Carta IEDI
Final de ano em ritmo lento
Segundo os dados oficiais divulgados recentemente, a economia brasileira andou de lado em novembro de 2018, com indústria e serviços ficando estagnados em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. O comércio varejista cresceu, mas, em boa medida, devido à concentração de promoções que tem se tornado tradicional neste mês.
A produção industrial variou +0,1% e o faturamento real do setor de serviços ficou inerte (0%) na série com ajuste, repetindo uma clara ausência de dinamismo que já havia caracterizado ambos os setores em meses anteriores. Em outubro, a indústria registrou resultado de -0,1%. Serviços, por sua vez, está parado desde setembro (-0,3% e 0% em out/18).
Assim, se houve alguma expansão do nível geral de atividade econômica, como aponta a alta de +0,29% do indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como proxy do PIB, foi graças ao varejo, cujas vendas reais avançaram +1,5% frente a out/18 no conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e material de construção. Em seu conceito restrito, o resultado foi melhor, de +2,9%.
Cabe observar, contudo, que antes disso o comércio varejista acumulava dois meses seguidos de retração. No bimestre setembro-outubro, havia perdido -1,8%, já descontados os efeitos sazonais, tanto no conceito restrito como no ampliado. Ou seja, ao repor quedas anteriores, o resultado de novembro implica um dinamismo mais modesto do que aparenta.
Deste modo, parece termos chegado relativamente sem forças ao final de 2018, o que significa um quadro bastante diferente do final de 2017, quando se avolumavam expectativas de que a recuperação econômica viesse a ganhar cada vez mais velocidade.
Na indústria, esta involução é bastante nítida. Depois de atingir +5,1% no 4º trim/17 de crescimento de sua produção, ocorreu um recuo para +1,2% no 3º trim/18 e finalmente para -0,1% em out-nov/18 frente ao mesmo período do ano anterior, dando a entender que o último quarto do ano foi decepcionante.
Para alguns segmentos industriais, este comportamento foi ainda mais pronunciado. É o caso do macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis, que apresentaram declínio no 3º trim/18 (-0,4% frente ao 3º trim/17) e no bimestre out-nov/18 (-0,1%). Bens intermediários, que é o centro do sistema industrial, aponta perda de -1,0% em out-nov/18, depois de ter crescido +4,2% no 4º trim/17. Bens de capital e de consumo duráveis também desaceleraram em relação ao final de 2017.
Igualmente desfavorável é que o enfraquecimento da indústria afetou sobretudo os principais parques regionais do setor, notadamente São Paulo (-1,1% no 3º trim/18 e -3,2% em out-nov/18). Além de estar pior que o total Brasil, a disseminação de quedas dentro os ramos industriais paulistas é maior: atinge metade deles enquanto que para a indústria brasileira como um todo afeta apenas 27% dos ramos. Rio de Janeiro e Minas Gerais são outros estados em que a indústria também não tem se saído bem.
Se a trajetória industrial aponta para uma inércia no final de 2018, qualquer que seja a comparação utilizada, o setor de serviços mostra um desempenho mais favorável do que aquele do final de 2017, dado que vinha acumulando perdas sistemáticas até pouco tempo atrás.
No acumulado jan-nov/18, o faturamento real dos serviços variou -0,1% ante igual período do ano anterior. Este resultado, porém, esconde um ganho relativo de vitalidade nos últimos meses do ano: +0,7% no 3º trim/18 e +1,2% no bimestre out-nov, segundo a comparação com o mesmo período do ano anterior. Em alguns ramos a performance é ainda melhor, como em serviços de transporte, correios e seus auxiliares, serviços prestados às famílias e outros serviços, que envolvem um conjunto diversificado de atividades.
Enquanto a indústria patina e o melhor que os serviços conseguem é se estabilizar depois de anos de recessão, o comércio varejista acelera o passo em 2018, especialmente nos últimos meses. Em relação a um ano antes, o bimestre out-nov/18 cresceu +3,2% (+6% no conceito ampliado), contribuindo para que o ano como um todo caminhe na direção de um resultado mais forte (+2,6% até nov/18) do que o de 2017 (+2,1% em jan-dez). O mesmo se passa se tomarmos o varejo ampliado (+5,4% e +4,0%, respectivamente).
Na origem desta evolução estão as vendas de segmentos tais como veículos e autopeças, sugerindo que a recuperação da indústria automobilística não se resume apenas às maiores exportações; outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento; equipamentos de escritório, informática e comunicação e, em menor medida, supermercados, alimentos, bebidas e fumo.
