Carta IEDI
Indústria no Início do segundo semestre de 2015: queda ainda mais forte da produção em São Paulo e aprofundamento da crise do emprego
Sumário
Em 1995, a participação da indústria de transformação de São Paulo no total da indústria de transformação do País era, segundo as Contas Regionais do IBGE, de 48,7%. Tal participação garantia a São Paulo – de longe – a primeira posição no ranking entre os demais estados da federação – a segunda colocada era a indústria do Rio Grande do Sul, com 9,3%, e a terceira, a de Minas, com 8,5%.
Ao longo dos últimos vinte anos, a atividade industrial de manufaturados paulista continuou se mantendo no topo do ranking. No entanto, foi perdendo “terreno”. Em 2009, sua participação ficou em 43,0% e chegou a 40,3% em 2012 – último dado das Contas Regionais. Há mais de um motivo que explica essa perda de participação de São Paulo. Um deles é a assim chamada “guerra fiscal” dos estados. Outro motivo diz respeito à própria dinâmica do desenvolvimento regional do País.
O que esperar da participação da indústria paulista nos anos mais recentes? A resposta é direta: queda. No entanto, não é a guerra fiscal e tampouco o desenvolvimento regional os motivos dessa queda. Hoje, a perda de participação da atividade industrial paulista na indústria de transformação do País ocorre devido à crise severa pela qual essa mesma indústria passa. Na indústria paulista, a crise tem uma dimensão maior. A crise da indústria nacional é arrastada pela crise da indústria paulista. A indústria está encolhendo no Brasil.
Números do IBGE mostram que a produção industrial em São Paulo recuou 1,8% em julho, mês que abre o segundo semestre, após ter acumulado queda de 8,7% nos primeiros seis meses do ano. Com relação a julho de 2014, a retração foi de 12,0%. Vale lembrar que, em 2014, a produção da indústria paulista foi a que mais caiu (–6,2%) em todo o País – na média nacional, a queda foi de 3,1% em 2014.
A crise de produção na indústria brasileira é generalizada entre os estados e regiões do País. Em doze das quinze localidades pesquisadas pelo IBGE (contando São Paulo), a produção industrial caiu no acumulado janeiro–julho deste ano. As principais quedas foram registradas no Amazonas (–15,2%), no Rio Grande do Sul (–9,8%), no Ceará (–8,9%), na Bahia (–7,2%), no Paraná (–7,1%), em Minas Gerais (–7,0%), em Santa Catarina (–6,7%) e no Rio de Janeiro (–5,3%).
Ao se voltar para o mercado de trabalho da indústria brasileira, mais especificamente, para o emprego industrial, tem-se a sensação de que a crise que o assola já o levou para o fundo do poço. Em parte, isso é verdade: o emprego na indústria nacional vive o pior momento da sua história recente. O problema é que, infelizmente, esse fundo de poço tem se mostrado móvel. E tem se movido para... baixo.
De acordo com números do IBGE, pela 46ª vez consecutiva o emprego industrial recuou na série que compara mês com o mesmo mês do ano anterior. Ou seja, nessa comparação, o emprego industrial vem apresentando resultados negativos desde outubro de 2011. E a queda se intensificou: em julho último, foi de 6,4% – mesma intensidade registrada nos meses mais severos do ano da crise global, em 2009.
Além da dramaticidade gerada pelo caráter generalizado da crise no mercado de trabalho da indústria nacional, o que mais fustiga é a magnitude da retração do emprego nos mais diferentes ramos industriais. Ainda ficando na comparação julho de 2015 com julho de 2014, dos dezessete de dezoito ramos pesquisados que apresentaram queda no emprego, destacam-se: meios de transporte (–11,9%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–15,1%), máquinas e equipamentos (–9,1%), produtos de metal (–10,7%), alimentos e bebidas (–2,8%), outros produtos da indústria de transformação (–10,1%), borracha e plástico (–6,0%), calçados e couro (–7,5%), vestuário (–5,1%), metalurgia básica (–7,2%), minerais não–metálicos (–4,6%), produtos têxteis (–5,4%), papel e gráfica (–4,4%), indústrias extrativas (–4,7%) e madeira (–6,0%).
