Carta IEDI
Manufaturas: O Brasil Está Se Tornando Um Exportador Marginal
O Brasil segue perdendo posições no ranking dos maiores exportadores mundiais de bens manufaturados: era o 29º em 2012, o 30º em 2013 e o 32º em 2014, segundo dados divulgados pela OMC. A participação brasileira nas exportações mundiais de bens manufaturados em 2014 foi de 0,61%, uma perda significativa em relação a dez anos atrás, que era de 0,85%. Nesse ano o país foi o 26º colocado no ranking. Ou seja, em termos de exportações mundiais de manufaturados, o Brasil trilha uma rota de progressivo encolhimento no cenário mundial.
No caso das importações, em 2014 o Brasil perdeu duas posições em relação a 2013, passando a ser o 20º maior importador mundial, com parcela de 1,28% - mas ainda mantendo uma colocação bem mais relevante para o comércio mundial do que no caso das exportações.
Somando as vendas externas de bens primários às de produtos manufaturados, isto é, considerando-se as exportações totais, o Brasil despencou três posições na passagem de 2013 para 2014, do 22º lugar para o 25º. Assim, a parcela brasileira nas exportações mundiais caiu de 1,3% em 2013 para 1,2% em 2014. A ultrapassagem se deu por economias muito menores que a brasileira: Suíça, Malásia e Tailândia. Por sua vez, no ranking das importações totais, o Brasil ficou na 22ª posição, tal como apontado em 2013, mantendo a parcela de 1,3% sobre as importações mundiais de bens registrada por quatro anos consecutivos.
O melhor momento do país nas exportações internacionais desde 2005 foi o ano de 2011, quando o Brasil ocupou a 22ª posição no ranking e respondeu por 1,4% do total. Mesmo assim, esse percentual é desproporcional ao tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo.
Em suma, para padrões internacionais o Brasil importa pouco e exporta menos ainda. Tal característica é mais acentuada quando se trata de importações e, sobretudo, exportações de manufaturados.
A variação real do comércio mundial em 2014 foi 2,5%, tal qual 2013. Segundo o relatório de comércio mundial da OMC (World Trade Report, WTR), os principais motivos para esse fraco crescimento foram a desaceleração da atividade produtiva em países emergentes, como a China, a recuperação desigual e lenta das economias desenvolvidas, tensões geopolíticas (conflitos na Ucrânia/ Rússia, e no Oriente Médio, principalmente) e a queda do preço de diversas commodities, fazendo com que seus exportadores também reduzissem importações.
Os cinco maiores exportadores mundiais permaneceram os mesmos, China, EUA, Alemanha, Japão e Holanda – sendo que a China ampliou a sua parcela sobre o total, de 11,7% para 12,4% entre 2013 e 2014. Isso porque enquanto as exportações mundiais cresceram apenas 0,6% em termos de valor, de 2013 para 2014, as da China se elevaram 6%. Na contramão, a variação das exportações brasileiras foi de -7%, sendo este, juntamente com o Reino Unido, o resultado mais adverso do grupo dos 30 maiores exportadores mundiais.
Em termos dos setores industriais, houve uma alta contínua e expressiva das exportações globais de aço e ferro entre o segundo trimestre de 2013 e o terceiro de 2014, cuja tendência se inverteu no último período do ano passado. Diferentemente, o ritmo de expansão das exportações de produtos automotivos desacelerou ao longo de 2014, até tornar-se negativo no último trimestre. Aliás, no ano passado a variação também foi negativa em químicos, têxteis e vestuário e maquinário industrial. Somente equipamentos de escritório e telecomunicações assinalaram tendência contínua de alta ao longo de 2014, ainda que a taxas modestas, revertendo a retração entre o último trimestre de 2012 e o primeiro de 2014.
Para interpretar a divergência entre as colocações do Brasil nos rankings das exportações totais versus exportações de bens manufaturados, é preciso lembrar que em dez anos a parcela dos produtos manufaturados nas exportações brasileiras regrediu de 53% para 34%, em benefício da maior participação de combustíveis e minérios e de produtos agrícolas – que passaram a ser o principal grupo de bens com 40% de participação em 2014. Houve também no mundo uma perda relativa de parcela das manufaturas sobre as exportações, porém de magnitude bem inferior do que a registrada no Brasil: passou de 73% para 69% entre 2005 e 2014. Nas importações, a pauta brasileira permaneceu bastante estável, concentrada em manufaturas (72% das importações totais de bens do país em valor), enquanto no mundo houve uma ligeira queda desse grupo.
