Carta IEDI
O enfraquecimento industrial em 2018 por intensidade tecnológica
A recuperação da indústria perdeu força ao longo de 2018, de modo que sua produção física cresceu apenas metade daquilo que havia crescido em 2017. Apesar de ter contribuído para isso alguns fatores pontuais não desprezíveis, tal como a greve dos caminhoneiros, a desaceleração foi sentida já nos primeiros meses do ano passado e atingiu um número considerável de ramos e os principais parques regionais da indústria no país.
Os dados do PIB divulgados ontem mostram bem esta evolução. O PIB da indústria de transformação cresceu +1,3% em 2018 ante +1,7% em 2017. A entrada do ano passado (+3,8% no 1º trim.) já havia sido mais fraca do que o final de 2017 (+5,7% no 4º trim/17), porém, ainda preservava um dinamismo mais intenso, algo que foi revertido ao passar do tempo até chegar a -1,5% no último trimestre frente ao mesmo período do ano anterior. No caso do ramo extrativista, o resultado de 2018 foi de +1% contra +4,2% em 2017.
Tomada a produção física da indústria geral, o saldo de 2018 foi o seguinte: +1,1% de crescimento do ano contra +2,5% em 2017, com o 4º trim/18 de volta ao vermelho (-1,1%); 13 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE em queda no acumulado de janeiro a dezembro; 57% de 93 segmentos industriais com resultados piores em 2018 do que em 2017, segundo levantamento do IEDI; desempenho decepcionante principalmente dos parques industriais do Sudeste, com destaque para São Paulo, que sofreu contrações na produção tanto no 3º trim/18 (-1%) como no 4º trim/18 (-3,7%).
Esta Carta IEDI hoje traz mais uma dimensão do enfraquecimento industrial em 2018, ao agrupar seus diferentes ramos em 4 faixas de acordo com a intensidade tecnológica, seguindo a metodologia desenvolvida pela OCDE: alta, média-alta, média-baixa e baixa. Os destaques e principais resultados são sistematizados a seguir.
• De todas as quatro faixas, três registraram perda de dinamismo em 2018 vis-à-vis 2017, notadamente a indústria de baixa intensidade tecnológica que reverteu alta de +2% em queda de -2,3% no ano passado, devido a alimentos, bebidas e tabaco (-4,2%) e têxteis, couro e calçados (-2,7%). Madeira, papel e celulose, que também compõe esta faixa, não cresceu no 4º trim/18 (-0,2%).
• O único grupo a melhorar seu desempenho no acumulado de 2018 foi a indústria de média-baixa intensidade tecnológica, passando de -0,8% em 2017 para +1,5% em 2018, graças aos ramos associados à atividade extrativista, tais como minerais não-metálicos (+0,4%), produtos metálicos (+3,6%) e produtos de petróleo refinado e combustíveis (+1%). Neste último caso, o 4º trim/18 foi novamente negativo: -1,5% frente ao mesmo período do ano anterior.
• A média-alta tecnologia perdeu ímpeto, mas foi relativamente pouco: de +5,9% em 2017 para +4,8% em 2018. Isso se deu em grande medida devido ao desempenho da indústria automobilística, cuja produção de veículos avançou +12,6% em 2018, muito embora o 4º trim. do ano tenha sido muito fraco (+1,7%). Em jan-dez/18, o ramo de máquinas e equipamentos mecânicos reforçou seu resultado (+3,4% em 2018), enquanto máquinas e equipamentos elétricos (-0,2%) e produtos químicos, exceto farmacêuticos (-0,1%) ficaram praticamente estáveis.
• Já a indústria de alta tecnologia registrou desaceleração importante. Cresceu em 2018 (+1,1%) apenas 1/3 do que havia crescido em 2017 (+3,2%), devido ao retrocesso no dinamismo de dois ramos de peso: equipamentos de rádio, TV e comunicação, cujo resultado de 22,2% em 2017 foi reduzido a apenas 2,6% em 2018, e material de escritório e informática, que refluiu de +17,7% para +7,3% neste período. Ambos chegaram a sofrer fortes perdas no 4º trim/18 (-13,2% e -10,9%, respectivamente). A exceção nesta faixa foi a indústria farmacêutica, que reforçou seu resultado.