Este ano será um ano péssimo para o emprego industrial. Pior do que o de 2009. Nos sete primeiros meses de 2015 a retração do número de ocupados já é de 5,4% com viés de alta. Os ramos que mais influenciaram esse resultado são: meios de transporte (–10,2%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–12,9%), produtos de metal (–10,5%), máquinas e equipamentos (–6,8%), alimentos e bebidas (–2,3%), outros produtos da indústria de transformação (–8,9%), vestuário (–5,3%), calçados e couro (–7,5%), metalurgia básica (–6,6%), papel e gráfica (–3,5%), produtos têxteis (–3,2%), indústrias extrativas (–4,6%), minerais não–metálicos (–2,3%), refino de petróleo e produção de álcool (–5,8%) e borracha e plástico (–2,1%).
Produção Industrial Regional. De acordo com os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal – Regional do IBGE, na comparação de julho contra junho (com ajuste sazonal) a produção industrial recuou em oito dos catorze locais pesquisados. As variações negativas mais intensas foram registradas no Paraná (–6,3%) e no Ceará (–5,2%). Outros estados com desempenho negativo foram Santa Catarina (–2,4%), São Paulo (–1,8%), Amazonas (–1,5%), Espírito Santo (–1,4%), Minas Gerais (–1,3%) e Rio de Janeiro (–0,9%). Com variações positivas encontram–se Rio Grande do Sul (6,8%), Bahia (5,2%), Região Nordeste (3,3%), Pernambuco (3,3%) e Goiás (0,6%). O dado para Mato Grosso, nessa comparação, não foi divulgado.
Na base de comparação mês contra mesmo mês do ano anterior, 11 dos 15 locais mostraram redução na produção em julho de 2015. Amazonas (–18,2%), Ceará (–13,7%), São Paulo (–12,0%) e Paraná (–11,5%) tiveram os recuos mais intensos. Santa Catarina (–9,8%) também teve queda mais acentuada do que a média nacional (–8,9%), enquanto Rio de Janeiro (–8,3%), Minas Gerais (–7,7%), Rio Grande do Sul (–4,7%), Região Nordeste (–4,3%), Goiás (–3,3%) e Pernambuco (–2,5%) completaram o conjunto de locais com taxas negativas em julho de 2015. Por outro lado, Pará (6,8%) e Espírito Santo (3,4%) assinalaram os maiores avanços nesse mês, seguidos de Mato Grosso (0,7%) e Bahia (0,4%).
A produção industrial acumulada entre janeiro e julho de 2015 apresentou queda em 12 das 15 localidades, com oito recuando em intensidade superior à média nacional (–6,6%): Amazonas (–15,2%), Rio Grande do Sul (–9,8%), São Paulo (–8,9%), Ceará (–8,9%), Bahia (–7,2%), Paraná (–7,1%), Minas Gerais (–7,0%) e Santa Catarina (–6,7%). Completaram o conjunto de locais com resultados negativos nessa comparação o Rio de Janeiro (–5,3%), a Região Nordeste (–5,0%), Goiás (–2,6%) e Pernambuco (–2,2%). Por outro lado, Espírito Santo (14,9%) e Pará (6,8%) assinalaram os avanços mais intensos no índice acumulado no ano, impulsionados, em grande parte, pelo comportamento positivo vindo do setor extrativo, enquanto Mato Grosso, com acréscimo de 0,3%, mostrou o avanço mais moderado.
