Carta IEDI
As Exportações Cadentes da Indústria
No acumulado até setembro, as exportações de bens do País declinaram 2,2%. O Banco Central projeta que as mesmas fecharão 2014 caindo ligeiramente, de US$ 242 bilhões para US$ 240 bilhões, isto é, recuo de 0,8%. Mesmo assim, isso permitiria ao Brasil encerrar o ano com um ligeiro superávit comercial de US$ 3 bilhões, pouquíssimo acima do observado em 2013, devido à retração maior das importações. Porém, segundo o BCB, não impediria o ano de 2014 terminar com déficit na balança de bens e serviços (não-fatores) de US$ 44 bilhões, concorrendo sobremaneira para o saldo negativo das transações correntes.
Frisa-se que o balanço de pagamentos mostra uma queda de 0,7% nas vendas para o exterior de bens e serviços no acumulado até setembro de 2014 frente a igual período de 2013. Mesmo que venha a melhorar no trimestre derradeiro, a variação anual continuará contrastando com o avanço de 3,3% das exportações mundiais de bens e serviços projetado pelo ONU-Link Project para 2014. Considerando apenas os países em desenvolvimento o incremento projetado é de 3,9%, mesma variação para a América Latina e Caribe.
Os números citados mostram o quão o Brasil tem tido dificuldade em galgar papel maior na economia global na condição de exportador. O que é mais gritante quando se tomam os fluxos comerciais para os bens tipicamente oriundos da indústria de transformação. As exportações desses produtos retrocederam 4,2% na comparação entre acumulados até setembro de 2014 e de 2013, ficando em US$ 100,1 bilhões. No caso dos demais bens, em geral produtos agropecuários e minerais, houve discreto acréscimo, de 0,7%. Já as importações de produtos da indústria de transformação recuaram 3,8%, contribuindo para que o País adquirisse 2,8% menos do exterior.
Logo, se o saldo comercial ficou com resultado negativo de US$ 696 milhões no acumulado até o nono mês, isso se deveu sobremaneira ao déficit dos bens típicos da indústria de transformação, de US$ 49,2 bilhões. Para um olhar mais detido, seguem os dados da balança de bens da indústria de transformação pela classificação por intensidade tecnológica (alta, média-alta, média-baixa e baixa):
- Mesmo a faixa de baixa intensidade, a única dos quatro que se mantém superavitária desde 2009 (para o acumulado até setembro), viu as exportações de bens típicos de suas indústrias caírem 3,4% vis-à-vis igual período de 2013, ficando em US$ 42,7 bilhões. Mesmo com as importações crescendo 3,6%, o superávit continua expressivo, US$ 28,1 bilhões, mas abaixo do obtido em igual período de 2013. Tais variações foram em muito ditadas pelos alimentos industriais, bebidas e fumo: suas exportações recuaram 6,3%. Mas houve aumento nas exportações de produtos madeireiros, de papel, celulose e impressões gráficas – acréscimo de 3,5% – e de têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados – expansão de 9,6%.
- Se o melhor saldo ficou com o a faixa de baixa intensidade, o maior déficit coube ao segmento de média-alta intensidade: de US$ 45,0 bilhões. No mesmo acumulado de 2013, o déficit foi de US$ 46,4 bilhões. Embora um pouco menor, o déficit em janeiro-setembro de 2014, além de muito expressivo, foi acompanhado de exportações cadentes: retração de 11,4%, ficando em US$ 26,0 bilhões. Tal retrocesso foi puxado pelo declínio nas vendas externas de automóveis e afins, queda de 26,4%. O único grupo de bens cujas exportações aumentaram foi o de máquinas elétricas e, ainda assim, foi de pouca expressão, 0,6%.
- O segundo maior déficit ocorreu no segmento de alta intensidade, de US$ 23,9 bilhões. Suas exportações cresceram 3,8%, atingindo US$ 6,8 bilhões. Ou seja, apesar da expansão, trata-se de uma base baixa. O acréscimo foi puxado quase exclusivamente por aeronaves e afins, 15,3%. Os produtos farmacêuticos e grande parte dos bens do complexo eletrônico registraram queda nas vendas para o exterior. As importações da faixa diminuíram 1,5%, concorrendo também para o déficit menor do que o observado em período equivalente de 2013.
