Carta IEDI
Primeiro Bimestre de 2014: Queda Generalizada na Produção Regional e no Emprego
A atividade industrial brasileira iniciou este ano, nas diferentes regiões do País, apresentando resultados tão ruins ou piores do que os registrados no final de 2014. Em consequência, a crise do emprego industrial se agravou.
Pode-se observar que a produção industrial no principal centro industrial do País, o estado de São Paulo, vem oscilando muito nos últimos meses: –2,6%, –6,6%, +7,3% e +0,3%, respectivamente, de novembro do ano passado a fevereiro deste ano – todas as taxas com relação ao mês imediatamente anterior, considerados os ajustes sazonais.
Dois fatores explicam tal comportamento. Primeiro, o início e fim das férias coletivas, algo comum nesse período, mas muito utilizado no final do ano passado e início deste ano em decorrência do agravamento da crise industrial. Segundo, os ajustes de estoques nos mais diferentes segmentos industriais. Aqui, os empresários industriais estão “tateando”, vale dizer, estão tentando encontrar o novo nível de produção compatível com os mercados de bens industriais, cuja tendência é, em geral, de forte encolhimento. É um jogo de tentativa e erro, ao longo do qual a produção oscila intensamente.
É preciso ter em conta ainda que a indústria paulista sofre em cheio com o aperto do crédito e a queda das expectativas de consumidores e empresários relacionadas ao andamento da economia brasileira, afetando, sobretudo, os setores de bens duráveis de consumo e de bens de capital, que têm peso elevado na estrutura de produção do estado. No primeiro bimestre deste ano frente igual período de 2014, por exemplo, a produção paulista de veículos automotores, reboques e carrocerias encolheu nada menos do que 17,8% e a de máquinas e equipamentos, 13,7%. A indústria de São Paulo como um todo retrocedeu 7% no mesmo período, sendo de 8,5% a queda em fevereiro.
Muitos desses aspectos (oscilação e grande queda da atividade produtiva) também podem ser observados em outros estados com maior expressão industrial, como os do Sul e em outros dois importantes centros, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, a produção industrial caiu, respectivamente, 13,2%, 8,2% e 12,2% no primeiro bimestre deste ano, números muito piores do que os do ano passado. No Rio de Janeiro e em Minas, a queda da produção industrial foi de 7,0% e 7,1%, nessa ordem, em igual bimestre.
Outros traços marcantes que saltam aos olhos nos números do IBGE são o declínio da atividade industrial no Nordeste, que já perdura por quatro meses, e a queda brusca da produção da indústria do Amazonas. No Nordeste, a produção industrial, que fechou 2014 com queda (–0,1%) bem abaixo da média nacional (–3,2%), já acumula retração de 8,3% no primeiro bimestre deste ano, influenciada, sobretudo, pelo desempenho negativo dos segmentos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (–43,9%), metalurgia (–18,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (–18,8%), indústrias extrativas (–5,5%), produtos de minerais não metálicos (–8,3%), bebidas (–6,9%) e produtos de metal (–18,0%). De fato, é uma queda generalizada: em onze de quinze segmentos da indústria nordestina ocorreram decréscimos da produção.
No Amazonas, o quadro vem piorando a passos largos. Até setembro do ano passado, a produção amazonense crescia 1% de acordo com a taxa acumulada em doze meses. Fechou o ano de 2014 com queda de 3,9%. No acumulado de doze meses terminados em fevereiro, a produção industrial do Amazonas apresentou queda de 8,6%, o pior resultado comparativamente às demais localidades pesquisadas pelo IBGE. Em grande medida, esse resultado se deve ao início deste ano. No acumulado do primeiro bimestre de 2015, a produção da indústria do Amazonas recuou 15,5% frente igual período do ano anterior, com queda em sete das dez atividades pesquisadas. Os destaques foram: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (–37,6%) e outros equipamentos de transporte (–18,1), itens também muito sensíveis ao crédito e à confiança por parte de consumidores e empresários.
Quanto ao emprego, observa-se que, mês após mês, são registradas taxas de variação negativas do pessoal ocupado na indústria brasileira. Isso não é de hoje. A ocupação na indústria cai há quarenta e um meses consecutivos (na série do IBGE que compara mês com o mesmo mês do ano anterior). No entanto, observa-se que esse processo vem piorando desde junho do ano passado. A partir daquele mês, a taxa de variação do emprego caiu mais de 3,0%, foi oscilando sempre em patamares mais elevados e chegou aos –4,5% de fevereiro.
