Carta IEDI
Na direção errada
Em abril de 2019, teve continuidade o quadro recessivo que vem se desenhando desde o final do ano passado para a indústria. Deste modo, já se espera que o resultado para o ano como um todo seja o mais fraco desde que o setor começou a recuperar suas perdas, a partir de 2017. Se isso se efetivar, estaremos dando um passo atrás, pois o resto do mundo não nos espera: a indústria global cresce e avança em direção a um novo padrão tecnológico.
Em relação ao mesmo período do ano anterior, a indústria brasileira registrou retrocesso de -3,9% em abr/19, sinalizando para a possibilidade de um resultado no 2º trim/19 pior do que no 1º trim/19 (-2,3%). Na série com ajuste sazonal, conseguiu apenas ficar virtualmente estável em abril, ao registrar +0,3% ante o mês anterior, um desempenho incapaz de fazer frente ao recuo de -1,4% de março.
Com isso, as projeções para a indústria em 2019 caminham na direção errada. Segundo a pesquisa do Boletim Focus do Banco Central, as expectativas para o crescimento da produção industrial apontavam, em 06/07/19, para uma variação de somente +0,47%, isto é, menos de 1/6 do que se esperava no início do ano (+3,04%). A perspectiva para o PIB industrial de 2019 seguiu o mesmo caminho: em quatro meses, a alta de +2,89% em 08/02/19 despencou para +0,88% em 07/06/19.
Em resumo, é nítida a deterioração do desempenho industrial. Como a indústria estabelece inúmeros e distintos vínculos com outras atividades econômicas, o retrocesso de sua recuperação pode comprometer muito o crescimento do PIB como um todo.
Aqueles ramos industriais que vinham liderando a reativação do setor desde 2017, agora estão em marcha a ré. É notadamente o caso de bens de consumo duráveis, que chegaram a crescer +13,2% em 2017 e +7,9% em 2018, mas que declinam -2,2% no acumulado de janeiro a abril de 2019.
Em parte, isso se deve à produção de automóveis, cujas taxas de crescimento de dois dígitos deram lugar à virtual estabilidade (-0,5% em jan-abr/19), ao ter suas exportações prejudicadas pela crise argentina. Mas este não é o único fator. Eletrodomésticos da linha marrom (-15,1%) e móveis (-7,0%) estão no vermelho devido ao baixo dinamismo do mercado doméstico, condicionado pelo desemprego elevado e pelo custo do crédito às famílias.
Com um recuo ainda mais agudo estão os bens de capital, que também já chegaram a liderar a recuperação industrial ao lado de bens de consumo duráveis. Em 2019 até o mês de abril acumulam queda de -3,1%, depois de terem crescido +6,2% em 2017 e +7,3% em 2018. Aqui, além da forte deterioração das expectativas dos empresários face aos percalços na condução das reformas pelo governo, também contribuíram para esta involução os níveis elevados de capacidade produtiva ociosa e escassas fontes de financiamento do investimento.
Ao lado de bens de capital, está o macrossetor de bens intermediários, com queda de -3,1% no primeiro quadrimestre de 2019 frente a igual período do ano anterior, um nível mais intenso que a indústria geral (-2,7%). A principal contribuição para este quadro vem de intermediários de alimentos (-7,4%) seguidos por celulose (-5,2%). Este macrossetor, cabe lembrar, já não tinha apresentado um resultado muito animador em 2018 como um todo (+0,2%).
Por fim, a indústria de bens semi e não duráveis registrou a retração menos intensa no acumulado dos quatro primeiros meses de 2019: -1,3% frente ao mesmo período do ano anterior, puxada pelos ramos têxtil e de vestuário, farmacêutico e de combustíveis. Este resultado, porém, se dá sobre uma outra queda, de -0,3% no acumulado de 2018 como um todo.