- A faixa de média-baixa intensidade presenciou novo déficit, de US$ 8,5 bilhões, patamar próximo ao déficit recorde registrado em janeiro-setembro do ano passado. As exportações cresceram 1,0%, alcançando US$ 24,6 bilhões, após dois anos de retração para o acumulado em questão. As exportações de produtos metálicos, item relevante da pauta exportadora do País, cresceram 7,6%, chegando a US$ 15,1 bilhões, com superávit de US$ 4,5 bilhões. Mas tal saldo foi insuficiente ante o déficit de US$ 11,6 bilhões de produtos de petróleo refinado e afins. Aliás, no segmento d média-baixa intensidade, afora os produtos metálicos, só os da construção naval e náutica lograram superávit.
Se, por um lado, o déficit produtos típicos da indústria de transformação não cresceu, por outro, continua superlativo. Como agravante, as exportações declinaram. Uma taxa de câmbio mais favorável para as exportações é de extremo relevo, mas está muito longe de ser o único fator para sua retomada efetiva. Mais: a economia brasileira se tornar menos susceptível às oscilações cambiais. Após as eleições, espera-se uma postura proativa do governo eleito, o que não significa protecionismo espúrio.
Bens Típicos da Indústria de Transformação: Exportando Menos. No acumulado dos nove meses iniciais de 2014, as exportações de bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação declinaram 4,2% diante de igual período de 2013. O País exportou US$ 100,1 bilhões nesse período, menos do que vendera também em janeiro-setembro de 2008, de 2011, 2012 e de 2013. Representou o terceiro declínio seguido.
Quanto às importações dos bens típicos da indústria de transformação, declinaram 3,1% no período, ficando em US$ 149,3 bilhões. Dessa forma, a balança comercial dos bens em questão experimentou seu segundo maior déficit, de US$ 49,2 bilhões, só abaixo do observado em janeiro-setembro de 2013, de US$ 49,5 bilhões. No contraponto entre acumulados até setembro, o resultado comercial dessas mercadorias se deteriorou entre 2006 e 2013, após ter galgado superávit recorde em 2005, de US$ 22,4 bilhões. Em 2008, o saldo deixou de ser superavitário.
Como agravante, tanto em janeiro-setembro de 2013, quanto igual período de 2014, a balança dos demais bens, sobretudo oriundos das indústrias extrativas e da agropecuária, não lograram contrabalançar tais déficits. Seu superávit de US$ 28,1 bilhões no acumulado em tela de 2014 significou queda de US$ 2,0 bilhões frente ao mesmo período do ano anterior. Também ficou aquém do registrado em janeiro-setembro de 2008, de 2010, de 2011 e de 2012. As exportações dos demais bens cresceram 0,7%, enquanto as importações recuaram 0,8%.
Desse modo, a balança comercial registrou seu segundo déficit seguido para o acumulado em questão desde 1999. Dez anos atrás, no mesmo período de 2004, a balança apresentou superávit de US$ 25,2 bilhões. Em igual acumulado de 1994, o superávit fora de US$ 11,0 bilhões.
Vale frisar que o Banco Central projeta que as exportações fecharão 2014 caindo ligeiramente, de US$ 242 bilhões para US$ 240 bilhões, isto é, recuo de 0,8%. Ou seja, haverá recuperação no terceiro trimestre. Mesmo assim, isso permitiria ao Brasil encerrar o ano com um ligeiro superávit comercial de US$ 3 bilhões, pouquíssimo acima do observado em 2013, devido à retração maior das importações. Todavia, segundo o próprio BCB, não impediria o ano de 2014 terminar com déficit na balança de bens e serviços (não-fatores) de US$ 44 bilhões, concorrendo sobremaneira para o saldo negativo das transações correntes.
O balanço de pagamentos mostra uma queda de 0,7% nas vendas para o exterior de bens e serviços no acumulado até setembro de 2014 frente a igual período de 2013. Mesmo que venha a melhorar no trimestre derradeiro, a variação anual continuará contrastando com o avanço de 3,3% das exportações mundiais de bens e serviços projetado pelo ONU-Link Project para 2014. Considerando apenas os países em desenvolvimento o incremento projetado é de 3,9%, mesma variação para a América Latina e Caribe.
Se, por um lado, o déficit produtos típicos da indústria de transformação não cresceu, por outro, continua superlativo. Como agravante, as exportações declinaram. Uma taxa de câmbio mais favorável para as exportações é de extremo relevo, mas está muito longe de ser o único fator para sua retomada efetiva. Mais: a economia brasileira se tornar menos susceptível às oscilações cambiais. Após as eleições, espera-se uma postura proativa do governo eleito, o que não significa protecionismo espúrio.
A Balança por Intensidade Tecnológica. Tomando a classificação adotada pela OCDE para a indústria de transformação segundo a intensidade tecnológica, pode-se obter detalhes dos fluxos comerciais. São quatro faixas da indústria de transformação: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade tecnológica. A tabulação abaixo discrimina os segmentos.
