IEDI na Imprensa - IBGE aponta perda de dinamismo na produção industrial
Valor Econômico
Uma série de fatores desfavoráveis, como aumento de custos, falta de insumos e menor consumo das famílias resultaram em queda da atividade em 11 Estados
Alessandra Saraiva
A indústria brasileira apresentou sinais de perda de dinamismo em seu recorte regional, anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional), divulgada ontem. No levantamento, nove dos 15 locais pesquisados tiveram queda na produção, em setembro ante agosto. Na comparação com setembro de 2020, foram 11 locais em queda. Uma série de fatores desfavoráveis, como aumento de custos, falta de insumos e menor consumo das famílias - devido à inflação em alta e renda em baixa - levaram ao atual cenário, nas palavras de Bernardo Almeida, economista do instituto. Ele não descarta a continuidade, para os próximos meses, do atual cenário de perda de dinamismo na indústria.
Na pesquisa, o destaque negativo ficou com São Paulo, maior parque industrial do país e que representa 34% do total da atividade nacional. A produção paulista caiu 1% em setembro ante agosto, queda bem mais intensa que a da indústria nacional (-0,4%), no mesmo período. Na comparação com setembro de 2020, o recuo em São Paulo foi de 5,6%, enquanto o nacional foi de 3,9%. O IBGE informou ainda que, embora o parque paulista ainda acumule altas de 9,9% no ano e de 8,7% em 12 meses, até setembro, o Estado ainda se encontra 23,5% abaixo de seu patamar de produção mais alto, em março de 2011; e 1,4% inferior ao patamar pré-pandemia.
“Atualmente, a indústria paulista sofre com alta de custos, e com desabastecimento de matérias-primas”, diz Almeida. Esses aspectos, afirma, prejudicaram fortemente as duas indústrias de maior peso no Estado: veículos, que tem 16,1% no total da produção industrial, e alimentos, com 14,8%. Mas, segundo ele, São Paulo não foi exceção em menor ritmo de atividade, em setembro. Também chamam atenção as quedas nas indústrias de Ceará (4,4%) e Amazonas (4%), as piores em setembro ante agosto. No Ceará, contribuíram resultados ruins nas indústrias de artefatos de couro, calçados, máquinas e aparelhos elétricos, bem como setor de alimentos. No Amazonas, o desempenho negativo foi influenciado por baixas em produção de outros equipamentos de transporte e de motocicletas.
De maneira geral, segundo Almeida, é perceptível perda de dinamismo em setembro em todos os locais pesquisados. Em agosto deste ano, lembra, oito locais mostravam queda na produção industrial entre 15 pesquisados ante julho - em setembro foram nove.
Ao ser questionado sobre perspectiva de permanência do atual quadro desfavorável nos próximos meses, o técnico foi cauteloso: “Pelo que vemos, e estou baseado no que estamos vendo, o que observamos no momento, penso que essa situação ainda pode se prolongar”. Mas ressaltou a necessidade de esperar os próximos resultados.
Na pesquisa, apenas quatro locais tiveram produção industrial acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020: Santa Catarina (5,2%), Rio de Janeiro (1,7%), Paraná (1,6%) e Minas Gerais (10,2%).
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o levantamento do IBGE mostra que a grande maioria das indústrias regionais voltou a níveis de produção inferiores ao pré-pandemia. O IEDI calcula que 11 das 15 localidades ou 73% do total, estão nessa situação - sendo que, ao fim de 2020, 46% estavam nesta situação. A avaliação é de “clara involução do setor industrial brasileiro em comparação com o final de 2020”.