Desemprego muito próximo de seus patamares recordes e baixo crescimento da massa de rendimentos reais são fatores que têm prejudicado a evolução dos bens de consumo semi e não duráveis e que tampouco favorecem os ramos de bens de consumo duráveis. Além destes, há ainda um contexto internacional cada vez mais complexo diante das tensões comerciais entre EUA e China, o que fazem pesar ainda mais nossos problemas de competitividade e comprometem o recurso à exportação como meio de compensar o baixo dinamismo do mercado doméstico.
Resultados da Indústria
Em abril de 2019, a produção industrial variou +0,3% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Com isso, atingiu-se no terceiro mês do ano um nível de produção 1,0% inferior ao de dez/18. Depois de um desempenho negativo no final do ano passado, a indústria permanece no vermelho neste início de 2019.
O resultado da indústria em comparação com o mesmo período do ano anterior, por sua vez, foi novamente negativo em abril: retração de -3,9%. Assim, dos quatro meses cujos resultados oficiais já são conhecidos, 3 registraram queda e apenas 1 ficou no positivo e isso porque recebeu ajuda do efeito calendário (fev/19 teve dois dias úteis a mais do que fev/18).
Deste modo, o saldo geral no 1º quadrimestre de 2019 foi mais uma vez negativo: -2,7% frente ao mesmo período do ano anterior, um patamar de maior intensidade do que aquele apresentado no 1º trim/19 (-2,3%).
Em relação aos macrossetores, ao menos na comparação com março de 2019, descontados os efeitos sazonais, os resultados foram quase todos positivos. A única exceção foi o de bens de intermediários, que registraram -1,4%. Bens de capital cresceram +2,9% e bens de consumo duráveis +3,4%. Bens de consumo semi e não duráveis registraram +2,6%.
Já na comparação de abril de 2019 com abril de 2018, houve resultados negativos em quase todos os macrossetores. Bens de consumo duráveis, depois de terem recuado -15,5% em março, foram o único macrossetor a crescer em abril: +1,2%. Bens de capital caíram -0,6% e bens de consumo semi e não duráveis, -0,7%. O pior desempenho, de -6,1%, ficou a cargo de bens intermediários, que estão no vermelho desde set/18.
Em abril de 2019, a expansão interanual +1,2% de bens de consumo duráveis foi influenciada pelo crescimento na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (+9,8%) e de automóveis (+1,3%), além de motocicletas (+2,8%) e outros eletrodomésticos (+12,6%). Caminharam no sentido oposto eletrodomésticos da “linha marrom” (-9,8%) e móveis (-2,1%).
Bens de capital, que declinou -0,6%, sofreram influência dos recuos de bens de capital para equipamentos de transporte (-2,9%), de capital de uso misto (-6,8%), para energia elétrica (-11,9%) e agrícolas (-8,8%). Por outro lado, impactos positivos foram assinalados pelos grupamentos de bens de capital para fins industriais (+8,1%) e para construção (+5,3%).
Já o macrossetor de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,7%) foi condicionado principalmente pela queda no grupamento de carburantes (-9,1%) e no subsetor de não-duráveis (-2,2%). Atenuaram a queda os subsetores de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+1,5%) e de semiduráveis (+1,6%).
Por sua vez, o macrossetor de bens intermediários, cuja produção regrediu -6,1%, foi influenciado pelas quedas de: indústrias extrativas (-24,0%), produtos alimentícios (-12,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,0%), produtos de borracha e de material plástico (-1,7%) e celulose, papel e produtos de papel (-0,9%). As pressões positivas vieram de metalurgia (+1,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+2,5%), produtos de metal (+2,9%), outros produtos químicos (+1,3%), produtos têxteis (+4,6%), produtos de minerais não-metálicos (+0,8%) e máquinas e equipamentos (+0,4%).