O nível do emprego industrial de fevereiro último é o menor da série histórica do IBGE (série com ajuste sazonal). Ele é 9,5% inferior ao de julho de 2008, período que antecedeu a crise financeira global e no qual a ocupação industrial atingiu seu pico, e reflete uma crise generalizada do setor. O emprego recuou, em fevereiro frente a igual mês de 2014, nos dezoito ramos da indústria pesquisados pelo IBGE. No primeiro bimestre deste ano, a ocupação caiu em dezessete ramos; e naquele em que não houve retração (Produtos químicos), o emprego ficou estagnado (0,0%).
As quedas do emprego industrial nos diferentes ramos da indústria no primeiro bimestre deste ano são alarmantes. Por exemplo: –11,8% no de máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações; –8,8% no de produtos de metal; –8,3% em outros produtos da indústria de transformação; – 8,2% no de transporte; –7,0% no de calçados e couro; –6,0% no de metalurgia básica; –5,9% no de refino de petróleo e álcool; –4,5% no de máquinas e equipamentos; e –4,3% no de madeira. Depois dos decrescimentos de 1,4% em 2012, 1,1% em 2013 e de 3,2% em 2014, o emprego industrial fechará 2015 provavelmente com desempenho mais negativo. O emprego está em queda livre e não há nada no horizonte que possa suavizar essa sua trajetória nos próximos meses.
Produção Industrial Regional. De acordo com os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal – Regional do IBGE, entre janeiro e fevereiro de 2015, a produção industrial, com ajuste sazonal, decresceu em seis dos catorze locais pesquisados. As maiores quedas ficaram por conta dos estados do Rio de Janeiro (–7,1%), Bahia (–6,4%), Pernambuco (–2,3%) e Minas Gerais (–1,9%). Nordeste (–0,7%) e Espírito Santo (–0,4%) também assinalaram variação negativa, porém de menor magnitude que a média nacional (–0,9%). Por outro lado, os seguintes estados registraram alta da produção industrial: Pará (3,4%), Goiás (3,2%), Paraná (2,4%), Amazonas (2,2%), Rio Grande do Sul (1,6%), Ceará (1,1%), São Paulo (0,3%) e Santa Catarina (0,2%).
Na base de comparação mês contra mesmo mês do ano anterior, 12 dos 15 locais pesquisados assinalaram queda da produção industrial: Bahia (–23,2%), Amazonas (–18,9%), Paraná (–15,0%), Rio Grande do Sul (–13,7%), Rio de Janeiro (–11,8%), Região Nordeste (–11,1%), Minas Gerais (–10,6%), Santa Catarina e Ceará (ambos com – 9,5%), São Paulo (–8,5%), Goiás (–4,4%) e Mato Grosso (–1,5%). Por outro lado, Espírito Santo (25,6%) assinalou o avanço mais intenso nesse mês, seguido pelo Pará (9,4%) e Pernambuco (2,3%).
A produção industrial acumulada entre janeiro e fevereiro de 2015 apresentou recuo em onze das quinze localidades. As reduções mais significativas no desempenho regional foram registradas pelos estados da Bahia (–17,5%), Amazonas (–15,5%), Paraná (–13,2%), Rio Grande do Sul (–12,2%), Nordeste (–8,3%), Santa Catarina (–8,2%) e Ceará (–7,7%). Os demais resultados negativos foram: Minas Gerais (–7,1%), Rio de Janeiro (–7,0%), São Paulo (–7,0%) e Goiás (–4,4%). Por outro lado, Espírito Santo (21,7%), Pará (8,2%), Pernambuco (2,8%) e Mato Grosso (1,8%) assinalaram as altas nesta base de comparação.
Espírito Santo. Em fevereiro, frente a janeiro, com dados já descontados dos efeitos sazonais, a produção industrial capixaba apresentou recuo de 0,4%. No confronto com fevereiro de 2014, constatou–se crescimento de 25,6%, taxa influenciada pelo setor extrativo (39,3%). Na indústria de transformação, destacaram–se os setores de metalurgia (53,1%) e de celulose, papel e produtos de papel (21,3%), enquanto os setores de produtos alimentícios (–20,2%) e produtos de minerais não–metálicos (–13,1%) assinalaram os recuos. No acumulado do primeiro bimestre do ano, a indústria deste estado avançou 21,7% devido ao desempenho da indústria extrativa (35,0%) e metalurgia (47,0%). As influências negativas foram observadas nos setores de produtos alimentícios (–23,4%) e produtos de minerais não–metálicos (–10,9%).
