Carta IEDI
Início do Segundo Semestre de 2014 da Indústria: Emprego Recua e Produção Regional Não Convence
Em julho, mês que abriu o segundo semestre de 2014, os números da indústria não foram favoráveis. A evolução do emprego industrial vai se configurando como uma das piores da história recente da indústria, e a produção industrial não dá sinais claros de melhoras. De fato, a desagregação regional confirmou que o crescimento da produção industrial de julho (0,7% contra junho, com ajuste sazonal) resultou da recomposição das atividades produtivas em algumas localidades do País, notadamente naquelas cujas indústrias sofreram fortes reveses nos meses anteriores, sobretudo os ocorridos no mês de junho. E mais: em julho, não houve recuperação da produção da indústria de São Paulo, o centro industrial do país.
De acordo com os números do IBGE, na comparação julho com junho, com ajuste sazonal, a produção industrial avançou bastante no Amazonas (16,1%), Paraná (7,3%) e Ceará (7,1%). No entanto, no primeiro estado, a produção havia caído 5,1%, 6,5% e 9,8% nos meses de abril, maio e junho, respectivamente, um acumulado de quase –20,0% nesses três meses. No Paraná, os 7,3% de julho não recuperaram a queda de 8,1% de junho – lembrando que em meses anteriores, a evolução da produção paranaense não era nada favorável: –3,0%, –2,3% e +0,9% em março, abril e maio, nessa ordem. No Ceará, o aumento de 7,1% em julho compensou parcialmente a retração de 6,6% da produção industrial registrada em junho.
Movimentos semelhantes da produção industrial podem ser vistos na Região Nordeste (aumento de 5,6% em julho contra quedas de 4,1% e 4,5%, respectivamente, em maio e junho), na Bahia (+4,7% em julho contra –7,5% e –1,6%, nessa ordem, também nos meses de maio e junho), em Santa Catarina (+4,0% em julho contra –5,2% em junho), em Pernambuco (+3,2% em julho contra –7,2% em junho), e no Rio Grande do Sul (+1,5% contra –3,8%, –3,4%, –1,0% e –2,5%, respectivamente, em março, abril, maio e junho) – todas as taxas de variação supracitadas calculadas no mês com relação ao mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Dificilmente, portanto, pode-se enxergar uma reação mais consistente da indústria nacional no mês de julho. Muitas empresas em diferentes estados e de diferentes ramos produtivos compensaram, em julho, parte do encolhimento da produção ocorrida em junho, em boa medida decorrente da paralisação das atividades em dias de jogos da Copa. Como dito acima, no estado em que a indústria é mais representativa e mais diversificada, São Paulo, a produção, que havia recuado 1,4% em junho, voltou a cair em julho (–1,2%), o que reforça o argumento de que, infelizmente, não há muito a se comemorar com os resultados de julho.
A evolução do índice de média móvel trimestral (com ajuste sazonal) reflete melhor esse movimento recente da indústria nacional; e ele permite observar que, apesar de melhorar na margem, a produção industrial ainda continua no vermelho: queda de 0,5% no trimestre encerrado em julho frente ao trimestre encerrado no mês imediatamente anterior – nos trimestre anteriores os resultados negativos foram de –0,4% em abril, –0,7% em maio e –0,9% em junho. Ainda utilizando a média móvel trimestral com ajuste sazonal, a produção industrial recuou em onze das catorze localidades pesquisadas pelo IBGE, destacando-se as quedas na Bahia (–1,7%), em Pernambuco (–1,5%), na Região Nordeste (–1,1%), no Pará (–0,9%), no Rio Grande do Sul (–0,7%), no Amazonas (–0,7%) e em São Paulo (–0,6%).
Quanto ao emprego industrial, a evolução do número de ocupados na indústria brasileira nos primeiros sete meses deste ano vai se caracterizando como a pior na série histórica do IBGE, iniciada em 2002. De fato, com exceção de 2009, ano da crise internacional, a retração de 0,7% do número de ocupados na indústria em julho ante o mês imediatamente anterior (com ajuste sazonal) – a quarta queda consecutiva nesse tipo de comparação – intensificou ainda mais o resultado negativo acumulado no ano, o qual ficou em –2,6% no período janeiro-julho.
Após um longo período de câmbio valorizado, deparando-se com mercados externos enfraquecidos e altamente concorridos, arcando com altos custos de produção e apresentando baixa produtividade, a indústria nacional vai amargando mais um ano de encolhimento do emprego, consequência direta da queda de sua produção, a qual também fechará 2014 “no vermelho”.
Como mostrou o recente estudo do IEDI “A Reorientação do Desenvolvimento Industrial”, para mudar esse quadro da indústria é necessário “atacar” velhos e conhecidos pontos da agenda brasileira: reforma e simplificação da estrutura tributária; geração de investimentos eficientes e eficazes em infraestrutura; reforma da legislação trabalhista para atualizar e simplificar sua regulação; ajustes na política cambial e de juros para atender às necessidades de competitividade e de financiamento dos setores produtivos. À indústria brasileira cabe aumentar significamente sua produtividade e sua capacidade inovadora.