Uma visão geral da indústria de transformação
A produção física da indústria de transformação cresceu 1,1% em 2018, uma expansão arrefecida pelo declínio de 2,0% no quarto trimestre, puxado pela queda de 5,2% em dezembro na comparação com igual mês de 2017. Nessa última base comparativa, foi o segundo mês consecutivo de decréscimo. Como agravante, na passagem de novembro para dezembro pela série dessazonalizada, a indústria de transformação retrocedeu 0,4%, completando seis meses seguidos de taxas negativas e nove dos doze meses do ano.
Quanto à indústria geral (ramo extrativo mineral e o de transformação), pelos dados dessazonalizados, até cresceu, 0,2%, na passagem de novembro para dezembro, mais do que compensando o recuo no período anterior, de 0,1%. Por esse tipo de comparação, foram registrados seis meses de retração ao longo de 2018. No contraponto entre meses de dezembro de 2017 e de 2018, sua produção física diminuiu 3,6%, levando a indústria geral a recuar 1,1% no último trimestre do ano. Nessas duas últimas bases comparativas, a extração mineral cresceu 6,5% e 4,5%, respectivamente. No ano, a indústria geral cresceu 1,1%, enquanto a extração mineral um pouco mais, 1,3%.
A indústria de transformação por intensidade tecnológica
A produção física da indústria de transformação pode ser abordada com mais detalhe mediante sua divisão em quatro segmentos de intensidade tecnológica, em conformidade com a OCDE: alta intensidade, media-alta, média-baixa e baixa intensidade.
Ressalte-se que desde os mais recentes aprimoramentos metodológicos da PIM-PF, está se tratando a indústria de transformação sem a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Tal ramo passou a ser discriminado em versão mais recente da Classificação Industrial Internacional Uniforme (CIIU) e, por conseguinte, na versão 2 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Na sequência, estão os resultados selecionados para as faixas de intensidade tecnológica, com dados sujeitos à revisão.
Ao se confrontar o quarto trimestre de 2018 com o mesmo período de 2017, chama a atenção o fato dos quatro segmentos terem se retraído, com dezembro concorrendo para tanto. No trimestre, a faixa de alta intensidade foi a que mais se retraiu, 8,9%, com retrocesso de 7,4% em dezembro, mas fechando o ano com expansão de 1,1%. No confronto entre meses de dezembro, o segmento que mais declinou foi o de média-alta, queda de 10,1%, levando a uma retração de 2,4% no quarto trimestre. Ainda assim, essa faixa cresceu 4,8%. O segmento de média-baixa também registrou recuos em dezembro e no trimestre derradeiro, taxas de -2,6% e de -1,0%, respectivamente, com incremento no ano, de 1,5%. A faixa de baixa intensidade foi a única a se retrair nessas três bases de comparação: a diminuição de 6,1% em dezembro concorreu quer para a retração de 4,3% no trimestre, quer para a de 2,3% no ano.
Como visto, a faixa de alta intensidade foi a que mais declinou no confronto entre quartos trimestres de 2018 e de 2017, embora logrando expansão no ano. Essa retração em outubro-dezembro foi puxada pela queda na produção física do complexo eletrônico, cujo declínio no último mês do ano atingiu quase 20%. Apesar dessas reduções, 2018 fechou com incremento. A indústria farmacêutica logrou expansão nessas três bases comparativas, destacando-se o desempenho em dezembro e no último quarto de 2018. Já a produção de aviões, conforme o IBGE, declinou tanto em dezembro, quanto em 2018.
Se a faixa de média-alta intensidade foi a que mais cresceu em 2018, por outro lado, tal expansão ocorreu a despeito da forte queda em dezembro e no quarto trimestre. A indústria automotiva liderou tanto o crescimento no ano, quanto a queda em dezembro, apresentando taxa positiva no último quarto do ano. Variações na mesma direção foram observadas na produção de máquinas e equipamentos não especificados noutras atividades. Já a indústria química registrou declínio nas três bases comparativas.
