IEDI na Imprensa - Fraco avanço da indústria paulista projeta baixo dinamismo do setor, diz IEDI
Valor Econômico
Rafael Cagnin coloca na conta da desaceleração o cenário de incertezas, com o desemprego alto e cada vez mais dúvidas sobre a continuidade de programas como o auxílio emergencial
Gabriel Vasconcelos
O avanço de 0,5% na produção da indústria de São Paulo em outubro na comparação com setembro foi definido como “muito baixo” e “preocupante” pelos economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
De acordo com Rafael Cagnin, por ser a maior e mais diversificada indústria do país, o resultado indica que a trajetória da indústria após recuperar os patamares pré-crise, de fevereiro, será de baixo dinamismo pelo menos no curto prazo, ainda que as taxas na margem sejam mantidas no campo positivo.
“Por mais que a indústria paulista já tenha superado os patamares de fevereiro desse ano, variar meio porcento pouco quando o foco das preocupações mudou. Não se trata de cobrir mais o rombo da covid-19, mas sim de começar a ver que tipo de padrão de crescimento vai se dar daqui para frente, e esse resultado de São Paulo dá uma sinalização de baixo crescimento”, continua.
De acordo com o IBGE, a indústria paulista desacelerou em outubro na comparação com setembro, quando registrara alta de 5,7% na produção. Nos quatro meses anteriores, os avanços na margem também foram bem maiores: 10,6% em maio, 10,6% em junho, 8,9% em julho e 4,5% em agosto.
Para além da acomodação da taxa, que passou a ter bases de comparação maiores após a recuperação das perdas impostas pela pandemia, Cagnin coloca na conta da desaceleração o cenário de incertezas, com o desemprego alto e cada vez mais dúvidas sobre a continuidade de programas como o auxílio emergencial. Além disso, afirma, é possível que a redução do auxílio emergencial à metade em outubro e mesmo antes da virada do mês no caso de de alguns beneficiários, tenha tido algum impacto sobre o nível de consumo. Esse cenário, diz ele, rebaixa as expectativas de demanda e travam a expansão da produção.
Essa mesma conjuntura, afirma, também se aplica à indústria de bens intermediários que, ao desacelerar, deixou desguarnecida de insumos a fabricação de produtos finais, limitando a produção. Ele cita as recentes declarações da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) sobre a iminente paralisação na fabricação de veículos devido à falta de insumos como autopeças e matérias-primas como borracha.
“Em São Paulo a indústria automobilística pesa bastante e ainda está em queda na comparação interanual. A sinalização da Anfavea sobre a falta de insumos é grave”, diz. Segundo o IBGE, o ramo automobilístico avançou no estado em outubro, ainda que menos do que nos meses anteriores da retomada.
Cagnin relaciona, ainda, a dificuldade enfrentada por outros setores intensivos em mão de obra, como vestuário. “Este e outros ramos importantes ainda não conseguiram voltar a uma trajetória consistente, em níveis anteriores à crise”, afirma.
Para o especialista, além do descompasso entre os fornecedores de insumos industriais e a demanda, que deve se ajustar nos próximos meses, um fator que ameaça interromper a retomada do setor industrial é a demora do governo em apontar um horizonte de políticas públicas garantidoras do consumo.