O comércio internacional dos bens típicos da indústria de transformação registrou o expressivo déficit de US$ 48,7 bilhões em 2011. Conseguiu, assim, suplantar em 40,2% o já expressivo déficit presenciado em 2010 quando o saldo ficou negativo em US$ 34,8 bilhões. Acresça-se que os bens típicos da indústria de transformação participaram com menos de 60% da pauta. Desde 2005, a participação destes produtos tem sido cada vez menor atestando a commoditização da pauta exportadora brasileira.
O déficit comercial dos bens típicos da indústria de transformação por si só não é ruim. Mas, a persistir o descompasso entre vendas do varejo e produção física interna da indústria, como aconteceu em boa parte de 2011, o quadro é distinto. Os obstáculos relativos a tanto são bem sabidos. Há capacidade ociosa na indústria asiática, concorrendo para agressivos preços baixos. A taxa de câmbio continua como óbice às vendas externas do Brasil, assim como os conhecidos problemas de infraestrutura, complexo sistema tributário, cara intermediação financeira e a carência de recursos humanos qualificados e mesmo de serviços especializados.
A ironia é que a favor do Brasil está sua baixa exposição a desastres naturais, diferentemente do que tem ocorrido recentemente, a exemplo do Japão com a tsunami e da Tailândia, cujas enchentes comprometeram a produção de discos rígidos usados em computadores, notebooks etc. Tais fenômenos têm levado as transnacionais a reverem suas estratégias de cadeias produtivas enxutas. As corporações querem mais opções para não ficar refém de fornecedores e serviços. Logo, é um momento propício para a inserção brasileira. A questão é suplantar os obstáculos expostos acima e aproveitar a janela de oportunidades, que pode não se abrir desta forma futuramente.
Atendo-se ao intercâmbio de bens da indústria de transformação e enfocando a classificação por intensidade tecnológica, segundo o critério da OCDE, há informações úteis a serem consideradas:
- Os bens produzidos por atividades de alta intensidade tecnológica observaram déficit sem igual para o período do ano em questão, de US$ 30,0 bilhões. Em 2010, o saldo negativo fora já muito expressivo, de US$ 26,2 bilhões. Em paralelo, as exportações cresceram muito discretamente, atingindo US$ 9,6 bilhões. Somente os equipamentos de transporte aéreo lograram superávit, de US$ 179 milhões. Pouco para fazer frente aos déficits característicos do conjunto de bens eletrônicos e dos produtos farmacêuticos.
- Na faixa dos bens de média-alta tecnologia, o déficit ultrapassou a casa dos US$ 50 bilhões, chegando a US$ 52,4 bilhões. Tanto as vendas externas de bens da indústria automobilística, quanto as de equipamentos elétricos e equipamentos mecânicos e outros cresceram, apesar da deterioração nos saldos. Até as exportações de produtos químicos aumentaram. Ocorre quas as importações evoluíram em muito maior escala. Mencione-se que o déficit em automóveis chegou a US$ 7,4 bilhões e o de produtos químicos a US$ 22,4 bilhões.
- Já o segmento de média-baixa intensidade tecnológica, ficou deficitário em US$ 9,3 bilhões em 2011. Foi a segunda vez e consecutiva que os bens típicos deste conjunto de atividades registrou déficit. Sua magnitude inclusive ultrapassou a de 2010. O fato é que o saldo dos produtos metálicos – superávit de US$ 8,7 bilhões acompanhado de exportação recorde – não foi o suficiente para se contrapor ao déficit de produtos de petróleo refinado e afins, déficit de US$ 15,9 bilhões. E desta vez mesmo os produtos de minerais não-metálicos experimentaram saldo negativo. Os produtos plásticos e de borracha também registraram déficit. Já o intercâmbio de embarcações, navios etc. obteve superávit, mas de apenas US$ 850 milhões.
