Análise IEDI
Desemprego em ascensão
O desemprego continua em elevação no país, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE, o que pode refrear a recuperação da economia, sobretudo, em um contexto de redução do auxílio emergencial às famílias e das dificuldades de sua renovação em 2021.
No 3º trim/20, a taxa de desocupação atingiu 14,6%, a mais elevada de toda a série histórica da Pnad contínua, iniciada em 2012. O contingente de desocupados, que soma 14,1 milhões de pessoas, avançou +12,6% frente ao mesmo período do ano anterior.
Em determinadas localidades, contudo, a taxa de desocupação chega a níveis muito superiores, como no Nordeste, onde se encontra em 17,9%, e mesmo no Sudeste (15,4%), cujos principais centros urbanos apresentam atividades de serviços bastante diversificadas que ainda não podem ser plenamente normalizadas e, por isso, continuam prejudicando o emprego.
Outros dados também sugerem a gravidade do quadro. É o caso do desalento, isto é, daquelas pessoas que pararam de buscar uma colocação depois de repetidos insucessos, que aumentou +24,7% ante o 3º trim/19. O desalentado de hoje tende a ser o desempregado de amanhã, se a recuperação econômica não for robusta o suficiente.
Há também o caso de pessoas que buscam emprego mas que se veem impedidas de trabalhar por diferentes motivos, como por exemplo não ter com quem deixar os filhos. O contingente destas pessoas devido à pandemia, com suspensão de aulas presenciais, creches etc., mais do que dobrou entre o 3º trim/19 e o 3º trim/20.
Quanto à população ocupada, seu número caiu -12,1% em relação ao mesmo período do ano passado, o equivalente a 11,3 milhões de ocupados a menos. As variações interanuais a seguir mostram a evolução recente do emprego em diferentes setores acompanhados pelo IBGE.
• Ocupação total: +2,0% no 4º trim/19; -0,2% no 1º trim/20; -10,7% no 2º trim/20 e -12,1% no 3º trim/20;
• Ocupação na indústria: +3,3%; +1,5%; -10,5% e -12,2%, respectivamente;
• Ocupação na construção civil: +0,2%; -2,1%; -19,4% e -16,6%;
• Ocupação no comércio: +1,5%; -0,9%; -13,0% e -13,5%
• Ocupação em alojamento e alimentação: +5,2%; -1,3%; -25,9% e -29,9%;
• Ocupação em info., comunicação, ativ. Financeiras etc.: +2,1%; +1,5%; -4,2%; -6,5%;
• Ocupação em outros serviços: +4,5%; +2,1%; -17,5% e -20,8%, respectivamente.
Todas as dez atividades econômicas identificadas tiveram redução do número de ocupados no 3º trim/20 frente ao mesmo período do ano anterior. Em 6 delas o ritmo de declínio foi mais acentuado do que no total geral. Em 8 delas houve piora adicional em comparação ao resultado do 2º trim/20, a despeito dos sinais de reativação da economia.
Na indústria, a pandemia interrompeu uma trajetória promissora do emprego no final do ano passado e início de 2020. A retração no 3º trim/20, de dois dígitos, ficou no mesmo patamar daquela do total geral da economia, implicando uma perda de 1,47 milhão de postos de trabalho frente ao 3º trim/19.
Entre os setores com as quedas mais acentuadas na ocupação estão os serviços intensivos em mão de obra, como alojamento e alimentação, serviços domésticos e outros serviços, ou aqueles associados à mobilidade, como transportes. O comércio e a construção também apresentam quedas acentuadas.
Entre os poucos casos de declínio mais brando, estão a agropecuária, a administração pública, defesa e serviços sociais e, em menor medida, os serviços de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre julho e agosto foi de 14,6%. Em relação ao trimestre móvel anterior sem sobreposição (abril a junho) verificou-se variação positiva de 1,3%. Na comparação com mesmo trimestre do ano anterior (jul-ago-set) houve variação de 2,8%. Frente ao terceiro trimestre de 2019, apresentaram-se as seguintes variações das taxas de desocupação nas regiões: Nordeste (9,5%), Sudeste (16,4%), Sul (7,4%), Norte (5,7%) e Centro-Oeste (16,0%).
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.554,00, representando incremento de 1,4% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$2.519,00) e variação positiva de 8,3% quando comparado ao mesmo trimestre de referência do ano passado (R$2.359,00). Na comparação regional do trimestre com o mesmo trimestre do ano anterior, as maiores taxas de crescimento dos rendimentos observados foram nas regiões Sudeste (10,9%) e Centro-Oeste (6,8%), e as menores taxas foram registradas nas regiões Norte e Nordeste (ambas com variação de 4,3%). Para o Brasil, o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido (R$2.480,00) apresentou crescimento de 8,7%, frente ao mesmo trimestre de 2019 e registou incremento de 1,4% frente ao trimestre anterior.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 205,30 bilhões no trimestre encerrado em setembro, incremento de 0,1% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$205,1 bilhões) e variação negativa de 4,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$215,9 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 82,5 milhões de pessoas, retração de 1,1% na comparação com o trimestre anterior sem sobreposição (83,3 milhões de pessoas). Sobre o mesmo trimestre do ano anterior registrou-se variação negativa de 12,1% (93,8 milhões de pessoas). Nesta última base de comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho aferida reduziu-se em 9,2% e considerando o trimestre anterior sem sobreposição, houve variação de 0,4%, atingindo uma população na força de trabalho de 96,6 milhões. O número de desocupados também aumentou em 10,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior, alcançando a marca de 14,1 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, as dez categorias pesquisadas apresentaram retrações: alojamento e alimentação (-29,9%), serviços domésticos (-26,5%), outros serviços (-20,8%), construção (-16,6%), transporte, armazenagem e correios (-15,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-13,5%), indústria (-12,2%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-6,5%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,7%) e administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (1,9%).
Por fim, houve acréscimo em uma das sete posições na ocupação analisadas frente ao mesmo trimestre do ano anterior: setor público (1,2%). Nas demais posições verificou-se retrações na mesma base de comparação: trabalho doméstico (-26,5%), trabalho privado sem carteira (-23,9%), empregador (-11,6%), trabalho privado com carteira (-11,2%), trabalhador por conta própria (-10,8%) e trabalho familiar auxiliar (-5,9%).