Concluindo, o comércio exterior brasileiro em 2014 exibiu um desempenho pior do que o da média mundial em termos das exportações totais de bens e, em especial, de manufaturas. Portanto a indústria do país continua perdendo competitividade no cenário internacional e doméstico, o que contribui para agravar a restrição externa ao crescimento e é parte explicativa da recessão econômica vivida pelo país.
Cenário do Comércio Internacional de Mercadorias. De acordo com o Relatório de 2015 sobre Comércio Mundial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2014 as exportações mundiais de bens continuaram exibindo crescimento baixo, de apenas 0,6% em termos de valor, ou 2,5% em volume, tal qual em 2013. Os motivos para três anos de fraco crescimento – em média 2,4% em volume entre 2012 e 2014 – são a desaceleração da atividade produtiva em países emergentes, como a China, a recuperação desigual e lenta das economias desenvolvidas e tensões geopolíticas (conflitos na Ucrânia/ Rússia, e no Oriente Médio, principalmente). Também contribuiu a queda do preço de diversas commodities, especialmente do petróleo – que entre 15 de julho e 31 de dezembro de 2014 caiu quase pela metade. Essa reversão causa retração de divisas nos países exportadores, levando à queda das suas importações e, portanto, no fluxo de mercadorias internacional.
As exportações em volume se elevaram mais substancialmente ao longo de 2014 nos países em desenvolvimento e emergentes, 3,1%, enquanto as importações cresceram 1,8%, destacando-se que em ambas ocorreu uma queda no segundo trimestre daquele ano. Já nos países desenvolvidos, a recuperação das importações e exportações foi contínua, de 2,0% e 2,9% em 2014, tendo as exportações sofrido uma retração somente no primeiro trimestre de 2015.
Analisando por regiões, a começar pela União Europeia, destaca-se que enquanto as exportações em volume aumentaram 1,6% ao longo de 2014, houve um aumento de 2,3% nas importações em relação a 2013. Na América do Norte e na Ásia a evolução do comércio foi mais intensa em 2014, com as importações subindo 4,6% e 3,4% respectivamente, e as exportações 4,2% e 4,7%. Por outro lado, na América do Sul e Central e na Comunidade dos Estados Independentes (CIS), em 2014 as importações retraíram 2,4% e 9,8% respectivamente, e as exportações também caíram 1,3% no primeiro grupo de países e ficou estagnada (0%) no segundo.
No que se refere aos setores de mercadorias, houve uma alta contínua e expressiva das exportações de aço e ferro entre o segundo trimestre de 2013 e o terceiro de 2014, cuja tendência se inverteu no último período do ano passado. Diferentemente, o ritmo de expansão das exportações de produtos automotivos desacelerou ao longo de 2014, até tornar-se negativo no último trimestre. Aliás, nessa data a variação também foi negativa em químicos, têxteis e vestuário e maquinário industrial, sendo que todos esses setores exibiram tendência de queda ao longo do ano. Somente equipamentos de escritório e telecomunicações assinalaram tendência contínua de alta ao longo de 2014, ainda que a taxas modestas, revertendo a retração ocorrida entre o último trimestre de 2012 e o primeiro de 2014.
No ranking dos maiores exportadores de mercadorias de 2014 (incluindo comércio intra-europeu), a China manteve a liderança e ampliou a sua parcela sobre o total, de 11,7% para 12,4%, por conta do avanço de 6% no total exportado em valor. As seguintes posições ficaram a cargo dos EUA, Alemanha, Japão e Holanda. A Itália inverteu de posição em relação ao Reino Unido, ascendendo da 10ª colocação em 2013 para a 8ª em 2014. O Brasil, por sua vez, despencou três posições, do 22º em 2013 para 25º em 2014. A ultrapassagem foi feita por economias muito menores que a brasileira: Suíça, Malásia e Tailândia.
Já no ranking das importações, o Brasil manteve-se na 22ª posição. O líder continuou sendo os Estados Unidos, que ampliou sua parcela para 12,7% devido à expansão de 4% nas suas compras externas. Em segundo lugar, a China, que assinalou variação nula nas importações, seguida por Alemanha e Japão, tal qual 2013, e pelo Reino Unido, que ascendeu da sexta para a quinta posição, trocando de lugar com a França.