É com o equacionamento dos temas macroeconômicos e do “custo Brasil” que os custos de produção serão reduzidos, a produtividade da economia será impulsionada e se desenvolverá um ambiente de negócios favorável à execução de uma política industrial e de inovação capaz de contribuir decisivamente para transformar a indústria em um setor competitivo e de alta produtividade.
A crise do emprego industrial é o aspecto mais visível do momento difícil pelo qual a indústria vem passando – momento este que, vale apontar, vai reverberando cada vez mais nos demais setores da economia brasileira. E tal crise no mercado de trabalho da indústria é geral: aparece em diferentes ramos produtivos e em diferentes localidades do País.
No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o número de ocupados na indústria caiu em treze dos quatorze locais e em quatorze dos dezoito setores investigados pelo IBGE. São Paulo (–3,7%) apresentou o principal impacto negativo, seguido por Rio Grande do Sul (–4,0%), Paraná (–3,9%), Minas Gerais (–1,8%), Região Nordeste (–1,3%) e Rio de Janeiro (–1,9%). Setorialmente, os impactos negativos mais relevantes vieram de produtos de metal (–6,7%), máquinas e equipamentos (–5,0%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–6,7%), calçados e couro (–7,7%), meios de transporte (–3,7%), produtos têxteis (–5,1%), refino de petróleo e produção de álcool (–8,3%), vestuário (–2,6%) e outros produtos da indústria de transformação (–3,2%).
Produção Industrial Regional. De acordo com os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal – Regional do IBGE, na passagem de junho para julho (com ajuste sazonal) a produção industrial cresceu em onze dos catorze locais pesquisados. Os avanços mais acentuados assinalados por Amazonas (16,1%), Paraná (7,3%) e Ceará (7,1%). O primeiro interrompeu três meses consecutivos de queda na produção, período em que acumulou redução de 19,9%; o segundo recuperou parte da perda de 8,1% registrada no mês anterior; e o terceiro eliminou o recuo de 6,6% verificado em junho último. Região Nordeste (5,6%), Bahia (4,7%), Santa Catarina (4,0%), Espírito Santo (3,6%), Pernambuco (3,2%), Rio Grande do Sul (1,5%) e Rio de Janeiro (1,2%) também apontaram taxas positivas mais intensas do que a média nacional (0,7%), enquanto Minas Gerais, com acréscimo de 0,5%, mostrou avanço mais moderado. Por outro lado, Goiás (–2,2%), São Paulo (–1,2%) e Pará (–0,8%) assinalaram as taxas negativas nesse mês e apontaram a segunda queda consecutiva nesse tipo de comparação, acumulando nesse período perdas de –2,6%, –2,6% e –2,7%, respectivamente.
Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial nacional recuou 3,6% em julho de 2014, com perfil disseminado de resultados negativos em termos regionais, já que 13 dos 15 locais pesquisados apontaram queda na produção. Nesse mês, os recuos mais intensos foram registrados por Rio Grande do Sul (–10,6%), Bahia (–7,5%), Paraná (–6,4%) e São Paulo (–5,8%), pressionados, em grande parte, pela redução na produção dos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias, no primeiro local; de veículos automotores, reboques e carrocerias, no segundo; de veículos automotores, reboques e carrocerias, no terceiro, e de veículos automotores, reboques e carrocerias e de máquinas e equipamentos, no último. Pernambuco (–4,3%) e Minas Gerais (–3,7%) também assinalaram quedas mais acentuadas do que a média nacional (–3,6%), enquanto Goiás (–3,2%), Região Nordeste (–3,1%), Santa Catarina (–2,7%), Pará (–1,7%), Amazonas (–1,5%), Ceará (–1,5%) e Rio de Janeiro (–1,3%) completaram o conjunto de locais com taxas negativas. Por outro lado, Espírito Santo (10,3%) e Mato Grosso (4,8%) assinalaram os avanços nesse mês.
No indicador acumulado para o período janeiro–julho de 2014, a redução na produção nacional alcançou 11 dos 15 locais pesquisados, com cinco recuando com intensidade superior à da média da indústria (–2,8%): São Paulo (–5,2%), Bahia (–5,0%), Rio Grande do Sul (–4,9%), Paraná (–4,8%) e Rio de Janeiro (–3,3%). Santa Catarina (–1,8%), Ceará (–1,5%), Minas Gerais (–1,3%), Região Nordeste (–0,5%), Goiás (–0,4%) e Espírito Santo (–0,2%) completaram o conjunto de locais com resultados negativos no fechamento dos sete primeiros meses de 2014. Por outro lado, Pará (10,9%), Amazonas (3,3%), Pernambuco (2,6%) e Mato Grosso (1,1%) assinalaram as taxas positivas no índice acumulado do ano.
