Análise IEDI
O retorno ao pré-pandemia
Depois de cinco meses consecutivos de crescimento, a indústria conseguiu em set/20 compensar integralmente as perdas ocorridas no bimestre mar-abr/20. A alta foi de +2,6% na passagem de agosto para setembro, já descontados os efeitos sazonais. Com isso, a produção industrial atingiu um nível 0,2% acima daquele de fev/20, isto é, antes do choque da Covid-19.
Cumprida esta etapa, é tempo de olhar para frente. O importante agora é que o setor não caia em um padrão de baixo crescimento, pois ainda está longe dos patamares de produção anteriores à crise de 2014/2016 (cerca de 16% abaixo) e, principalmente, porque a indústria é uma peça-chave para alavancar a recuperação do PIB e a geração de empregos de qualidade e para equilibrar as contas públicas por meio da arrecadação de impostos.
Para isso, alguns desafios precisam ser superados, como a redução do valor do auxílio emergencial às famílias no último trimestre do ano, o desemprego elevado e o maior endividamento das empresas, bem como a ocorrência de uma segunda onda de contágio em certas partes do mundo, como na Europa, que pode vir a agravar ainda mais o desempenho de nossas exportações de bens industriais.
Por ora, a contar pelos dados de set/20 os sinais positivos permanecem bastante difundidos. Em comparação com ago/20, já descontados os efeitos sazonais, todos os macrossetores industriais registraram crescimento, como mostram as variações a seguir. Entre os ramos, dos 26 acompanhados pelo IBGE, 22 ficaram no azul (85% do total).
• Indústria geral: +8,6% em jul/20; +3,6% em ago/20 e +2,6% em set/20;
• Bens de capital: +15,8%; +4,7% e +7,0%, respectivamente;
• Bens intermediários: +10,5%; +2,2% e +1,3%;
• Bens de consumo duráveis: +34,7%; +11,0% e +10,7%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +5,1%; +1,4% e +3,7%, respectivamente.
A despeito da sequência de resultados favoráveis nos últimos meses, este movimento ainda se mostra insuficiente para cobrir o choque da Covid-19 em uma parcela significativa da indústria. Este é mais um motivo do porquê é importante que o dinamismo industrial supere os desafios que possa encontrar pela frente e não perca força neste último trimestre do ano.
Na comparação de set/20 com fev/20, metade dos macrossetores não retomaram o patamar pré choque da Covid-19: bens de capital estão 5,5% abaixo e bens de consumo duráveis, 2,8% abaixo. Apesar disso, mantido o ritmo recente de crescimento, esta defasagem será eliminada em breve.
Setorialmente, 42% dos ramos industriais permanecem abaixo do nível de produção de fev/20, com destaque para impressão e reprodução de gravações (-32,1%), vestuário e acessórios (-17,1%) e veículos (-12,8%). Ao menos estes dois últimos ramos têm conseguido apresentar taxas de crescimento de dois dígitos, estando entre os ramos que melhor se saíram na passagem de ago/20 para set/20. A produção de veículos subiu +14,1% e a de vestuário, +16,5%, com ajuste sazonal.
Entre os ramos que já superaram o choque da Covid-19 estão equipamentos de informática e eletrônicos (18,3% acima de fev/20), fumo (+16,1%), minerais não metálicos (+9,8%), produtos de madeira (+9,5%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+9,1%).
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de agosto divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou crescimento de 3,2% frente ao mês de julho de 2020, segundo dados livres de influência sazonal. Para o acumulado de doze meses registrou-se variação negativa de 5,7% e no acumulado do ano houve retração de 8,6%. Em comparação a agosto de 2019, aferiu-se decréscimo de 2,7%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, os cinco segmentos analisados apresentaram variações positivas: bens duráveis (18,5%), bens de consumo (2,9%), bens de capital (2,4%), bens intermediários (2,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,6%).
No resultado observado na comparação com o mês de agosto de 2019, apenas o segmento de bens intermediários apresentou variação positiva, de 1,9%. Nos demais seguimentos analisados houve decréscimos na mesma base de comparação: bens de capital (-16,9%), bens duráveis (-7,7%), bens de consumo (-7,1%) e bens semiduráveis e não duráveis (-7,0%). Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registaram-se retrações nos cinco segmentos analisados: bens duráveis (-18,8%), bens de capital (-14,3%), bens de consumo (-8,1%), bens semiduráveis e não duráveis (-5,2%) e bens intermediários (-3,2%).
Setores. Na comparação com julho de 2020, houve variação positiva no nível de produção em 16 dos 26 ramos pesquisados, segundo dados livres de influências sazonais. As maiores variações positivas foram registradas nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (19,2%), couro, artigos de viagem e calçados (14,9%), confecção e artigos de vestuário e acessórios (11,5%), produtos têxteis (9,1%), produtos diversos (8,1%), móveis (6,0%), produtos de borracha e matéria plástico (5,8%), produtos de minerais não metálicos (4,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e bicombustível (3,9%).
Em sentido oposto, os demais setores registraram variações negativas na mesma base de comparação: perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-9,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,7%), impressão e reprodução de gravações (-7,0%), outros equipamentos de transporte (-4,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,1%), produtos do fumo (-2,5%), bebidas (-2,5%), outros produtos químicos (-1,8%), produtos de madeira (-1,8%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-0,5%).
Na comparação do acumulado do ano de 2020 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou variação positiva em 6 dos 26 ramos analisados: produtos alimentícios (5,0%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,1%), produtos do fumo (3,6%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (3,4%),produtos farmoquímicos e farmacêuticos (0,9%) e celulose, papel e produtos de papel (0,4%).
Por outro lado, os setores restantes registraram variações negativas na mesma base de comparação, sendo as mais expressivas observadas em: veículos automotores, reboques e carrocerias (-39,9%), impressão e reprodução de gravações (-37,7%), confecção de artigos e vestuário e acessórios (-34,7%), outros equipamentos de transporte (-32,9%), couro, artigos de viagem e calçados (-32,2%), produtos diversos (-21,9%), produtos têxteis (-17,1%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-16,9%), máquinas e equipamentos (-14,5%), metalurgia (-14,2%), móveis (-11,1%), produtos de minerais não-metálicos (-9,6%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,6%).