IEDI na Imprensa - Desafios para indústria vão muito além da retomada
Valor Econômico
Brasil perde competividade nas exportações, mostra o IEDI
Editorial
Os dados mais recentes sobre o setor industrial indicam que a recuperação, iniciada ainda no primeiro semestre de 2020, continuou nos últimos meses do ano. Segundo divulgou o IBGE na sexta-feira, pelo sétimo mês seguido, a produção da indústria nacional cresceu em novembro, com alta de 1,2% em relação a outubro. Todas as grandes categorias industriais tiveram alta frente a outubro, com destaque para a produção de bens de capital (7,4%) e bens de consumo duráveis (6,2%), que apresentaram as maiores taxas positivas.
De janeiro a novembro a indústria - o setor econômico que apresenta retomada do crescimento de forma mais expressiva - continua no vermelho, com perda de 5,5%. No acumulado em 12 meses, a queda foi de 5,2%. Mesmo com o desempenho positivo recente, a produção industrial ainda se encontra 13,9% abaixo do nível recorde, alcançado em maio de 2011.
Ou seja, há ainda um longo caminho para que a indústria volte a operar de forma plena. E existem também muitas dúvidas quanto às possibilidades de o setor manter o ritmo de expansão neste ano diante das mudanças de alguns dos fatores que constituíram exatamente a base da retomada industrial. O mais significativo é a decisão governamental de não prorrogar a concessão de ajuda emergencial para uma larga faixa da população como ocorreu no ano passado.
Com os estoques em baixa - especialmente de insumos para a própria indústria -, a produção do setor apresenta um cenário positivo de curto prazo por causa da necessidade de recomposição do nível de produtos armazenados. Mas a partir do segundo trimestre em diante o setor deve sentir mais os efeitos negativos do desemprego, da queda da renda e do recrudescimento da covid-19, fatores que podem conter o consumo das famílias.
No lado positivo estão as perspectivas de aumento das exportações industriais, por causa da esperada recuperação da economia global, e a vacinação contra a covid-19, embora esse movimento esteja atrasado no Brasil em relação a outras nações.
Tão relevante quanto acompanhar a evolução dos dados conjunturais da indústria com especial cuidado nesse momento de crise é analisar com maior profundidade a situação do setor ao longo dos últimos anos e identificar os problemas que levam o setor a exportar relativamente pouco - lembre-se que cresce a cada ano a importância das exportações agrícolas e de outras commodities como minério, em contraposição à venda ao exterior de produtos manufaturados.
A inspiração para o debate pode vir de muitas fontes, como do estudo divulgado recentemente pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) sobre o nível de complexidade das exportações brasileiras, bem como a pressão concorrencial exercida pela China nos principais mercados de nossas vendas externas de bens produzidos pela indústria.
Os dados mais recentes do levantamento do IEDI referem-se a 2018 e mostram que houve uma interrupção na trajetória contínua de perda de posição das exportações do Brasil no ranking de complexidade econômica, tendência que ocorreu entre 1995 e 2008. Depois de o país ter ocupado a 25ª posição deste ranking em 1995, recuamos à 48ª colocação em 2008 e para o 50º lugar em 2014. O Brasil passou à 49ª posição em 2018.
Segundo os analistas do IEDI, esperava-se que o país se saísse um pouco melhor devido a dois fatores. A gravidade da crise econômica de 2015-2016 e o baixo crescimento doméstico no biênio 2017-2018 exerceram pressão para que as empresas brasileiras a buscassem amenizar as perdas aumentando sua participação no mercado externo. Além disso, houve razoável depreciação do real no período (18,5% em termos efetivos reais em 2018 frente a 2014), ampliando a competitividade do produto brasileiro no exterior.
Ainda segundo a análise do IEDI, esses dados mostrariam a importância de se alavancar “a competitividade da estrutura produtiva brasileira, o que requer não só preços macroeconômicos (taxas de juros e de câmbio) favoráveis e estáveis para as exportações, mas também reformas estruturais, como a tributária, e políticas industrial, tecnológica e ambiental que respondam aos desafios das novas tecnologias e da mudança climática” além de instrumentos mais amplos de crédito.