O comércio dos bens produzidos por atividades tidas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica percebeu déficit de US$ 23,9 bilhões nos nove meses iniciais do ano, o segundo maior já registrado na série para tal grupo de produtos, ficando abaixo do saldo negativo de igual período de 2013. A ligeira melhora no contraponto entre iguais acumulados de 2013 e de 2014 reflete o aumento de 3,8% das exportações em dólares correntes contra uma retração de 1,5% nas importações. As vendas externas dos bens atingiram US$ 6,8 bilhões e as importações, US$ 30,7 bilhões, grandeza só superada pela observada em janeiro-setembro/ 2013. Não custa lembrar que parte expressiva dos produtos típicos dessa faixa de intensidade é elaborada em extensas cadeias produtivas globais.
O segmento de média-alta intensidade também observou déficit menor nos bens típicos dele no confronto com igual acumulado do ano passado. Ainda assim, manteve a posição de faixa mais deficitária dentre as quatro: saldo negativo de US$ 45,0 bilhões em janeiro-setembro. O Brasil exportou US$ 26,0 bilhões em gêneros tipicamente produzidos por atividades de média-alta intensidade, 11,4% menos do que em igual período de 2013. Foi a terceira queda consecutiva nas exportações segundo essa base de comparação. Esta faixa encampa os materiais de transporte terrestre, parte expressiva dos bens de capital, além de produtos químicos.
Passando para as mercadorias tipicamente provenientes de atividades de média-baixa intensidade tecnológica, estas experimentaram déficit pela quinta vez seguida, de US$ 8,5 bilhões, déficit só superado pelo registrado em janeiro-setembro de 2013. As exportações cresceram 1,0%. As importações estagnaram: variação de 0,2%. Tais números refletem mudanças nos fluxos comerciais dos dois principais tipos de bens desta faixa: derivados do petróleo, combustíveis e afins; e produtos metálicos, com destaque para commodities industriais.
Quanto ao grupo dos gêneros típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica, como de costume, logrou o único superávit dentre as quatro faixas, de US$ 28,1 bilhões. As exportações caíram 3,4% em relação ao mesmo acumulado de 2013, ficando em US$ 42,7 bilhões. As importações cresceram 3,6%. Daí o menor superávit frente a janeiro-setembro do ano anterior. Tal grupamento abrange grosso modo dois tipos de mercadorias: aquelas cujos processos produtivos utiliza intensivamente recursos naturais abundantes no Brasil; e bens cuja produção são intensivas em recursos humanos.
Bens de Alta Intensidade Tecnológica. O grupo de mercadorias fabricadas por indústrias intensivas em tecnologia presenciou déficit expressivo, o segundo maior na série para janeiro-setembro, de US$ 23,9 bilhões, grandeza só superada pelo déficit registrado em igual acumulado de 2013. Dos cinco subgrupos que conformam esse segmento, somente um logrou superávit. O País ampliou suas vendas externas em 3,8%, mas tal variação significou um incremento que nem chegou a US$ 300 milhões nas exportações, o que realça a baixa magnitude desse fluxo. As importações atingiram US$ 30,7 bilhões, uma retração de 1,5% na comparação com igual acumulado de 2013.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais lograram superávit de US$ 399 milhões. Suas exportações cresceram 15,3% frente a janeiro-setembro do ano passado, chegando a US$ 4,0 bilhões. As importações, a seu turno, declinaram 1,4%, ficando em US$ 3,6 bilhões.
Os três conjuntos de produtos típicos do complexo eletrônico, como tem sido a tônica, contribuíram contundentemente para o saldo deficitário dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica. Destes, dois experimentaram queda seja nas vendas externas seja nas importações na comparação entre noves primeiros meses. Houve queda de 23,7% nas exportações de equipamentos de áudio, vídeo e telecomunicações (inclusive componentes eletrônicos), enquanto as aquisições do exterior tiveram variação de -0,1%, resultando em déficit recorde para o período, de US$ 9,4 bilhões. Já os materiais de escritório e informática tiveram recuo de 27,5% nas exportações, com diminuição de 1,2% nas importações, provocando déficit de US$ 5,0 bilhões. Mesmo sendo o ano de 2014 de Copa do Mundo de Futebol, a grandeza dessas variações chama a atenção. Ademais, desde 2010 as exportações de áudio, vídeo e telecomunicações têm caído tomando-se o contraponto entre três primeiros trimestres. Quanto ao terceiro segmento do complexo eletrônico, de equipamentos e instrumentos médico-hospitalares, ótico e de precisão, suas exportações cresceram 0,1% e suas importações retrocederam 4,2%. Isso não impediu um déficit de monta, de US$ 4,8 bilhões, o segundo maior da série para janeiro-setembro.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 5,0 bilhões, um pouco menor do que o déficit observado no acumulado até o nono mês de 2013. Mas tal retração não decorreu de incremento nas vendas para fora do País: estas ficaram em US$ 1,4 bilhão, diminuição de 2,8% frente a igual período do ano anterior. As importações declinaram 1,4%.