Indústria
No final do ano passado, a indústria brasileira viveu tempos mais difíceis do que na virada de 2017 para 2018. Os dados do IBGE mostraram que o setor parou no bimestre de outubro (-0,1% ante set/18, com ajuste sazonal) e novembro (+0,1% ante out/18), sugerindo aprofundamento da trajetória de desaceleração verificada ao longo de todo o ano.
O resultado de +0,1% do total Brasil em novembro frente a outubro, já descontados os efeitos sazonais, foi acompanhado de perda de produção em 9 das 15 localidades identificadas pelo IBGE e por 16 dos 26 ramos industriais pesquisados. Já a retração de -0,9% ante nov/17 atingiu 8 localidades, entre as quais São Paulo (-3,4%) e Rio de Janeiro (-5,5%), e 14 ramos, com destaque para produtos alimentícios (-5,0%).
Deste modo, há quem esteja em um quadro razoavelmente pior do que o agregado da indústria nacional, cujo dinamismo refluiu de +5,1% no 4º trim/17 para -0,1% no bimestre out-nov/18, frente ao mesmo período do ano anterior.
Setorialmente, a deterioração é mais persistente em bens de consumo semi e não duráveis, que registraram retração no 3º trim/18 (-0,4%) e, ao que tudo indica, também podem ficar no negativo no último quarto do ano (-0,1% em out-nov/18). É, porém, mais aguda em bens de consumo duráveis, que saiu de +17% no 1º trimestre para somente +1,6% em out-nov/18, e isso apesar do forte crescimento da indústria automobilística.
Influenciado pela menor produção de bens de consumo, os bens intermediários registraram o pior resultado no bimestre out-nov (-1,0%) e caminham para um ritmo de crescimento em 2018 (+0,6% até nov.) de apenas 1/3 daquele de 2017 (+1,7%). Intermediários de alimentos, têxteis e derivados de petróleo já estão em queda. Por outro lado, quem mostra um comportamento mais consistente são os bens de capital, que embora com menor força, mantiveram um crescimento razoável ao longo do ano.
Do ponto de vista regional, por sua vez, apresentam uma performance inferior que o total Brasil, em maior ou menor medida, os estados de Amazonas, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. De fato, a dissipação do ímpeto de recuperação do setor industrial ao longo de 2018 se deu com mais ênfase nos principais polos industriais do país, notadamente, no eixo Rio-São Paulo.
A indústria carioca, que havia crescido +7,6% no último quarto de 2017, operou em um patamar de crescimento bem abaixo disso nos períodos seguintes até acenar com uma nova retração no último trimestre de 2018, já que seu resultado interanual em out-nov/18 é de -4,2%. Com isso, cresce +2,0% em jan-nov/18 contra +4,0% em jan-dez/17, uma involução muito associada ao declínio da produção de bebidas (-13,5% em jan-nov/18), do setor extrativista (-1,7%) e de borracha e plástico (-7,8%).
São Paulo já se encontrava no vermelho e não parece ter saído de lá nos últimos meses do ano. A queda da produção industrial paulista dá indícios de ter se acentuado, ao retroceder -1,1% no 3º trim/18 e -3,2% em out-nov/18. Este é um quadro radicalmente distinto daquele do final de 2017, quando avançou +8,0% em out-dez.
O resultado disso é que a desaceleração paulista tem sido mais proeminente do que a da indústria nacional como um todo. Em jan-nov/18, frente a igual período do ano anterior, São Paulo acumula resultado de +1,3%, o que representa quase 1/3 da alta de +3,5% obtida em 2017. No caso do Brasil, a velocidade do crescimento recuou menos, passando de +2,6% em 2017 para +1,5% em 2018 até o mês de novembro.
Esta, porém, não é a única diferença no desempenho paulista. Há outro agravante que é a disseminação de quedas dentro seus ramos. No acumulado de jan-nov/18, metade dos ramos da indústria de São Paulo (50%) se encontra no negativo, de modo bastante acentuado em alimentos (-10%), vestuário e acessórios (-9,4%) e outros equipamentos de transporte (-9,4%). No total Brasil apenas 27% dos ramos acumulam perdas neste período.
Em outras palavras, São Paulo está no centro da frustração dos resultados da indústria. Rio de Janeiro e Minas Gerais também contribuíram para isso, mais recentemente no primeiro caso e principalmente no começo do ano no segundo caso. A indústria mineira acumula perda de -1,2% em jan-nov/18, mas parece ter caminhado para uma estabilização no final do ano (+0,7% em out-nov/18).
