Carta IEDI
A Indústria Mundial no Primeiro Semestre de 2014: A Recuperação Desacelera
Após cinco trimestres de aceleração, a taxa de crescimento do produto da indústria de transformação mundial se reduziu no segundo trimestre de 2014, assinalando 3,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. A taxa de expansão no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo período de 2013 havia sido 4,8%. Em relação ao trimestre anterior, a fabricação de manufaturas no mundo caiu 0,5% no segundo trimestre de 2014. Dado o esfriamento da retomada, as projeções para o crescimento do valor adicionado pela indústria de transformação foram revisadas para baixo: 3,7% em termos mundiais no ano de 2014.
A desaceleração da indústria se deu tanto nas economias emergentes e em desenvolvimento (-1,2% no segundo trimestre de 2014 em relação ao primeiro) quanto nas avançadas (0,0%), puxada fundamentalmente pela Europa – que o relatório alega ser atribuída ao refreamento dos investimentos por conta dos conflitos geopolíticos. Ao mesmo tempo, os EUA apresentaram fraco desempenho da demanda doméstica e redução na atração de investimentos, afetando sua produção da indústria de transformação. A menor demanda dos países avançados implica em redução das exportações dos países em desenvolvimento, e também à desvalorização cambial em alguns desses países – sobretudo por ter sido acompanhada por queda dos preços de diversas commodities.
Desse modo, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, para as economias industrializadas o segundo trimestre de 2014 assinalou crescimento da indústria de transformação de 1,5%, sendo que o índice do primeiro trimestre de 2014 foi 2,5%. A queda foi puxada por desempenhos mais fracos nos setores de químicos, produtos de metal, equipamentos de comunicação e veículos, etc.
Nos países emergentes e em desenvolvimento, a produção média que tinha aumentado 8,6% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo período do ano anterior, assinalou um crescimento do mesmo indicador inferior no segundo trimestre, de 6,5%. China foi a principal responsável por esse resultado. Sua produção se elevou 9,3% entre abril e junho de 2014 em relação a abril/junho do ano anterior, tendo sido 13,1% no primeiro trimestre.
Na América Latina a tendência negativa continua, tendo caído de +0,6% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo trimestre de 2013 para -1,9% no segundo trimestre de 2014 no mesmo indicador. A maior causa é a menor demanda pelas exportações de commodities da região. Assim, as quedas da produção de manufaturas foram de 3,0% na Argentina, 5,4% no Brasil e 1% no Chile.
Em termos setoriais, entre abril e junho de 2014 a produção da indústria de transformação teve taxa de variação positiva em praticamente todos os setores na comparação com abril / junho de 2013, porém a maioria menor do que os indicadores de janeiro/março de 2014.
Nas economias emergentes, apesar de ter havido uma desaceleração do crescimento, cabe destacar o avanço da fabricação de alguns setores, inclusive de alta tecnologia, como equipamentos médicos e instrumentos óticos (11,2%), outros equipamentos de transporte (12,9%), equipamentos elétricos (11,7%), comparando-se o segundo trimestre de 2014 em relação ao mesmo período de 2013. Nas economias avançadas, os setores que tiveram resultado negativo foram tabaco (-1,9%), papel e produtos de papel (-0,3%), impressões e publicações (-1,3%) e coque e refino de petróleo (-0,4%). Porém outros setores desempenharam melhor, como veículos automotores (5,9%), equipamentos de escritório (4,6%) e produtos de borracha e plásticos (4,2%).
Esse movimento impactou afinal a evolução do PIB global, que teve uma recaída nesse primeiro semestre de 2014 tanto nas economias avançadas (crescimento médio de cerca de 2%) quanto nas emergentes e em desenvolvimento (pouco inferior a 5%). O FMI havia projetado resultados melhores anteriormente, só que a realidade se revelou mais negativa em praticamente todos os mercados.
Panorama da Economia Global no Primeiro Semestre de 2014. O objetivo desta carta é fornecer um panorama da economia mundial, com foco na indústria de transformação. Para tanto, apresentam-se os dados mais atualizados disponíveis sobre a produção industrial no mundo, da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), combinados com as informações do FMI (Fundo Monetário Internacional) sobre produção e inflação no globo, contidas na publicação periódica World Economic Outlook.