Bens de Média-alta Intensidade Tecnológica. As exportações de produtos das atividades de média-alta intensidade tecnológica declinaram 11,4% em janeiro-setembro de 2014 em relação ao período equivalente do ano passado, ficando em US$ 26,0 bilhões. Como agravante, no mesmo período de 2013, as exportações já tinham caído 3,4%. As importações, a seu turno, diminuíram 6,4%. Apesar dessa retração ter sido menor do que a das exportações, foi o suficiente para reduzir o déficit dos bens em questão – de US$ 46,4 bilhões para US$ 45,0 bilhões. Mas a faixa em pauta continua como a que percebe o pior saldo dentre as quatro.
Os produtos químicos (exceto farmacêuticos) registraram taxas negativas tanto para as exportações – queda de 2,2% – quanto para as importações – recuo de 0,9% – no contraponto entre os nove meses iniciais de 2014 e de 2013. Esses bens continuam tanto com o maior déficit comercial, de US$ 20,0 bilhões, quanto com o maior montante importado, US$ 27,5 bilhões, dentre todos os grupamentos de mercadorias tipicamente produzidos pela indústria de transformação. As exportações ficaram em US$ 7,5 bilhões em janeiro-setembro do ano em curso.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de médio-alta intensidade tecnológica somaram déficit de US$ 8,6 bilhões no acumulado até setembro do ano. Os produtos automobilísticos responderam por si só por um déficit de US$ 7,5 bilhões, recorde para o período em questão. As vendas externas de produtos automobilísticos declinaram 26,4%, ficando em US$ 8,7 bilhões, enquanto as importações retrocederam 10,6%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações retrocederam 13,6%, com as importações aumentando 21,2%. Daí o déficit de US$ 1,1 bilhão desses bens.
Já as máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e as máquinas elétricas, registraram quedas acentuadas nas importações. O País importou 10,5% menos das primeiras e 8,8% menos das máquinas elétricas. As exportações de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados declinaram 0,8%, resultando em montante de US$ 7,0 bilhões e, por conseguinte, em déficit de US$ 11,1 bilhões. Quanto às máquinas elétricas, suas exportações cresceram 0,6%, enquanto as importações declinaram 8,0%, levando a um saldo negativo de US$ 5,3 bilhões. Nos dois casos, os déficits caíram no contraponto com igual acumulado de 2013, o que não deve ser motivo de comemoração: o baixo investimento explica essa retração.
Bens de Média-baixa Intensidade Tecnológica. As exportações de produtos tipicamente oriundos de atividades de média-baixa intensidade tecnológica cresceram 1,0% no acumulado até setembro de 2014 frente a igual período de 2013, ficando em US$ 24,6 bilhões. As importações cresceram menos, 0,2%. Desse modo, o Brasil experimentou novo déficit nesse grupo de bens, de US$ 8,5 bilhões, mas ligeiramente abaixo ao observado em janeiro-setembro de 2013. Ressalte-se que, até 2009, tais bens registravam superávit para o acumulado do ano em tela para a série iniciada em 1989.
O intercâmbio dos produtos típicos da faixa de média-baixa intensidade tecnológica se comporta muito em função de dois conjuntos de bens: produtos metálicos, com destaque para a siderurgia; e bens derivados de petróleo refinado, outros combustíveis e afins.
Em janeiro-setembro, o País vendeu para o exterior US$ 3,6 bilhões de produtos de petróleo refinado e afins, ficando praticamente estável: variação de 0,3%. Quanto às importações, estas retrocederam 0,9%. Com isso, o déficit diminuiu de US$ 11,7 bilhões em janeiro-setembro de 2013 para US$ 11,6 bilhões no mesmo acumulado de 2014. Este foi o segundo pior déficit observado para os bens em pauta.
As magnitudes dos déficits em produtos de petróleo refinado e afins costumavam ser mais do que compensadas pelos superávits de produtos metálicos, mormente da siderurgia. Essa situação mudou em 2010. O superávit dos produtos metálicos e da siderurgia ficou em US$ 4,5 bilhões nos nove meses iniciais de 2014. Suas exportações subiram 7,6%, chegando a US$ 15,1 bilhões, exportando, portanto, menos do que no mesmo acumulado de 2008, 2011 e de 2012. Já as importações, cresceram 1,2% pela mesma base de comparação.