São Paulo. A partir de dados livres de efeitos sazonais, observa–se que a indústria paulista, na passagem de janeiro para fevereiro, registrou pequena alta de 0,3%. Na comparação de fevereiro de 2015 contra igual mês de 2014, houve contração de 8,5%, taxa influenciada negativamente pelos setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (–21,0%), máquinas e equipamentos (–13,5%), produtos alimentícios (–8,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (–15,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–12,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (–24,1%), outros produtos químicos (–5,5%), celulose, papel e produtos de papel (–8,7%), produtos de borracha e de material plástico (–6,0%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (–10,2%). Em sentido oposto, o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (14,8%) assinalou a principal influência positiva. No ano, a indústria paulista registrou queda de 7,0%, variação puxada pelos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (–17,8%), de máquinas e equipamentos (–13,7%) e de produtos alimentícios (–9,3%), enquanto o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (18,0%) registrou a alta mais significativa.
Emprego Industrial. Em fevereiro, o total dos ocupados na indústria geral assinalou queda de 0,5% em relação ao mês anterior, a partir de dados livres dos efeitos sazonais. Em relação a fevereiro de 2014, houve novamente queda dos ocupados assalariados de 4,5%. No acumulado de 2015, o índice de pessoal ocupado na indústria já acumula recuo de 4,3%, enquanto nos últimos 12 meses, a ocupação na indústria total caiu 3,6%.
Em fevereiro, o total do pessoal ocupado assalariado recuou em todos os 18 ramos pesquisados pelo IBGE, com destaque para as pressões negativas vindas de meios de transporte (–8,7%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–12,2%), produtos de metal (–9,4%), outros produtos da indústria de transformação (–8,5%), máquinas e equipamentos (–4,6%), calçados e couro (–7,1%), alimentos e bebidas (–1,3%), vestuário (–3,9%), metalurgia básica (–6,0%) e papel e gráfica (–3,0%).
No acumulado do primeiro bimestre do ano, o recuo de 4,3% deveu–se principalmente aos resultados dos setores de meios de transporte (–8,2%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–11,8%), produtos de metal (–8,8%), outros produtos da indústria de transformação (–8,3%), máquinas e equipamentos (–4,5%), calçados e couro (–7,0%), alimentos e bebidas (–1,3%), vestuário (–3,8%), metalurgia básica (–6,0%) e papel e gráfica (–3,2%). Produtos químicos (0,0%), por sua vez, foi única atividade a não assinar queda.
Número de Horas Pagas. O número de horas pagas na indústria registrou, na passagem de janeiro para fevereiro, pequena queda de 0,1%. No confronto com igual mês do ano anterior, o número de horas pagas recuou 5,2% em fevereiro. Os setores que mais contribuíram para esse resultado negativo foram: transporte (–8,9%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–10,5%), produtos de metal (–9,1%), outros produtos da indústria de transformação (–10,5%), calçados e couro (–8,7%), máquinas e equipamentos (–5,1%), alimentos e bebidas (–1,5%), vestuário (–4,7%), metalurgia básica (–8,6%), papel e gráfica (–4,6%), minerais não–metálicos (–3,7%) e refino de petróleo e produção de álcool (–9,1%).
No acumulado do ano, as horas pagas também recuaram 5,2% devido aos setores meios de transporte (–8,6%), produtos de metal (–10,1%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–9,6%), outros produtos da indústria de transformação (–10,2%), alimentos e bebidas (–2,3%), máquinas e equipamentos (–6,4%), calçados e couro (–8,6%), metalurgia básica (–8,5%), vestuário (–4,1%), papel e gráfica (–4,7%), minerais não–metálicos (–3,1%) e refino de petróleo e produção de álcool (–7,2%). Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, essa variável registrou queda de 4,4%.
Folha de Pagamento Real. Na passagem de janeiro para fevereiro de 2015, a folha de pagamento real registrou queda de 0,9% (com ajuste sazonal). O indicador mensal (mês/mesmo mês do ano anterior) assinalou decréscimo de 6,1%. Os setores que mais influenciaram este resultado foram: meios de transporte (–10,2%), indústrias extrativas (–12,4%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–12,6%), máquinas e equipamentos (–5,8%), produtos de metal (–11,2%), metalurgia básica (–7,0%), outros produtos da indústria de transformação (–8,1%), minerais não–metálicos (–5,2%), borracha e plástico (–4,1%) e calçados e couro (–7,7%). No acumulado do ano, a folha de pagamento real da indústria decresceu 5,2% e nos últimos 12 meses, recuo de 2,5%.