Nesta semana saiu o documento do FMI sobre o panorama da economia global, que revela que a evolução do PIB global teve uma recaída nesse primeiro semestre de 2014, a despeito da elevação no segundo semestre de 2013. Esse movimento se fez valer tanto nas economias avançadas (crescimento médio entre 1,5% e 2%) quanto nas emergentes e em desenvolvimento (próximo a 4,5%).
O FMI havia projetado resultados melhores anteriormente, só que a realidade se revelou mais negativa em praticamente todos os mercados:
- Estados Unidos, relacionado ao acúmulo de estoques e queda nas exportações – embora o emprego tenha aumentado;
- Rússia e Comunidade dos Estados Independentes (CIS), relacionado À reduções no investimento e às saídas de capitais;
- América Latina, particularmente o Brasil, onde o investimento continua fraco;
- Área do Euro, porque registrou estagnação, dado o declínio do produto na Itália, variação nula na América Latina e crescimento mais lento da Alemanha do que o esperado.
- Japão e China também!
A inflação está abaixo das metas nas economias avançadas (segue em patamar médio de 2%), sendo que algumas registram queda de preços com altas taxas de desemprego. Nas economias emergentes e em desenvolvimento, a inflação em média se mantém estável, em média pouco acima de 5%.
A Indústria de Transformação no Mundo. As projeções para o crescimento do valor adicionado pela indústria de transformação também estavam sobrestimando a recuperação, e agora se espera que seja de 3,7% em termos mundiais em 2014. Após cinco trimestres de crescimento, o produto da indústria de transformação caiu no segundo trimestre de 2014 para 3,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Essa reversão se deu tanto nas economias emergentes e em desenvolvimento quanto nas avançadas, puxada fundamentalmente pela Europa – que o relatório alega ser atribuída ao refreamento dos investimentos por conta dos conflitos geopolíticos. Ao mesmo tempo, os EUA apresentaram fraco desempenho da demanda doméstica e redução na atração de investimentos, afetando sua produção da indústria de transformação. A menor demanda dos países avançados implica em redução das exportações dos países em desenvolvimento, e também à desvalorização cambial em alguns desses países – sobretudo por ter sido acompanhada na queda dos preços de diversas commodities.
Nos países avançados, no segundo trimestre de 2014 o crescimento da indústria de transformação foi de 1,5% em relação ao mesmo trimestre de 2013, sendo que o índice do primeiro trimestre de 2014 foi 2,5%. A queda foi puxada por desempenhos mais fracos nos setores de químicos, produtos de metal, equipamentos de comunicação e veículos, etc.
Nos EUA e Canadá o crescimento do produto da indústria de transformação foi de 3,7% e 3,5% respectivamente entre abril e junho de 2014 em relação ao mesmo período de 2013. Por usa vez, o crescimento na Itália e Alemanha foi de 0,9% e 1,8%, respectivamente, sendo que a segunda foi afetada, entre outros motivos, por resultados pouco expressivos das exportações. De acordo com a UNIDO, os resultados da economia europeia refletem perspectivas cautelosas combinadas com a falta de reformas estruturais.
Já o Reino Unido manteve uma trajetória mais vigorosa de crescimento da produção da indústria de transformação, de 3,6% no segundo trimestre de 2014 comparada ao mesmo período do ano anterior. A Irlanda também tem sua produção manufatureira expandindo bastante há mais de um ano consecutivo – puxada especialmente químicos e produtos de minerais não-metálicos. Por outro lado, a indústria manufatureira da Suíça decresce há seis trimestres seguidos, tendo sido a variação no segundo trimestre de 2014 de -20,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. A causa principal é a redução nas exportações derivada da valorização do franco suíço.
No Leste da Ásia, do primeiro ao segundo trimestre deste ano o produto da indústria de transformação caiu de 5% para -1,3%, especialmente devido às quedas na Coreia e Japão. Aliás, a Coreia tem registrado queda na fabricação de manufaturas desde o terceiro trimestre de 2012. O Japão continua registrando taxas positivas, mas inferiores aos trimestres anteriores.