Rio Grande do Sul. Em julho, frente a junho, com dados já descontados dos efeitos sazonais, a produção industrial do estado apresentou alta de 6,8%. Entretanto, no confronto com julho de 2014, constatou–se queda de 4,7%, taxa influenciada positivamente pelos setores de celulose, papel e produtos de papel (69,4%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (11,3%), e negativamente por máquinas e equipamentos (–26,5%), produtos de metal (–15,7%) e metalurgia (–23,9%), entre outros. No acumulado no ano de 2015 a produção industrial caiu 9,8%, sob influência de celulose, papel e produtos de papel (13,8%), outros produtos químicos (5,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (–25,4%) e máquinas e equipamentos (–25,1%).
São Paulo. Em julho, a indústria paulista apresentou recuou de 1,8% na comparação com junho (dados livres de efeitos sazonais). Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), o estado registrou queda de 12,0%, sob influência de: produtos alimentícios (–14,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (–19,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (–46,0%), máquinas e equipamentos (–10,2%), metalurgia (–17,1%), produtos de borracha e de material plástico (–10,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–12,1%), produtos têxteis (–17,2%), entre outros. No acumulado no ano de 2015 a produção industrial recuou 8,9%, com destaque negativo para os setores de: veículos automotores, reboques e carrocerias (–16,7%), produtos alimentícios (–11,4%), máquinas e equipamentos (–10,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (–21,9%), outros produtos químicos (–7,3%), outros produtos químicos (–7,3%), metalurgia (–13,4%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (–8,7%), entre outros.
Emprego Industrial. Em Na passagem de junho para julho, com dados dessazonalizados, o emprego industrial apresentou variação negativa de 0,7%, o sétimo resultado negativo consecutivo. No confronto com o mesmo mês de 2014 verifica–se recuo de 6,4%, 46º resultado negativo consecutivo nesse tipo de confronto. No acumulado entre janeiro e julho, em relação ao mesmo período do ano anterior, também se verificou decréscimo (–5,4%). Nos últimos 12 meses, o emprego apresentou variação acumulada de –4,9%, o pior resultado desde dezembro de 2009.
Setorialmente, o emprego industrial de julho confrontado com mesmo mês de 2014, 17 dos 18 ramos pesquisados registraram queda, com destaque para meios de transporte (–11,9%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–15,1%), máquinas e equipamentos (–9,1%), produtos de metal (–10,7%), alimentos e bebidas (–2,8%), outros produtos da indústria de transformação (–10,1%), borracha e plástico (–6,0%), calçados e couro (–7,5%), vestuário (–5,1%), metalurgia básica (–7,2%), minerais não–metálicos (–4,6%), produtos têxteis (–5,4%), papel e gráfica (–4,4%), indústrias extrativas (–4,7%) e madeira (–6,0%). Por outro lado, o setor de produtos químicos (0,0%) foi o único que não mostrou resultado negativo nesse mês.
No ano, as contribuições negativas mais significativas vieram de meios de transporte (–10,2%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–12,9%), produtos de metal (–10,5%), máquinas e equipamentos (–6,8%), alimentos e bebidas (–2,3%), outros produtos da indústria de transformação (–8,9%), vestuário (–5,3%), calçados e couro (–7,5%), metalurgia básica (–6,6%), papel e gráfica (–3,5%), produtos têxteis (–3,2%), indústrias extrativas (–4,6%), minerais não–metálicos (–2,3%), refino de petróleo e produção de álcool (–5,8%) e borracha e plástico (–2,1%).
Folha de Pagamento Real. Em julho, a folha de pagamento real do setor industrial apresentou queda de 1,8% frente ao mês anterior, na série livre de efeitos sazonais. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a folha de pagamento real apresentou recuo de 7,0%, apoiada pelos resultados negativos em todos os setores pesquisados. No ano, a variação acumulada foi negativa de 6,3%.
Número de Horas Pagas. O número de horas pagas, indicador de futuras contratações de mão–de–obra na indústria, assinalou recuo de 1,8% na passagem de junho de 2015 para julho, já descontados os efeitos sazonais. Contra julho de 2014, o número de horas pagas decresceu 7,2%. No acumulado de 2015 até julho, a queda das horas pagas na indústria chegou a –6,0%.