Em direção oposta ao núcleo industrial do Sudeste, Pará e Santa Catarina conseguiram preservar seus resultados em 2018, enquanto Amazonas, devido aos primeiros meses do ano, Nordeste e Rio Grande do Sul adicionaram vigor à sua recuperação. A indústria nordestina muito provavelmente evitará um quarto ano de perda de produção (+0,8% em jan-nov/18), sobretudo em função da reação de Pernambuco (+6,1%). O Rio Grande do Sul (+6,3%), por sua vez, reforçou seu desempenho na segunda metade de 2018, graças à produção de veículos e papel e celulose.
Comércio
Enquanto a indústria patina, o comércio varejista dá sinais de ter reforçado seu dinamismo nos últimos meses de 2018, em consonância com a importante melhora da confiança dos consumidores. O crescimento de +2,9% das vendas reais em novembro frente a outubro foi o melhor resultado do ano na série com ajuste sazonal e o mais forte desde jan/07. Em seu conceito ampliado, que inclui automóveis, autopeças e material de construção, registrou variação de +1,5%, um resultado em linha com o padrão de 2018.
Com isso, até novembro o saldo da segunda metade de 2018 é positivo, mesmo que setembro e outubro tenham ficado no vermelho. O nível de vendas reais em nov/18 está 2,8% acima daquele de jun/18 no conceito restrito e 3,5% superior no conceito ampliado.
Vale notar ainda que, além de expressiva, a alta de novembro também foi acompanhada de avanços na maioria dos segmentos do varejo, atingindo 6 dos 10 identificados pelo IBGE, inclusive o de supermercado, alimentos, bebidas e fumo, que representa uma fração importante das vendas totais e cresceu +1,7% ante out/18, em boa medida ajudado pela baixa inflação.
Há, porém, um risco de o desempenho de novembro também ter sido muito influenciado pelas liquidações que se tornaram típicas neste mês do ano, a Black Friday, de modo a vir enfraquecer o resultado de dezembro. O crescimento excepcional de alguns segmentos de bens de consumo duráveis pode ser um indício deste fenômeno.
As vendas de móveis e eletrodomésticos avançaram +5% em nov18/out18, a maior variação positiva da série com ajuste desde jan/16 (+9%). Já outros artigos pessoais e de uso doméstico, que incluem as lojas de departamento, registraram alta de +6,9%, a mais forte desde abr/07 (+8,2%).
Ainda assim, parece que as liquidações em 2018 geraram vendas maiores do que em 2017. Frente a nov/17, outros artigos pessoais e de uso doméstico avançaram +16,9%, tecidos, vestuário e calçados tiveram a maior alta do semestre (+4,8%) e móveis e eletrodomésticos interromperam sucessão de quedas ao registrar +1,6%.
Assim, 2018 vai se firmando como um ano de continuidade da recuperação do varejo como um todo, assegurando-lhe, inclusive, um dinamismo superior àquele de 2017. Este, como sabemos, não foi o caso da indústria, que registrou desaceleração neste período. No varejo, o padrão de crescimento do varejo na virada de 2017 para 2018 pode se repetir novamente de 2018 para 2019, depois de alguns trimestres mais fracos.
Entre os segmentos responsáveis por ensejar uma aceleração das vendas reais no final de 2018 estão aqueles que compreendem bens de consumo duráveis e semiduráveis, tais como material de construção (+3,9% ante out-nov/17); equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (+3,4%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (+12,8%); tecidos, vestuário e calçados (+4,5%) e móveis e eletrodomésticos (+0,1%).
Nestes dois últimos casos, porém, a melhora dos meses mais recentes pode não salvar o ano: -1,6% no acumulado jan-nov/18 para tecidos, vestuário e calçados e -0,8% para móveis e eletrodomésticos. Vale observar, porém, que eletrodomésticos isoladamente tem se saído melhor, crescendo +0,6% em out-nov/18 e +0,8% em jan-nov/18 frente aos mesmos períodos do ano anterior.
As vendas de automóveis e autopeças conseguiram manter o nível de dinamismo com que iniciaram 2018, de modo a encerrarem o ano com crescimento mais forte do que 2017. Já o segmento de supermercados, alimentos, bebidas e fumo teve seu crescimento reduzido ao longo de 2018, mas ainda assim está melhor em 2018 do que em 2017.