Nos países emergentes e em desenvolvimento, a produção da indústria de transformação média que tinha aumentado 8,6% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo período do ano anterior, assinalou um crescimento do mesmo indicador inferior no segundo trimestre, de 6,5%. China foi a principal responsável por esse resultado. Sua produção se elevou 9,3% entre abril e junho de 2014 em relação a abril/junho do ano anterior, tendo sido 13,1% no primeiro trimestre.
Na região da Ásia e Pacífico, a indústria de transformação aumentou a produção em 7,9% no segundo trimestre de 2014 m relação a abril-junho de 2013, porém o indicador do primeiro trimestre tinha sido de 10%. Esse desempenho um pouco menos expressivo foi generalizado dentre os setores da indústria. Quanto aos países, destaca-se a desaceleração mais vigorosa na Índia, que atravessa pressão de alta inflação e elevação dos déficits de transações correntes e fiscais.
Na América Latina, a tendência negativa da indústria de transformação continua, tendo sido caído de +0,6% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo trimestre de 2013, e de -1,9% no segundo trimestre de 2014 no mesmo indicador. A maior causa é a menor demanda pelas exportações de commodities da região. Assim, as quedas da produção de manufaturas foram de 3,0% na Argentina, 5,4% no Brasil e 1% no Chile.
Finalmente, na África a evolução da produção da indústria de transformação ficou estável nas taxas de 2,1% no primeiro e 2,7% no segundo trimestre, ambos em relação a igual período de 2013. Entre os países há variações importantes, dessa forma, enquanto a fabricação de manufaturas caiu 1,8% na África do Sul, no Egito cresceu 5,7% entre abril-junho de 2014 em relação ao mesmo trimestre de 2013.
Em termos setoriais, se em janeiro e março de 2014 a produção da indústria de transformação teve resultados positivos em praticamente todos os setores em relação a janeiro/março de 2013, tanto em países industrializados quantos nos emergentes, entre abril e junho de 2014 esse resultado se repetiu exceto para alguns poucos setores nos países industrializados.
Segundo a UNIDO, a incerteza em geral e a debilidade dos mercados de bens e de trabalho, principalmente nas economias industrializadas da Europa, têm reduzido a demanda de bens de consumo como eletrônicos. No caso de duráveis e intermediários a expansão continua, mas a ritmo menor. A produção de equipamentos de radio, televisão e telecomunicações reduziu o ritmo de expansão de 16,8% no primeiro trimestre de 2014 para 7% no segundo, ambos em relação ao mesmo período ano anterior – cuja base era baixa. Essa queda foi mais forte na Ásia. Já a fabricação de veículos automotores retraiu de 7,1% em janeiro/março para 5,0% em abril/junho de 2014, em relação a igual período de 2013. A produção de minerais não-metálicos caiu de 9,2% para 3,6% no mesmo indicador, do primeiro para o segundo trimestre de 2014 – pressionado especialmente pela queda do setor na China.
Nas economias industriais emergentes, apesar de ter havido uma desaceleração do crescimento, cabe destacar o avanço da fabricação de alguns setores, inclusive de alta tecnologia, como equipamentos médicos e instrumentos óticos (11,2%), outros equipamentos de transporte (12,9%), equipamentos elétricos (11,7%), comparando-se o segundo trimestre de 2014 em relação ao mesmo período de 2013. Nas economias avançadas, os setores que tiveram resultado negativo foram tabaco (-1,9%), papel e produtos de papel (-0,3%), impressões e publicações (-1,3%) e coque e refino de petróleo (-0,4%). Porém outros setores desempenharam melhor, como veículos automotores (5,9%), equipamentos de escritório (4,6%) e produtos de borracha e plásticos (4,2%).
Referências
FMI. World economic outlook, recovery, strengthens, remains uneven. Outubro 2014. FMI, 2014
UNIDO. Report on World Manufacturing Production, Statistics for quarter II, 2014. Setembro, 2014.