubrificantes (-10,0%). Para o comércio varejista ampliado houve variação negativa de 1,9% no período, sendo que veículos e motos, motocicletas, partes e peças apresentou variação negativa de 15,1% e material de construção uma variação positiva de 10,1%.
Por fim, comparando novembro de 2020 com o mesmo mês do ano anterior, 19 das 27 unidades federativas apresentaram acréscimos no volume de vendas do comércio varejista, sendo as maiores: Acre (20,2%), Pará (16,5%), Piauí (14,6%), Rondônia (14,4%), Maranhão (13,3%), Amapá (11,6%) e Amazonas (9,6%). Por outro lado, as oito unidades federativas restantes apresentaram variações negativas: Tocantins (-7,5%), Paraíba (-5,1%), Goiás (-5,0%), Distrito Federal (-3,2%), Rio Grane do Sul (-2,2%), Paraná (-1,2%), Bahia (-0,7%) e Rio Grande do Norte (-0,6%).