Análise IEDI
Mais um passo na recuperação
Em julho de 2020, pelo terceiro mês consecutivo a indústria logrou ampliação de sua produção. Desta vez, a alta foi de +8% frente ao mês anterior, com ajuste sazonal, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE. O desempenho positivo deste período, contudo, conseguiu recompor apenas uma parte das perdas provocadas pela Covid-19.
O nível de produção do setor continua 6% abaixo daquele de fev/20, isto é, antes dos efeitos da pandemia no país. Mais um mês de crescimento semelhante ao que temos visto e será coberto o vale produzido no bimestre mar-abr/20. O que ainda não se sabe é qual será o padrão de crescimento a partir deste ponto. E isso é importante, porque a atual crise se sobrepôs à de 2014-2016.
Com bases de comparação mais altas e redução dos programas emergenciais do governo, o dinamismo mesmo que positivo pode vir a ser modesto. Isso porque, na ausência de vacina ou tratamento eficaz para a Covid-19, ainda haverá desdobramentos negativos da pandemia, como desemprego elevado, rendimentos mais modestos para algumas famílias, agentes endividados, comércio internacional combalido e grandes incertezas em relação futuro.
Para alguns segmentos da indústria, o retorno ao nível de produção pré-pandemia está mais distante. Em jul/20, bens de capital e sobretudo bens de consumo duráveis apresentaram expansão considerável, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, mas mesmo assim permaneceram 15,8% e 15,2% abaixo do patamar de fev/20, respectivamente.
• Indústria geral: +8,7% em mai/20; +9,7% em jun/20 e +8,0% em jul/20;
• Bens de capital: +30,7%; +13,4% e +15,0%, respectivamente;
• Bens intermediários: +5,5%; +6,0% e +8,4%;
• Bens de consumo duráveis: +110,9%; +81,5% e +42,0%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +9,4%; +8,2% e +4,7%, respectivamente.
Bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis, que tendem a oscilar com menor amplitude, devido à essencialidade de muitos de seus bens ou por incluírem setores com processo contínuo de produção, estão apenas 1,1% e 4,8% abaixo do nível anterior à Covid-19.
Dos 27 ramos industriais identificados pelo IBGE, praticamente todos cresceram na passagem de junho para julho, já descontados os efeitos sazonais. A única exceção foi o ramo de impressão e reprodução de gravações. Entre eles, cerca de 1/3 já superaram o nível de produção pré pandemia.
No positivo, nesta comparação de jul/20 com fev/20, encontram-se na liderança do ranking principalmente ramos que produzem bens essenciais ou então cuja demanda avançou em função da crise sanitária e de suas consequências sobre a organização. São os casos de bebidas (11,6% acima de fev/20), equipamentos de informática e eletrônicos (8,6% superior), produtos de limpeza e cosméticos (4,5% acima) e alimentos (3,5% superior).
No final da fila, isto é, entre os ramos que estão mais distantes do nível anterior à pandemia estão ramos diretamente afetados pela redução da mobilidade das pessoas e do isolamento social. Além disso, estes também são mercados que, em maior ou menor grau, demandam condições favoráveis de financiamento. São eles: vestuário (38,7% abaixo de fev/20), veículos (32,9% abaixo) e couros e calçados (30,7% inferior).
Apesar da maior parte da indústria estar em rota ascendente, as grandes distâncias que muitos ramos industriais ainda devem trilhar para pôr para trás o choque da Covid-19 farão de 2020 um ano de perda para o setor como um todo. No acumulado de jan-jul/20, a queda é de -9,6% frente a igual período do ano anterior. As projeções do Boletim Focus para 2020 como um todo apontavam no final de agosto para recuo de -7,4%. Se assim for, será o segundo ano seguido no vermelho, já que 2019 terminou com resultado de -1,1%.
A partir dos resultados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de julho divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou crescimento de 8,0% frente ao mês de junho de 2020, segundo dados livres de influência sazonal. Para o acumulado de doze meses registrou-se variação negativa de 5,7%, e para o acumulado do ano registrou-se retração de 9,6%. Em comparação a julho de 2019, aferiu-se decréscimo de 3,0%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, os cinco segmentos analisados apresentaram variações positivas: bens duráveis (42,0%), bens de capital (15,0%), bens de consumo (9,3%), bens intermediários (8,4%) e bens semiduráveis e não duráveis (4,7%).
No resultado observado na comparação com o mês de julho de 2019, apenas o segmento de bens intermediários apresentou variação positiva, de 1,4%. Os demais seguimentos analisados apresentaram decréscimos na mesma comparação: bens duráveis (-16,9%), bens de capital (-15,4%), bens de consumo (-7,7%) e bens semiduráveis e não duráveis (-5,2%).
Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registrou-se retrações nos cinco segmentos analisados: bens duráveis (-18,5%), bens de capital (-12,9%), bens de consumo (-7,6%), bens semiduráveis e não duráveis (-4,6%) e bens intermediários (-3,6%).
Setores. Na comparação com junho de 2020, segundo dados livres de efeitos sazonais, houve variação positiva no nível de produção em 25 dos 26 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (43,9%), produtos diversos (27,9%), produtos têxteis (26,2%), metalurgia (18,7%), outros equipamentos de transporte (16,7%), móveis (16,6%), couro, artigos de viagem e calçados (14,3%), máquinas e equipamentos (14,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (13,8%), produtos de metal (12,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,0%), produtos de madeira (10,5%), produtos de minerais não metálicos (10,4%) e produtos de borracha e matéria plástico (9,8%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2020 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou variação positiva em 6 dos 26 ramos analisados: produtos alimentícios (4,9%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (4,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (1,9%), celulose, papel e produtos de papel (0,3%) e produtos do fumo (0,3%).
Em sentido oposto, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (-42,1%), confecção de artigos e vestuário e acessórios (-36,4%), couro, artigos de viagem e calçados (-33,7%), impressão e reprodução de gravações (-33,6%), outros equipamentos de transporte (-33,2%), produtos diversos (-22,2%), produtos têxteis (-19,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-16,3%), máquinas e equipamentos (-15,7%), móveis (-15,1%), metalurgia (-15,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,0%) e produtos de minerais não-metálicos (-11,6%).