Passando para os grupos de bens de menor expressão, os produtos de minerais não-metálicos tiveram novo déficit, de US$ 82 milhões, o quarto déficit seguido tomando-se os nove meses iniciais do ano, sendo tais anos os únicos a registrarem déficit para janeiro-setembro em toda a série iniciada em 1989. As exportações até se recuperaram, crescendo 4,8% e chegando a US$ 1,6 bilhão, patamar abaixo do já logrado em janeiro-setembro de 2007 e de 2008. As importações desses bens caíram 4,4%, permitindo uma redução no déficit frente ao mesmo acumulado dos três anos anteriores.
Os produtos plásticos e de borracha, por sua vez, viram suas exportações diminuírem 4,2% no acumulado até setembro de 2014, enquanto as importações recuaram 3,8%. Tais variações concorreram para que o saldo desses itens tivesse déficit de US$ 2,7 bilhões, ligeiramente abaixo do déficit recorde observado no período equivalente de 2013.
O intercâmbio de embarcações, navios etc. registrou superávit de US$ 1,4 bilhão em janeiro-setembro. O superávit ficou aquém do logrado em igual acumulado do ano anterior, mas, mesmo assim, foi o segundo melhor resultado desde 1989 para janeiro-setembro. As exportações, porém, recuaram 27,5%, ficando em US$ 2,6 bilhões.
Bens de Baixa Intensidade Tecnológica. As exportações de produtos típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica sofreram queda de 3,4% em janeiro-setembro de 2014, exportando US$ 42,7 bilhões, o que contrasta com a expansão de 3,6% observada na comparação entre iguais períodos de 2013 e de 2012. Já as importações, aumentaram 3,6%. Desse modo, o superávit do segmento, embora positivo, caiu de US$ 30,2 bilhões no acumulado até o nono mês de 2013 para US$ 28,1 bilhões no seu equivalente de 2014.
O fato de ser a única dos quatro faixas por intensidade tecnológica com superávit se deve, como é sabido, aos bens industriais de alimentação, bebidas e fumo. O saldo desses gêneros ficou em US$ 25,4 bilhões nos nove meses iniciais de 2014. Todavia, a exemplo do segmento de baixa intensidade como um todo, tal superávit ficou aquém do registrado em igual período de 2013. De fato, suas vendas externas declinaram 6,3%, ficando em US$ 30,8 bilhões, enquanto as importações cresceram 6,1%.
O intercâmbio de produtos do segmento madeireiro, de papel e celulose, impressão gráfica e afins teve superávit de US$ 5,3 bilhões no acumulado em foco de 2014, o maior de toda a série para janeiro-setembro. Suas exportações cresceram 3,5% nessa base de comparação, chegando a US$ 7,0 bilhões, enquanto as importações retrocederam 4,7%. Apesar dessa performance, não logrou contrabalançar a redução no superávit de alimentos, bebidas e fumo, fazendo com que a magnitude do superávit de toda a faixa de baixa intensidade caísse.
Os dois outros grupos de bens típicos da indústria de baixa intensidade têm registrado déficit nos últimos anos. As exportações produtos diversos ou reciclados declinaram 3,0%. As importações aumentaram 0,6%. Daí o déficit de US$ 830 milhões, o maior já registrado para tais bens no acumulado até o nono mês. Os produtos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, a seu turno, tiveram comportamento distinto: suas exportações cresceram 9,6%, uma variação superior ao acréscimo das importações, de 5,1%. Com isso, o País exportou US$ 4,0 bilhões desses itens, com o déficit ficando em US$ 1,7 bilhão, um pouco abaixo do déficit experimentado em igual período de 2012 e de 2013. Resta saber se esse melhor desempenho exportador será contínuo.
Os dois agrupamentos de bens logo acima se diferenciam bastante dos superavitários dessa mesma faixa. Os produtos têxteis, vestuário, calçados e artigos de couro, são intensivos em mão-de-obra, em que pese parcela deles ser susceptível a estratégias de diferenciação de produtos. Estes foram impactados pela taxa de câmbio apreciada do passado recente. O incremento das exportações pode ser sinalização da própria depreciação cambial. Quanto aos bens gêneros das indústrias de alimentos, bebidas, madeireiras, por sua vez, seus processos produtivos usam intensivamente recursos naturais, nos quais o Brasil é notadamente abundante.