IEDI na Imprensa - Estoque baixo ajuda indústria, mas preço de insumos é risco para 2021
Valor Econômico
Restrição de circulação de pessoas e auxílio emergencial menor são outras ameaças
Hugo Passarelli
Com estoques baixos e ainda na esteira da retomada no segundo semestre de 2020, a indústria começa o ano com perspectivas positivas. Mas as restrições à circulação de pessoas, crescentes em meio ao avanço da pandemia, acrescentam pressão sobre o preço dos insumos e o desabastecimento da cadeia produtiva. Para parte dos analistas, ainda há o receio de perda de renda das famílias (mesmo com a reedição do auxílio emergencial), o que levaria a queda do consumo.
“A indústria ainda vem muito bem, em grande medida por esse processo de recomposição de estoques. E, com base de comparação fraca e carrego estatístico forte, não vai ser difícil o segmento ter um crescimento razoável”, diz Rodrigo Nishida, da LCA Consultores. A LCA projeta que, dentro do Produto Interno Bruto (PIB), a indústria total deve crescer 5,7% em 2021, acima do PIB geral, que deve subir 3,2%. Já a produção industrial deve avançar 6,3% no acumulado deste ano.
Com incertezas à frente sobre o processo de vacinação e controle da pandemia, o risco é de o país entrar em uma nova fase da crise, marcada por vaivém constante da economia, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). “Ainda não se pode dizer que superamos essa crise, o que fizemos foi compensar as perdas. Mesmo que, no agregado do ano, a indústria tenha algum crescimento, podemos entrar agora em um período de crescimento muito irregular, a depender da abertura ou fechamento da economia.”
Se concretizada, a dinâmica vai prejudicar o planejamento das empresas. “É prejudicial porque tira vigor e consistência da indústria, o empresário não vai saber se o desempenho de um trimestre vai se repetir. Isso atrapalha o investimento”, afirma o economista do IEDI.
No ano passado a retomada da atividade industrial no segundo semestre não foi limitada pela pandemia, observa Luana Miranda, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Vimos uma recuperação rápida do comércio e da indústria graças ao e-commerce.”. Neste ano, outra ajuda ao setor manufatureiro pode vir do cenário global, já que a vacinação e o maior crescimento em outros países podem impulsionar exportações, acrescenta ela.
Por isso, em sua avaliação, a maior preocupação com o desempenho do setor está relacionada à demanda interna. “Por mais que tenhamos renovação do auxílio emergencial, ela não será em montantes compatíveis com os do ano passado. Uma demanda doméstica menor pode afetar a recuperação da indústria”, afirma Luana.
Embora esperasse um início de ano mais fraco sem o impulso de estímulos do governo, a indústria paulista ainda relata crescimento nos primeiros meses de 2021, de acordo com a federação que reúne o setor, a Fiesp.
A avaliação geral é que, após três meses mais “complicados”, as coisas possam retomar alguma normalidade, diz André Rebelo, diretor-executivo de economia e estratégia da entidade. “Achávamos que teríamos um primeiro trimestre mais fraco, podendo ter queda na demanda da indústria, mas os dados ainda apontam continuidade no crescimento. Vamos esperar para ver.”