Assim, no acumulado do primeiro quadrimestre de 2019, quando a a indústria geral caiu -2,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, todos os macrossetores ficaram no vermelho. A queda mais intensa ficou por conta de bens de capital e bens intermediários, de -3,1% em ambos os casos. Em seguida, bens de consumo duráveis caíram -2,2% e bens consumo semi e não duráveis, -1,3%.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de +0,3% da produção industrial geral em abril de 2019 ante março, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhada de expansão de +1,2% na indústria de transformação e de retração de -9,7% no ramo extrativista, influenciado pelos efeitos do desastre de Brumadinho. No primeiro caso, a trajetória tem sido de oscilação em 2019, depois de um período de continuado declínio de jul/18 a dez/18: estagnação em janeiro (0%), crescimento em fevereiro (+0,9%), queda em março (-0,2%) e agora novo crescimento em abril. No segundo caso, os quatro meses de 2019 só registraram declínio, que foi bastante intenso em fevereiro (-15,7%) e agora em abril.
Em relação a abril de 2018, os resultados da indústria de transformação e do setor extrativista acompanharam a indústria geral (-3,9%) e perderam produção. No primeiro caso, a queda foi de -1,0%, retomando uma sequência de resultados negativos que havia sido interrompida em fevereiro, com ajuda de um efeito calendário favorável. No segundo caso, devido, em boa medida, ao desastre de Brumadinho, houve queda de -24%, o pior resultado da série interanual. Isso porque o ramo extrativista já tinha registrado variação de -10,3% em fevereiro e de -14,2% em março.
Frente a março de 2019, na série com ajuste sazonal, o acréscimo de +0,3% da indústria geral foi acompanhado por 20 dos 26 ramos pesquisados, entre os quais: veículos automotores, reboques e carrocerias (+7,1%), máquinas e equipamentos (+8,3%), outros produtos químicos (+5,2%) e produtos alimentícios (+1,5%), além de bebidas (+3,4%), metalurgia (+1,7%), couro, artigos para viagem e calçados (+5,4%) e produtos têxteis (+5,8%), entre outros. Por outro lado, registrou queda, além do ramo extrativista, o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,0%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de -3,9% na produção, variações negativas marcaram o desempenho de 13 dos 26 ramos, 40 dos 79 grupos e 52,8% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que abril de 2019 (21 dias) teve o mesmo número de dias úteis do que igual mês do ano anterior (21). Os destaques desfavoráveis ficaram a cargo de produtos alimentícios (-4,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,1%), impressão e reprodução de gravações (-27,1%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-13,0%), outros equipamentos de transporte (-13,4%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%), além do ramo extrativo. Por outro lado, entre os doze setores que apontaram ampliação na produção, as principais influências positivas foram registradas por máquinas e equipamentos (+4,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+1,9%), bebidas (+5,2%) e produtos de metal (+5,4%),
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de abril de 2019 cresceu +2,9%, frente ao mesmo período do ano anterior. Apesar disso, o desempenho do primeiro trimestre do ano permanece negativo: -5,6% ante o mesmo período do ano passado, isto é, uma realidade bastante diferente do acumulado jan-abr/18, quando as exportações de manufaturados avançavam +14,9%.
Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria também cresceram, +5,3% na comparação com abril de 2018, depois de terem caído -21% em março. Com isso, o resultado acumulado no primeiro quadrimestre de 2019 continuou positivo em +3,8%, apresentando patamar semelhante ao acumulado jan-abr/18 (+3,6%).
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 74,5% em abril de 2019, isto é um patamar muito semelhante ao de março e fevereiro (74,7%) e abaixo daquele de um ano atrás (76,4% em mar/18). O indicador ficou, assim, longe de sua média histórica, que é de 80,1%.
Já o indicador da CNI, progrediu marginalmente na passagem de março para abril de 2019, já descontados os efeitos sazonais, ao variar +0,6 p.p. e chegar a 77,8%. Este patamar está quase 0,3 p.p. abaixo do nível de um ano atrás (78,1% em abr/18), mostrando a involução da indústria de transformação neste período. Tal como ocorre no caso do indicador da FGV, a utilização aferida pela CNI permanece razoavelmente abaixo da média histórica do indicador, iniciado em jan/03, e que é de 80,9%.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória inconteste de acentuada melhora não é um indício favorável para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em abril de 2019 assinalaram índice de 50,7 pontos, superior ao patamar de março (50,5 pontos) e novamente acima da marca dos 50 pontos, o que indica aumento de estoques. Valores inferiores a 50 pontos, por sua vez, indicam redução de estoques. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador também registrou 50,7 pontos (+0,3 frente a mar/19, sendo a quarta alta consecutiva nesta comparação e +0,2% ante abr/18) e na indústria extrativa ficou em 48,3 pontos (-4,8% frente a mar/19 e -3,2% frente a abr/18).