A Inserção do Brasil no Comércio Internacional. A participação do Brasil nas exportações mundiais se reduziu de 1,3% em 2013 para 1,2% em 2014. Em termos de importações, a parcela brasileira mantém-se em 1,3% há quatro anos. O melhor momento do país nas exportações internacionais desde 2005 foi em 2011, quando o Brasil ocupava a 22ª posição no ranking e respondia por 1,4% do total. Mesmo assim, esse percentual é desproporcional ao tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo.
Em 2014, tanto as exportações como as importações brasileiras em dólares apresentaram contração, mas a queda das primeiras foi mais significativa e levou à perda de posições no ranking, conforme já demonstrada. Foi a terceira vez que houve retração no comércio exterior nos últimos dez anos – mais forte do que em 2012, porém de magnitude inferior à 2009. Vale notar que a direção das variações das exportações brasileiras segue à do mundo, contudo as baixas taxas registradas desde 2012 são ainda mais reduzidas no Brasil.
Em termos de composição da pauta em valor, é preciso destacar que em dez anos a parcela dos produtos manufaturados nas exportações brasileiras regrediu de 53% para 34%, em benefício da maior participação de combustíveis e minérios e de produtos agrícolas – que passaram a ser o principal grupo de bens com 40% de participação em 2014. Houve também no mundo uma perda relativa de parcela das manufaturas sobre as exportações, porém de magnitude bem inferior àquela registrada no Brasil: passou de 73% para 69% entre 2005 e 2014. Nas importações, a pauta brasileira permaneceu bastante estável, concentrada em manufaturas (72% das importações totais em valor), enquanto no mundo houve uma ligeira queda desse grupo.
Tomando-se somente o comércio internacional de manufaturas, constata-se que, em 2014, o Brasil caiu duas posições no ranking dos maiores exportadores em relação ao ano anterior, passando a ocupar a 32ª posição (26º em 2005). A queda na parcela das exportações mundiais de manufaturas foi considerável de 2013 para 2014, passando de 0,71% para 0,61% (correspondente a menos da metade da participação do país nas exportações de todos os bens). No caso das importações de manufaturas, em 2014 o Brasil perdeu também duas posições, passando a ser o 20º maior importador mundial, com parcela de 1,28% - isto é, uma colocação mais relevante para o comércio mundial do que no caso das exportações.
Há três anos os maiores exportadores de manufaturas são os mesmos, nessa ordem: China, Alemanha, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul. Em comparação com 2012, os movimentos mais importantes foram a ascensão do México e do Vietnã neste ranking. Já os maiores importadores em 2014 foram Estados Unidos, China, Alemanha, Hong Kong e França, mantendo-se a mesma ordem nas três primeiras colocações desde 2012 e havendo apenas a ultrapassagem de Hong Kong em relação à França. Destacam-se as ascensões da Espanha, Suíça, Polônia e república Tcheca no ranking das importações.
O coeficiente de exportações (total da produção doméstica que é exportado) da indústria total brasileira também pouco oscilou, ficando na casa dos 18% no quarto trimestre de 2014, resultado similar aos anos de 2012 e 2013. Contudo, setorialmente houve mudanças importantes, com destaque para a queda de 3 p.p. do coeficiente das indústrias extrativas, que voltaou-se um pouco mais ao mercado doméstico, a despeito da predominânacia do mercado extreno (59,2%). Na indústria de transformação o coeficiente registrou pequeno encolhimento de 15,7% para 15% do último trimestre de 2013 para o mesmo período de 2014.. Nesse grupo, destacaram-se as retrações em informática, eletrônicos e óticos, couros e artefatos, elétricos, produtos alimentícios, farmoquímicos e farmacêuticos – em geral, produtos de consumo. Em contraste passaram a apresentar maior coeficiente os setores de produtos de madeira, metalurgia, celulose, papel e produtos do papel, máquinas e equipamentos, e químicos – em sua maioria, bens intermediários.
Após escalada contínua desde 2009, no quarto trimestre de 2014 o coeficiente de penetração dos importados diminuiu tanto nas indústrias extrativas (46%) quanto na de transformação (20,0%). Entre os subsetores da indústria de transformação, os que tiveram maior redução do coeficiente de penetração de importação foram informática, eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos, diversos, borracha e plástico, produtos de metal, produtos de minerais não metálicos, têxteis, vestuários e acessórios. De outro modo, assinalaram crescimento os coeficientes de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, farmoquímicos e farmacêuticos, e químicos.