Análise IEDI
Precoce acomodação
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que o setor de serviços é aquele com reação mais restringida entre os grandes setores econômicos. Em julho de 2020, enquanto a indústria registrou alta de +8% e o varejo ampliado, de +7,2%, o faturamento real dos serviços cresceu apenas +2,6% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais.
Há outros sinais de uma trajetória mais modesta nos serviços. O choque principal da Covid-19, no mês de abril, foi apenas o momento mais agudo de uma sequência de quatro meses de queda iniciada já em fev/20. Enquanto indústria e varejo acumulam três meses de recuperação, os serviços contam com apenas dois: junho e julho.
Embora no positivo, a alta de jul/20 na série com ajuste sazonal foi a metade daquela de jun/20, sinalizando precoce acomodação. Nesta entrada do segundo semestre, todos os macrossetores industriais e todos os ramos do varejo conseguiram crescer; nos serviços aqueles prestados às famílias voltou ao vermelho: -3,9% frente ao mês anterior.
Todos estes sinais sugerem que a flexibilização do isolamento social pode não ser suficiente para assegurar um dinamismo consistente dos serviços. Isso porque sem vacina ou tratamento eficazes, o distanciamento social e o medo de contágio das pessoas são obstáculos importantes à normalização dos hábitos de consumo, especialmente de serviços cujo contato ou presença física tendem a ser difíceis de serem evitados.
Além disso, os serviços estão mais distantes da integral compensação das perdas da Covid-19. A comparação entre jul/20 e fev/20, isto é, antes da pandemia atingir o país, indica uma defasagem de -12,5%. Na indústria, esta diferença é de -6% e no varejo ampliado de -2%.
Nenhum dos segmentos de serviços retomaram níveis de faturamento real pré-pandemia, mas alguns deles lograram uma performance melhor do que o agregado do setor, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir.
• Serviços – total: -1,2% em mai/20; +5,2% em jun/20 e +2,6% em jul/20;
• Serviços prestados às famílias: +3,5%; +8,4% e -3,9%, respectivamente;
• Serviços de info. e comunicação: -2,8%; +4,0% e +2,2%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: -4,0%; +1,9% e +2,0%;
• Transportes e correios: +4,4%; +7,1% e +2,3%;
• Outros serviços: -3,8%; +7,2% e +3,0%, respectivamente.
Transportes e correios é um destes segmentos com desempenho mais favorável. Já são três meses seguidos de alta, embora ainda exista uma lacuna de 14,4% para chegar ao nível de faturamento real pré-pandemia. Os transportes terrestres, que é um componente importante destes serviços, aceleraram de +3,7% para +5,8% de jun/20 para jul/20. O maior problema está no transporte aéreo, mas ao menos vem crescendo a taxas de dois dígitos (+17,1% em jul/20).
Outro destaque positivo é o segmento de outros serviços, que reúne conjunto diversificado de atividades, como serviços financeiros, agrícolas, imobiliários etc. Neste caso, a alta de jul/20 foi superior ao do total do serviços e encontra-se apenas 2,6% abaixo do nível de faturamento do pré-pandemia. Mais um mês de crescimento semelhante ao que tem apresentado e o segmento fecha esta lacuna. O mesmo pode ser dito dos serviços de informação e comunicação.
Serviços profissionais e administrativos, por sua vez, mantiveram-se no azul e no mesmo ritmo de crescimento. Aqui, porém, seu componente de serviços administrativos e complementares, que compreende atividades de baixa qualificação tercerizadas pelas empresas, tem funcionado como uma trava: não cresceu entre out/19 e mai/20, reagiu pouco em jun/20 e ficou virtualmente estagnado em jul/20 (+0,4% com ajuste). Com o avanço do trabalho remoto é possível que este fraco dinamismo se mantenha.
Por fim, os serviços prestados às famílias, em grande medida devido a alimentação e alojamento, voltaram a cair em jul/20, como mencionado anteriormente. Ainda que dificuldades não surpreendam, este é um resultado frustrante porque é o segmento que mais longe está do pré Covid-19: nada menos do que 56,6% abaixo do nível de faturamento real de fev/20.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de julho, o volume de serviços prestados apresentou expansão de 2,6% frente a junho de 2020, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (julho/2019), aferiu-se redução de 11,9%. No acumulado em 12 meses registrou-se decréscimo de 4,5% e para o acumulado do ano (janeiro-julho) observou-se variação negativa de 8,9%.
Para a comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, quatro segmentos analisados apresentaram variações positivas: outros serviços (3,0%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (2,3%), serviços de informação e comunicação (2,2%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (2,0%). O segmento analisado restante apresentou decréscimo: serviços prestados às famílias (-3,9%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se variação positiva de 4,8% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com julho de 2019, um dos cinco segmentos analisados apresentou variação positiva: a categoria outros serviços (4,1%). Em sentido oposto, os quatro segmentos restantes registraram decréscimos: serviços prestados às famílias (-54,9%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-14,6%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-11,3%) e serviços de informação e comunicação (-2,6%). Já no segmento de atividades turísticas houve retração de 56,1% frente a julho de 2019.
Na análise do acumulado no ano (janeiro-julho), um dos cinco segmentos analisados registrou variação positiva: a categoria outros serviços (4,9%). Por sua vez, os demais setores apresentaram variações negativas no período: serviços prestados às famílias (-38,2%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-11,2%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-9,0%) e serviços de informação e comunicação (-2,6%). Para a mesma comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu variação negativa de 37,9%.
Na análise por unidade federativa, no mês de julho de 2020 frente ao mesmo mês do ano anterior, aferiu-se que dois dos 27 estados apresentaram variação positiva: Rondônia (5,2%) e Mato Grosso (0,8%). Por outro lado, as 25 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Rio Grande do Norte (-28,4%), Bahia (-26,4%), Piauí (-25,8%), Alagoas (-25,8%), Ceará (-25,4%), Sergipe (-20,9%), Acre (-20,2%), Paraíba (-19,6%), Pernambuco (-18,7%), Amapá (-15,5%), Paraná (-15,4%), Tocantins (-14,9%) e Distrito federal (-14,8%).
Por fim, na comparação do acumulado no ano frente ao mesmo período do ano anterior, uma das 27 unidades federativas apresentou variação positiva: Rondônia (3,9%). Por outro lado, as 26 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Alagoas (-19,0%), Bahia (18,0%), Piauí (-17,8%), Rio Grande do Norte (-16,9%), Rio Grande do Sul (-14,4%), Ceará (-14,5%), Sergipe (-14,5%), Pernambuco (-14,1%), Roraima (-12,7%), Amapá (-12,3%), Paraíba (-12,0%) e Goiás (-9,8%).