Carta IEDI
A Indústria da Transformação Vai Bem No Mundo, Mas No Brasil...
No último trimestre de 2013, pela primeira vez desde 2010, todos os grupos de países avançados analisados pela UNIDO assinalaram crescimento na produção em relação a igual trimestre de 2012, incluindo a Europa. Também foi notável o fato de que todos os setores da indústria da transformação registraram variação positiva da produção em relação ao mesmo período de 2012.
Essa tendência positiva se manteve no primeiro trimestre de 2014. A indústria de transformação mundial cresceu 5,1% entre janeiro e março de 2014 e 3,3% entre outubro e dezembro de 2013, ambos comparados a igual período do ano anterior. Na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o quarto trimestre do ano passado, houve elevação de 3,7% na produção industrial, com ajustes sazonais. A estimativa é de que ao longo de 2014 esta recuperação persista.
A diferença entre as taxas de crescimento da indústria de transformação das nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que até o final do ano passado vinha diminuindo, voltou a aumentar nos três meses iniciais de 2014. Neste período, a expansão foi de 3,3% nas nações desenvolvidas em relação ao mesmo período do ano anterior, tendo sido 2,3% no trimestre outubro/dezembro de 2013 na mesma comparação. Por sua vez, a taxa de crescimento das nações em desenvolvimento e países industriais emergentes deu um grande salto de 9,4% entre janeiro e março de 2014, tendo sido de 5,9% no quarto trimestre de 2013, ambos em relação a igual período do ano anterior.
As economias desenvolvidas respondem por dois terços da produção mundial, mas são as economias emergentes e em desenvolvimento que vêm puxando a taxa de crescimento. Segundo o relatório da UNIDO, durante os anos de crise (2008 a 2013), o valor adicionado da indústria de transformação deste segundo grupo de países cresceu cerca de 5% ao ano, enquanto o primeiro grupo teve crescimento negativo. O recente vigor da produção da indústria de nos países industrializados deve-se ao maior dinamismo de suas economias domésticas e às expressivas políticas de estímulo para o setor. Nos países em desenvolvimento, o crescimento teve que ver principalmente com a retomada das economias centrais.
Os EUA, maior produtor mundial da indústria de transformação, lograram crescimento de 2,5% no primeiro trimestre de 2014, em comparação a janeiro-março de 2013, principalmente em bens de alta intensidade tecnológica e bens de capitais. Porém, dentre os países industrializados, o aumento mais significativo da produção manufatureira, considerando o porte da economia, foi o do Japão: 8,1% - especialmente devido à desvalorização do iene.
No primeiro trimestre de 2014 a produção da indústria de transformação da Europa cresceu 3,1%, segundo resultado positivo consecutivo (e também da zona do Euro), tendo sido de 4,1% na Alemanha, 1,8% na França, 3,5% na Inglaterra – o que implicou uma recuperação considerável da indústria dos países do leste europeu, como a República Tcheca (8,2%) e Hungria (8,9%) entre janeiro e março de 2014, em relação ao mesmo período de 2013.
Nos países emergentes e em desenvolvimento, a produção da indústria de transformação média sofreu leve redução ao longo de 2013, considerando a comparação com iguais trimestres de 2012. Contudo tornou a se elevar no primeiro trimestre de 2014, 9,4%.
China foi a principal responsável por esse resultado. Sua produção cresceu 13,1%, graças à expansão das exportações e às políticas de incentivo ao mercado doméstico, em especial os investimentos em infraestrutura. Em outros países do bloco, a variação foi bem mais moderada (3,8% na Indonésia, 2,5% no México e 1,6% na África do Sul) e até negativa, como no caso Argentina (-1,8%) e Índia (-1,6%)
O Brasil, que não começou bem o ano de 2014 e ao que tudo indica terá um primeiro semestre ruim em termos do desempenho industrial, compõe este último bloco com declínio de -0,2%.
A análise permite ainda observar que a evolução da produção entre o quarto trimestre de 2013 e o mesmo período de 2012, como de costume, foi superior nos países em desenvolvimento e emergentes, exceto em equipamentos de escritório e computadores e veículos automotores. Vale destacar que naquele trimestre pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2011, o setor têxtil registrou crescimento da produção nos países industrializados, com forte expansão nos países em desenvolvimento e emergentes.
Já nestes três primeiros meses de 2014, pela primeira vez a produção da indústria de transformação foi positiva em praticamente todos os setores, tanto em países industrializados quantos nos emergentes. A perspectiva para o longo prazo é de contínuo crescimento, haja vista a retomada das indústrias produtoras de bens de consumo e de capital.