A indústria de média-baixa produziu menos em dezembro e no terceiro trimestre de 2018 do que em iguais períodos de 2017, mas ainda assim crescendo no ano. A queda na comparação entre meses dezembro foi puxada pela fabricação de produtos plásticos e de borracha e pela produção de bens metálicos, que inclui a siderurgia. No trimestre, a retração decorreu do desempenho da própria fabricação de produtos plásticos e de borracha e da fabricação de produtos de petróleo refinado, álcool e afins. A performance positiva no ano foi liderada pela produção de bens metálicos, com os demais ramos também logrando incremento.
A retração sofrida pela faixa de baixa intensidade de 2,3% no ano, foi puxada pelo desempenho de dezembro e, por conseguinte, do quarto trimestre do ano. Em termos setoriais, o ramo de alimentos industriais, bebidas e fumo, o mais proeminente dos ramos da indústria de transformação, respondeu por tais resultados negativos. Os dois ramos mais intensivos em recursos humanos também registraram taxas negativas nas três bases de comparação. Dentre estes, a produção do ramo de têxteis, artigos de vestuário, de couro e calçados declinou 2,7% no ano. O destaque positivo coube à fabricação de produtos madeireiros industriais, papel, celulose e impressos, que cresceu no ano, apesar das retrações em dezembro e no quarto trimestre.
Alta intensidade tecnológica
Em 2018, a faixa de alta intensidade cresceu 1,1%, mesmo com a retração de 8,9% no quarto trimestre. Na contraposição entre meses de dezembro, a queda foi de 7,4%. Conforme o IBGE, a produção de aviões, que em geral tem contribuído para a expansão do segmento, declinou na comparação entre o ano passado e 2017.
Quanto ao complexo eletrônico, o incremento de 2,6% em 2018 ocorreu mesmo com o recuo de 12,4% no confronto entre quartos trimestres, com o mês de dezembro apresentando queda de 19,0%. Mais grave ainda é que, após um primeiro semestre auspicioso, o terceiro trimestre já registrou declínio de monta. O maior dos três ramos do complexo no País, fabricação de equipamentos de rádio, TV e comunicação, que abarca também partes e componentes eletrônicos empregados nele e em leque cada vez mais amplo de atividades econômicas, teve queda de 13,2%, puxada pela retração de 21,4% em dezembro. Apesar de tamanhos retrocessos, o ramo cresceu em 2018 no mesmo patamar que o complexo como um todo.
A fabricação de material de escritório e informática cresceu até mais em 2018, 7,3%, a despeito de sua produção ter declinado 10,9% em outubro-dezembro frente ao mesmo período do ano anterior, queda puxada pelo último mês do ano, quando recuou 13,0% frente a igual mês de 2017. A produção de instrumentos e equipamentos médico-hospitalares, óticos e de precisão, por sua vez, sofreu recuo nas três bases comparativas. Em 2018, a retração foi de 6,1%. No quarto trimestre, declinou 10,5%, puxada por um recuo de 19,0% na comparação entre meses de dezembro.
A indústria farmacêutica manteve sua recuperação no quarto trimestre, crescendo 12,5%, com dezembro apresentando taxa de 25,0%. Assim, a fabricação de produtos farmacêuticos cresceu 6,1%, a melhor performance dentro da faixa de alta intensidade nas três bases de comparação.
Média-alta intensidade tecnológica
O segmento de média-alta intensidade tecnológica foi o que mais cresceu em 2018, 4,8%, mesmo com o recuo de 2,4% no quarto trimestre frente a igual período de 2017. Em dezembro, a queda foi de 10,9%.
A fabricação de veículos automotores liderou o desempenho em 2018 não apenas dessa faixa, mas da indústria de transformação como um todo, taxa de 12,6%. No quarto trimestre cresceu menos, 1,7%, por conta da retração de 12,0% em dezembro. De certo modo, apresentou certa semelhança com o complexo eletrônico, com uma recuperação contundente também devido à base de comparação baixa. Como a recuperação começou em meados, fins de 2017, a base de comparação do último quarto já não era tão baixa.