Espírito Santo. No confronto com julho de 2013, constatou–se expansão de 10,3%, taxa influenciada principalmente pelos setores: extrativista (17,5%), minerais não metálicos (3,5%) e metalurgia (11,8%). No acumulado no ano de 2014, entretanto, a produção industrial apresentou leve queda (–0,2%), sob influência de metalurgia (–10,1%) e produtos alimentícios (–8,3%).
São Paulo. Em julho, a indústria paulista apresentou queda de 1,2% na comparação com junho (dados livres de efeitos sazonais). Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), o estado registrou queda de 5,8%, taxa impulsionada pelos setores de: veículos automotores, reboques e carrocerias (–21,4%); máquinas e equipamentos (–16,8%); produtos de metal (–9,8%), outros produtos químicos (–4,2%); produtos de borracha e de material plástico (–11,9%); metalurgia (–15,8%). No acumulado no ano de 2014 a produção industrial recuou 5,2%, com destaque para os setores de: veículos automotores, reboques e carrocerias (–17%); máquinas e equipamentos (–7,5%); produtos de metal (–9,5%); outros produtos químicos (–5,3%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–7,7%); metalurgia (–10,6%). Nessa comparação, apenas produtos alimentícios tiveram contribuição positiva relevante (3,2%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (8,5%).
Emprego Industrial. Na passagem de junho para julho, com dados dessazonalizados, o emprego industrial apresentou variação negativa de 0,7%, o quarto resultado negativo consecutivo. No confronto com o mesmo mês de 2013 verifica–se recuo de 3,6%, 34º resultado negativo consecutivo nesse tipo de confronto. No acumulado entre janeiro e julho, em relação ao mesmo período do ano anterior, também se verificou decréscimo (–2,6%). Nos últimos 12 meses encerrados em julho, o emprego apresentou variação acumulada de –2,2%.
Em termos regionais, na comparação mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), houve queda em todas as localidades contempladas pela pesquisa, com destaque especial para São Paulo (–5,1%), devido as taxas negativas em 16 dos 18 setores investigados. Outros resultados negativos ocorreram no Paraná (–5,6%), Rio Grande do Sul (–3,8%), Região Nordeste (–2,6%), Minas Gerais (–2,3%) e Rio de Janeiro (–2,9%).
No índice acumulado dos sete primeiros meses de 2014, o emprego industrial registrou queda em 13 locais, com destaque para São Paulo (–3,7%) apontou o principal impacto negativo, vindo a seguir Rio Grande do Sul (–4,0%), Paraná (–3,9%), Minas Gerais (–1,8%), Região Nordeste (–1,3%) e Rio de Janeiro (–1,9%). Por outro lado, Pernambuco, com avanço de 1,1%, exerceu a única pressão positiva.
Setorialmente, o emprego industrial de julho confrontado com mesmo mês de 2013, 15 dos 18 ramos pesquisados registraram queda, com destaque para meios de transporte (–6,6%), produtos de metal (–7,3%), máquinas e equipamentos (–5,5%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–7,1%), calçados e couro (–7,9%), alimentos e bebidas (–1,5%), vestuário (–4,6%), produtos têxteis (–5,4%) e outros produtos da indústria de transformação (–4,5%). Por outro lado, os impactos positivos sobre a média da indústria vieram dos setores de minerais não–metálicos (1,6%), de produtos químicos (1,1%) e de papel e gráfica (0,1%).
No ano, as contribuições negativas mais significativas vieram de produtos de metal (–6,7%), máquinas e equipamentos (–5,0%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–6,7%), calçados e couro (–7,7%), meios de transporte (–3,7%), produtos têxteis (–5,1%), refino de petróleo e produção de álcool (–8,3%), vestuário (–2,6%) e outros produtos da indústria de transformação (–3,2%). Já os principais impactos positivos vieram de alimentos e bebidas (0,5%) e produtos químicos (1,9%).
Folha de Pagamento Real. Em julho, a folha de pagamento real do setor industrial apresentou queda de 2,9% frente ao mês anterior, na série livre de efeitos sazonais. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a folha de pagamento real apresentou recuo de 3,4%, apoiada pelos resultados negativos em doze localidades pesquisadas e dezessete setores. No ano, a variação acumulada até julho foi positiva, de 0,6%.
Número de Horas Pagas. O número de horas pagas, indicador de futuras contratações de mão–de–obra na indústria, assinalou pequeno decréscimo de 0,3% na passagem de junho de 2014 para julho, já descontados os efeitos sazonais. Contra julho de 2013, o número de horas pagas decresceu 4,2%. No acumulado de 2014 até julho, a queda das horas pagas na indústria chegou a –3,1%.