Examinando a evolução por setores, no primeiro trimestre de 2014 o aumento da produção mundial foi mais expressivo em produtos de tabaco (18,8%), rádio/TV/ telecomunicações (15,5%), produtos de minerais não metálicos (9,0%), móveis (8,5%), metais básicos (7,6%) vestuário e confecções (7,6%). Por usa vez, os desempenhos mais fracos se deram nos setores de produtos de papel (0,9%), publicação e impressão (1,1%), produtos de madeira, exceto móveis (1,9%) e instrumentos óticos, médicos e de precisão (2,2%).
Tal melhoria no quadro da indústria está inserida no panorama mais geral de retomada econômica dos países avançados e do mundo, conforme destaca o último relatório semestral do FMI. Em 2013 o crescimento da produção mundial foi de 3%. Espera-se que a atividade global continue melhorando em 2014 (3,6%) e 2015 (3,9%), sendo que o ímpeto está sendo dado pelos países avançados (crescimento de 1,25% em 2013, com projeção de 2,25% para 2014-2015).
Por fim, cabe ponderar que ao se tomar o setor industrial em conjunto, segundo os dados do Banco Mundial, a taxa de crescimento real, em dólares de 2010, vem caindo ano a ano de 2010 até 2013, tendo a produção mundial aumentado 3% em 2012 e 2,6% em 2013. A desaceleração se dá em todos os grupos de países e em todas as regiões. Cabe notar que o Brasil, segundo este indicador, teve crescimento superior à média mundial em 2013, de 2,9% - o que deve estar associado essencialmente ao fator cambial.
Introdução. O objetivo desta carta é fornecer um panorama da economia mundial, com foco na indústria de transformação. Para tanto, utilizamos os relatórios e dados mais atualizados disponíveis sobre a produção industrial no mundo, da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), combinados com as informações do FMI (Fundo Monetário Internacional) contidas na publicação periódica World Economic Outlook e do Banco Mundial em Global Economic Prospects.
A Indústria de Transformação no Mundo: Relatório Trimestral UNIDO. De acordo com o último relatório trimestral da UNIDO sobre a evolução da indústria de transformação no mundo, o quarto trimestre de 2013 representou um avanço notável em relação aos anteriores, graças à recuperação dos grupos de economias industrializadas. Pela primeira vez desde 2010, todas registraram variação positiva da produção da indústria de transformação, incluindo a Europa.
Essa tendência positiva se manteve no primeiro quadrimestre de 2014. A indústria de transformação mundial cresceu 5,1% entre janeiro e março de 2014 e 3,3% entre outubro e dezembro de 2013, ambos comparados a igual período do ano anterior. Na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o quarto trimestre do ano passado, houve elevação de 3,7% na produção industrial, com ajustes sazonais. A estimativa é de que ao longo de 2014 esta recuperação persista.
Vale observar também, que a diferença entre as taxas de crescimento da indústria de transformação das nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que até o final do ano passado vinha diminuindo, voltou a aumentar neste primeiro trimestre de 2014. Neste período, a expansão foi de 3,3% nas nações desenvolvidas em relação ao mesmo período do ano anterior, tendo sido 2,3% no trimestre julho/setembro na mesma comparação. Por sua vez, a taxa de crescimento da indústria de transformação das nações em desenvolvimento e países industriais emergentes deu um grande salto de 9,4% entre janeiro e março de 2014, tendo sido 5,9% no quarto trimestre de 2013, ambos em relação a igual período do ano anterior.
As economias desenvolvidas respondem por dois terços da produção mundial, mas são as economias emergentes e em desenvolvimento que vêm puxando a taxa de crescimento. Segundo o relatório da UNIDO, durante os anos de crise (2008 a 2013), o valor adicionado da indústria de transformação deste segundo grupo de países cresceu cerca de 5% ao ano, enquanto o primeiro grupo teve crescimento negativo. O recente vigor da produção da indústria de nos países industrializados deve-se ao maior dinamismo de suas economias domésticas e às expressivas políticas de estímulo para o setor. Nos países em desenvolvimento, o crescimento teve que ver principalmente com a retomada das economias centrais.
Os EUA, maior produtor mundial da indústria de transformação, lograram crescimento de 2,5% no primeiro trimestre de 2014, em comparação a janeiro-março de 2013, principalmente em bens de alta intensidade tecnológica e bens de capitais. Porém, dentre os países industrializados, o aumento mais significativo da produção industrial de manufaturas, considerando o porte da economia, foi o do Japão: 8,1% - especialmente devido à desvalorização do iene.