Os ramos mais associados à indústria de bens de capital – fabricação de máquinas e equipamentos elétricos; e fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos e não especificados em outras atividades – tiveram em comum o declínio em dezembro. A fabricação de máquinas mecânicas ou não especificadas noutros ramos teve comportamento similar ao da indústria automotiva, com incremento de 3,4% em 2018, mesmo com o declínio de 6,2% em dezembro. No quarto trimestre a produção ficou estável. A produção de equipamentos elétricos experimentou retração nas três bases de comparação, declinando 0,2% em 2018 e no contraponto entre quartos trimestres e queda de 5,7% no confronto entre meses de dezembro.
A indústria química (com exceção da farmacêutica) também registrou taxas negativas nas três bases de comparação. No ano praticamente ficou estável, com variação de -0,1%. Em outubro-dezembro, produziu 2,1% a menos do que em igual período de 2017. O último mês do ano concorreu para tais reduções, com decréscimo de 5,0%.
Média-baixa intensidade tecnológica
A produção física do segmento de média-baixa intensidade cresceu 0,9% em 2018, em que pese ter diminuído 1,0% na comparação entre quartos trimestres do ano passado e de 2017. Em dezembro, o recuo foi de 10,5%. Conforme o IBGE, a indústria naval concorreu para as taxas negativas de dezembro, bem como de 2018.
A indústria de bens de petróleo refinado, álcool e outros combustíveis até logrou expansão no ano, 1,0%, mesmo com o decréscimo de 1,5% no último trimestre do ano. No comparativo entre meses de dezembro, essa atividade cresceu 0,7%.
Já a fabricação de produtos metálicos, que inclui a siderurgia foi a que mais cresceu em 2018 dentro dessa faixa, 3,6%, com o incremento de 1,6% no último quarto do ano. Tais taxas positivas foram obtidas mesmo com a retração de 3,1% no contraste entre meses de dezembro.
A indústria de produtos de minerais não-metálicos também cresceu no ano, 0,4%. Nesse caso, o destaque coube ao fato de sua produção ter aumentado nas três bases comparativas em questão, crescendo 1,9% em outubro-dezembro e 0,9% no último mês do ano.
Quanto à fabricação de borracha e produtos plásticos, sua expansão de 0,9% em 2018 se deu mesmo com o recuo de 3,8% no trimestre derradeiro do ano. Essa queda foi puxada pela performance de dezembro, queda de 10,5%.
Baixa intensidade tecnológica
A faixa de baixa intensidade tecnológica foi a única das quatro a registrar retração nas três bases de comparação. A queda de 2,3% na produção em 2018 contou com o declínio de 4,3% em outubro-dezembro na comparação com igual trimestre do ano anterior. Em dezembro, essa faixa produziu 6,1% menos do que no mesmo mês de 2017.
O desempenho dessa faixa seguiu o de seu ramo mais expressivo, o das indústrias de alimentos, bebidas e de fumo. Sua produção retrocedeu 4,2% no ano, decréscimo puxado pelo recuo de 7,1% no último trimestre. Em dezembro, a retração foi de 6,8%.
O destaque positivo na faixa de baixa intensidade em 2018 foi o conjunto das indústrias madeireira, de papel e celulose, gráficas e afins. Esta logrou crescimento de 3,1% no ano, a despeito do recuo de 0,2% no quarto trimestre, puxado pela retração de 4,5% em dezembro.
Os outros dois ramos se caracterizam pelo uso mais intensivo da força de trabalho que os demais dessa faixa. As atividades de fabricação de manufaturados não especificados noutras indústrias e de produtos reciclados retrocedeu 0,3% no ano, concorrendo para tanto a diminuição de 0,4% na produção pela comparação entre quartos trimestres de 2018 e de 2017 e a queda de 10,3% em dezembro.
A produção física do conjunto das indústrias têxtil, de vestuário, calçados e artigos de couro diminuiu 2,7% em 2018. No quarto trimestre, a retração foi de 0,8%, por coonta de sua performance em dezembro, quando recuou 3,6% frente a igual mês de 2017.