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral continuaram acima do nível planejado (isto é acima de 50 pontos), atingindo o patamar de 51,3 pontos em abril de 2019. Este tem sido o padrão desde março de 2018, à exceção de dez/18, quando ficou em 48,9 pontos. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 51,2 pontos e em 51,3 pontos, respectivamente.
No grupo industrial da indústria de transformação, 15 dos 26 ramos acompanhados pela CNI tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em abril de 2019, a mesma proporção de março, mas um número menor de ramos nesta posição em relação a dez/18 (22), jan/19 (19) e fev/19 (16). Isso reduz o número de ramos cujas produções podem avançar nos próximos meses para recompor estoques abaixo do planejado. Dentre estes, estão os ramos de outros equipamentos de transporte (43,3 pontos), borracha (44,8 pontos) e limpeza e perfumaria (45,2 pontos), entre outros. Em contraste, ficaram com estoques efetivos acima do planejado em abril os setores de móveis (56,3 pontos), têxteis (56,2 pontos), couros (54,8 pontos) e calçados (54,3 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
Diante da patente desaceleração do crescimento industrial, que se transformou em nova retração no final de 2018 e início de 2019, a confiança do empresariado industrial, segundo o Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI), começou a ser corrigido no mês de março de 2019 em um movimento que ganhou intensidade no meses de abril e maio. Depois de alguns meses de relativa estabilidade, o indicador passou de 64,7 pontos em fev/19 para 62,5% em mar/19, 58,9 pontos em abr/19 e atingiu 56,6 pontos em maio. Por se encontrar acima da marca de 50 pontos, este indicador continua registrando otimismo dos empresários, embora cada vez menor. Esta não é uma trajetória que corrobora expectativas de retomada mais consistente do investimento industrial.
O desempenho da confiança em maio do presente ano resultou principalmente de seu componente de avaliação das condições atuais dos negócios, que voltou a indicar pessimismo ao registrar na marca de 48,5 pontos neste mês, um recuo de 2 pontos em relação a abril. Este resultado não traz boas perspectivas para a evolução da produção no quinto mês do ano. O componente do ICEI-CNI de expectativas em relação ao futuro também regrediu, passando de 63 pontos em abr/19 para 60,8 pontos em mai/19 (-2,2 pontos). Neste caso, o quadro ainda é de otimismo, dados os níveis acima de 50 pontos.
Já o Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, que já vinha desde junho do ano passado na região que indica pessimismo dos empresários (abaixo dos 100 pontos) viu uma nova redução em maio, ao passar de 97,9 pontos em abril para 97,2 pontos.
Neste caso, o movimento do ICI-FGV em maio foi condicionado por seu componente de expectativas em relação ao futuro, que recuou de 97,4 pontos em abril para 95,9 pontos em maio. O componente Índice da Situação Atual ficou estável em 98,5 pontos tanto em abr/19 como em mai/19.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível continua acima de 50 pontos, sugerindo melhora das condições de negócio, mas em maio atingiu o menor valor desde junho de 2018, quando foi fortemente impactado pela greve dos caminhoneiros nas últimas semanas de mai/18. Com isso, aproximou-se novamente da linha limítrofe dos 50 pontos ao registrar apenas 50,6 pontos no quinto mês de 2019.
Os indicadores de confiança acima mencionados, notadamente seu componente referente às avaliações dos negócios correntes, sugerem que o desempenho industrial em maio pode ser fraco mais uma vez.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)