Outro segmento importante do comércio varejista, o de combustíveis e lubrificantes permanece jogando contra a recuperação do setor ao acumular retração de -5,4% em jan-nov/18. Se tivesse ficado estável neste período (0%), a taxa de crescimento do varejo restrito no acumulado de 2018 até novembro teria sido de +3,1% e não de +2,5% (+5,8% e não +5,4% no caso do varejo ampliado).
Serviços
Não foi só a indústria que parou no final de 2018, o faturamento real do setor de serviços ficou inerte tanto em setembro (-0,3%) e outubro (0%) como agora em novembro, quando voltou a registrar resultado de 0% na comparação com ajuste sazonal. Deste modo, o crescimento do comércio varejista, muito alavancado pelas liquidações de novembro, é quem foi a exceção.
A despeito da estabilidade do setor como um todo, novembro trouxe algum crescimento para a maioria dos segmentos de serviços, atingindo 4 dos 5 acompanhados pelo IBGE. Como regra geral, as altas foram pequenas, mas em certos casos garantiu o retorno ao azul depois de meses seguidos de perda de faturamento.
Neste sentido, destacam-se os serviços profissionais, administrativos e complementares, que ficaram no negativo em setembro e em outubro, acumulando retração de -2,9% no período, e agora em novembro conseguiram ficar estáveis: +0,1% ante out/18, com ajuste sazonal. O mesmo ocorreu com transporte e serviços correlatos: -1,9% em set-out/18 e +0,3% em nov/18, já descontados os efeitos sazonais.
Outro dado favorável foi a obtenção da terceira taxa positiva consecutiva pelos serviços de informação e comunicação, que respondem por cerca de 1/3 do faturamento total do setor. Foi de +0,8% ante out/18, representando o melhor desempenho na série com ajuste entre os segmentos de serviços.
Embora a estabilidade seja um resultado aquém do que o setor de serviços precisa para se recompor da crise, já representa algum avanço, dado que até pouco tempo atrás seu faturamento acumulava retrações. Em novembro, a média em 12 meses frente ao mesmo período do ano anterior atingiu 0% depois de nada menos do que 41 meses seguidos de taxas negativas. Este setor, que foi o último a dar sinais de recuperação, parece ter conseguido evitar mais um ano negativo em 2018.
No acumulado jan-nov/18 frente ao mesmo período de 2017 a variação é de -0,1%, mas este resultado esconde um ganho relativo de vitalidade nos últimos meses do ano: +0,7% no 3º trim/18 e +1,2% no bimestre out-nov. Em alguns ramos, porém, a performance é ainda melhor.
Ainda que a maioria dos segmentos já tenham retomado crescimento nos últimos meses de 2018, dois deles mostram progressos mais consistentes. O primeiro compreende serviços de transporte, correios e auxiliares, cujo faturamento real já tinha avançado em 2017 (+2,3%) e deve novamente ficar no azul em 2018, a despeito da greve dos caminhoneiros do mês de maio: +1,5% em jan-nov/18 ante jan-nov/17. Os resultados do final do ano confirmam este nível de dinamismo.
O segundo destaque é o segmento de outros serviços, que englobam um conjunto diversificado de atividades, tais como financeiros, imobiliários, agrícolas e de assistência técnica. Acumula alta de +1,8% em jan-nov/18 e aponta para um reforço nos últimos meses do ano: +3,1% em out-nov/18. O grupamento especial de serviços de turismo também segue na mesma linha: +2,0% no ano até nov. e +4,4% em out-nov/18.
Outros segmentos a se saírem bem e que caminham para a estabilidade com o encerrar de 2018 foram serviços prestados às famílias (-0,1% em jan-nov/18 e +2,7% em out-nov/18), devido ao seu componente alojamento e alimentação; e serviços de informação e comunicação (-0,7% e +1,3%, respectivamente), em função tanto de telecomunicações como de serviços de tecnologia da informação.
Quem tem ficado para trás, como tem sido a norma no período recente, são os serviços profissionais, administrativos e complementares, refletindo as dificuldades de se efetivar um processo mais vigoroso de recuperação da produção nacional, a exemplo do que temos visto na indústria. Este tipo de serviços, geralmente demandado por empresas, pode ter em 2018 seu quarto ano seguido de perdas. Até novembro, acumula queda de faturamento real de -1,6%. Embora menos grave, o resultado do bimestre out-nov/18 (-0,6%) também permanece no vermelho.