No primeiro trimestre de 2014 a produção da indústria de transformação da Europa cresceu 3,1%, segundo resultado positivo consecutivo (e também da zona do Euro), tendo sido de 4,1% na Alemanha, 1,8% na França, 3,5% na Inglaterra – o que implicou uma recuperação considerável da indústria dos países do leste europeu, como a República Tcheca (8,2%) e Hungria (8,9%) entre janeiro e março de 2014, em relação ao mesmo período de 2013.
Nos países emergentes e em desenvolvimento, a produção da indústria de transformação média sofreu leve redução ao longo de 2013, considerando a comparação com iguais trimestres de 2012. Contudo tornou a se elevar no primeiro trimestre de 2014, 9,4%. China foi a principal responsável por esse resultado. Sua produção cresceu 13,1%, graças à expansão das exportações e às políticas de incentivo ao mercado doméstico, em especial os investimentos em infraestrutura. Em outros países do bloco, a variação foi bem mais moderada (3,8% na Indonésia, 2,5% no México e 1,6% na África do Sul) e até negativa, como no caso de Brasil -0,2%, Argentina -1,8% e Índia -1,6%.
A melhoria na produção industrial dos países desenvolvidos deverá impactar favoravelmente a produção nos outros países, mas não imediatamente. Além disso, segundo a UNIDO é provável que a retenção de capital dos países industrializados permaneça, sobretudo considerando suas políticas internas de promoção da indústria de transformação e do investimento doméstico.
"Produtores das economias industrializadas, e ainda, introduziram um modelo de cadeias de fornecedores liderado pela demanda para aproveitar as novas oportunidades no mercado com uma forte foco em inovação de produto (...) o que deve limitar tanto a importação de commodities quanto a saída de capitais por algum tempo. Entretanto, logo que a produção industrial suba e as taxas de emprego melhorem, a importação de bens de consumo dos países em desenvolvimento irão eventualmente crescer, portanto pavimentando o caminho para outro ciclo de crescimento da indústria de transformação em economias emergentes e em desenvolvimento" (UNIDO, III trimestre de 2013, p. 14).
Por sua vez, a queda na produção dos países em desenvolvimento ao longo de 2013 é fruto de fatores externos mas também de internos, principalmente custos de produção, taxas de juros e de câmbio - o que levou-os a procurar soluções e políticas visando as margens da produção doméstica.
Analisando por setor da indústria de transformação, ainda segundo a UNIDO, a evolução da produção entre outubro e dezembro de 2013 em relação ao mesmo trimestre de 2012, como de costume, foi superior nos países em desenvolvimento e emergentes, exceto em equipamentos de escritório e computadores e veículos automotores. Vale destacar que naquele trimestre pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2011, o setor têxtil registrou crescimento da produção nos países industrializados, com forte expansão nos países em desenvolvimento e emergentes.
Já nestes três primeiros meses de 2014, pela primeira vez a produção da indústria de transformação foi positiva em praticamente todos os setores, tanto em países industrializados quantos nos emergentes. A perspectiva para o longo prazo é de contínuo crescimento, haja vista a retomada das indústrias produtoras de fatores, bens de consumo e de capital.
Examinando a evolução total, no primeiro trimestre de 2014 o aumento da produção mundial foi mais expressivo em produtos de tabaco (18,8%), rádio/TV/ telecomunicações (15,5%), produtos de minerais não metálicos (9,0%), móveis (8,5%), metais básicos (7,6%) vestuário e confecções (7,6%). Por usa vez, os desempenhos mais fracos se deram nos setores de produtos de papel (0,9%), publicação e impressão (1,1%), produtos de madeira, exceto móveis (1,9%) e instrumentos óticos, médicos e de precisão (2,2%).
Quando se considera o setor industrial em conjunto internacional, segundo os dados do Banco Mundial, a taxa de crescimento real, em dólares de 2010, vem caindo ano a ano de 2010 até 2013, tendo aumentado 3% em 2012 e 2,6% em 2013. A desaceleração se dá em todos os grupos de países e em todas as regiões. Cabe notar que o Brasil, segundo este indicador, teve crescimento superior à média mundial em 2013, de 2,9% - o que deve estar associado ao fator cambial.
Referências
Banco Mundial. Global Economic Prospects. World Bank Group: Washington: Vol. 9, junho 2014.
FMI. World economic outlook, recovery, strengthens, remains uneven. Abril 2014. FMI, 2014
UNIDO. Report on World Manufacturing Production, Statistics for quarter I, 2014. Maio, 2014.