Análise IEDI
Desemprego ainda em elevação
A economia brasileira tem apresentado, nos últimos meses, sinais de recuperação até mais fortes do que muitos esperavam. Nem por isso os desafios daqui para frente são poucos. A segunda onda de contágio em algumas partes do mundo e do Brasil, a redução do valor do auxílio emergencial, a aceleração inflacionária e volatilidade cambial são alguns exemplos de obstáculos que a serem superados para que o país volte a crescer de forma consistente.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE chamam atenção para outro fator: o elevado desemprego e o seu efeito sobre a massa de rendimentos, que é a base do consumo das famílias. A edição mais recente da PNAD contínua, que vai até o trimestre móvel findo em ago/20, indica uma taxa de desocupação de 14,4%, a pior taxa da série histórica.
É fato que o emprego tende a reagir com alguma defasagem nos períodos de recuperação, após meses consecutivos de aumento do ritmo de atividade econômica, mas por ora os dados da PNAD não trazem sinais favoráveis. A população ocupada continua aprofundando sua queda em comparação ao mesmo período do ano anterior, ficando em -12,8% em jun-ago/20, e o número de desempregados está em elevação, chegando a 13,8 milhões de pessoas.
Mesmo o emprego com carteira assinada, que é menos vulnerável aos efeitos da pandemia e pôde se beneficiar de programas emergenciais do governo, não escapou de forte contração. Seu nível de queda dobrou entre mar-mai/20 (-6,4%) e jun-ago/20 (-12%). O trabalho sem carteira e o trabalho doméstico ainda são os casos mais graves: -25,8% e -27,5% ante jun-ago/19, respectivamente.
Para o emprego formal, pelo menos, a pesquisa do CAGED divulgada esta semana, embora tenha metodologia diferente da PNAD/IBGE, indica reforço na criação de vagas no mês de setembro. O saldo líquido de contratações foi de 313,5 mil, alta de 28,5% frente a ago/20. Esta é uma trajetória que precisa ser mantida nos próximos meses.
Voltando à PNAD, praticamente todos os setores apresentaram agravamento de suas quedas. A ocupação recuou de modo mais intenso em ramos de serviços mais diretamente afetados pela pandemia: alojamento e alimentação, serviços domésticos e outros serviços, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Ocupação total: -10,7% em abr-jun/20; -12,4% em mai-jul/20 e -12,7% em jun-ago/20;
• Indústria: -10,5%; -12,7% e -13,4%, respectivamente;
• Construção: -19,4%; -19,7% e -19,0%;
• Comércio: -13,0%; -14,0% e -13,6%;
• Alojamento e alimentação: -26,1%; -30,0% e -31,4%;
• Outros serviços: -17,5%; -22,5% e -22,5%;
• Serviços domésticos: -24,7%; -26,9% e -27,5%, respectivamente.
Na indústria, a despeito da continuidade da retomada de suas atividades, o emprego intensificou suas perdas, chegando a -13,4% em relação a jun-ago/19. Isto é, 1,6 milhão de ocupados a menos, representando 13,6% da queda da ocupação total no período.
Com o emprego ainda no vermelho, a massa real de rendimentos da população está menor do que no ano passado e não dá indicação de reversão de sua trajetória negativa. No trimestre findo em ago/20, considerados os rendimentos efetivamente recebidos, o declínio da massa chegou a -13,1% ante jun-ago/19.
A boa notícia é que o rendimento, até então em declínio, parece ter se estabilizado, registrando variação de -0,3% em jun-ago/20. Deste modo, é a evolução do desemprego a principal responsável por comprimir a base de consumo da população.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 14,4% no trimestre compreendido entre junho e agosto de 2020. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, março de 2020 a maio de 2020, houve expansão de 1,6 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 2,6 p.p., quando registrou 11,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.542,00, apresentando variação positiva de 3,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve um incremento de 8,1%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 202,5 bilhões no trimestre que se encerrou em agosto, registrando retração de 2,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 5,7% quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 214,7 bilhões).
A população ocupada registrou 81,7 milhões de pessoas no trimestre de referência, apresentando variação negativa de 5,0% frente ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai) e retração de 12,8% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (93,6 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu crescimento de 8,5%, com 13,8 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, observou-se expansão de 9,8%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 95,5 milhões de pessoas, representando decréscimo de 3,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 10,1% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (106,2 milhões de pessoas).
Na análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, todos os agrupamentos apresentaram decréscimos: Alojamento e alimentação (-31,4%), Serviços domésticos (-27,5%), Outros serviços (-22,5%), Construção (-19,0%), Transporte, armazenagem e correios (-16,6%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-13,6%), Indústria geral (-13,4%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-6,2%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-4,3%) e Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-1,7%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo na categoria setor público (2,1%). Em sentido oposto, as demais categorias apresentaram retrações: trabalho doméstico (-27,5%), trabalho privado sem carteira (-25,8%), trabalho privado com carteira (-12,0%), trabalhador por conta própria (-11,4%), trabalho familiar auxiliar (-11,2%) e empregador (-10,2%).