- A faixa de baixa intensidade tecnológica em mais uma oportunidade mitigou os efeitos dos déficits das demais faixas. O superávit sem igual na série, de US$ 42,9 bilhões foi puxado por exportações de US$ 61,4 bilhões. Os bens das indústrias de alimento, bebidas e fumo foram decisivos, com superávit de US$ 38,8 bilhões e exportações de US$ 46,1 bilhões. Os produtos madeireiros e de papel e celulose também contribuiu positivamente. Por outro lado, o conjunto das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados experimentou seu segundo e seguido déficit, de US$ 1,5 bilhão, na série iniciada em 1989.
Com o cenário internacional desfavorável por conta dos desdobramentos da crise internacional, as poucas oportunidades que surgem devem ser buscadas com afinco. O fato da estratégia de cadeias enxutas estar em xeque é uma delas, o que casa com o intento do governo federal em atrair fornecedores de componentes eletrônicos, um dos focos do déficit comercial, bem como de buscar defender e fomentar segmentos intensivos em recursos humanos, como a indústria têxtil, do vestuário e calçadista. A adição de valor também deve continuar a ser perseguida, menos sob o prisma de nacionalizar pura e simplesmente e mais na perspectiva de que elos produtivos podem ser difusores de um “aprender a fazer” essencial para ganhos de produtividade.
Leia mais sobre o tema no texto abaixo.
Déficit de quase US$ 50 bilhões dos bens típicos da indústria de transformação. Em 2011, o saldo externo das mercadorias tipicamente produzidas pela indústria de transformação atingiu seu déficit de maior magnitude: déficit de US$ 48,7 bilhões. Assim, perante 2010, constata-se um acréscimo de US$ 14,0 bilhões na grandeza desse resultado negativo. Não custa lembrar que, seis anos antes, em 2005, o Brasil experimentava o maior superávit no intercâmbio destes produtos de sua história, US$ 31,1 bilhões, e até 2007 tal balança era positiva, US$ 18,8 bilhões. Dez anos atrás, em 2001, o saldo dos produtos típicos da indústria de transformação também acusou déficit, de US$ 2,1 bilhões. Em 1991, o resultado fora superavitário, em US$ 9,3 bilhões.
Ainda assim, os demais bens, basicamente produtos da extração mineral e da agropecuária, mais do que contrabalançaram tal déficit ao galgarem superávit recorde de US$ 78,5 bilhões, incremento de US$ 23,5 bilhões ao resultado de 2010. Tal incremento se deveu sobremaneira à expansão das exportações desses produtos, que saltaram de US$ 77,4 bilhões em 2010, para US$ 108,0 bilhões, no ano passado. Tais números contribuíram bastante para que, após quatro anos ininterruptos de recuo do superávit comercial brasileiro, o saldo total se elevasse, para US$ 29,8 bilhões em 2011. No ano anterior, as exportações líquidas somaram US$ 20,3 bilhões. O maior superávit da balança de bens do País foi conquistado em 2006, totalizando US$ 46,4 bilhões.
Voltando ao intercâmbio dos produtos típicos da indústria de transformação, vale frisar que o superlativo aumento de seu déficit comercial foi acompanhado de aumento das exportações, chegando a US$ 148,0 bilhões, superando enfim o montante recorde anterior, obtido em 2008, de US$ 137,0 bilhões. Em 2010, as vendas externas de tais bens foram de US$ 124,6 bilhões.
Entretanto, considerando a série iniciada em 1989, os produtos típicos da indústria de transformação responderam pela primeira vez por menos de 60% da pauta: 57,8%. Esta participação cada vez menor tem ocorrido ininterruptamente desde 2005. Em 2004, os bens da indústria de transformação representavam 78,4%. O ano de 1993 foi o de maior participação, significando 83,6% das vendas externas. O ano de 2000 foi o último no qual bens da indústria de transformação participaram com mais de 80% do total exportado (81,3%, sendo mais preciso).
Como exposto em carta anterior, o déficit comercial dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação por si só não é ruim. Porém, a observância de descompasso continuado entre as vendas do varejo e a produção física interna, no qual as vendas vinham crescendo bem mais que a produção, a postura precisa ser distinta.
Os obstáculos são razoavelmente bem sabidos. Há capacidade ociosa na indústria do sudeste e leste asiáticos, possibilitando sua produção barata. A taxa de câmbio ainda persiste como obstáculo às vendas externas do Brasil, assim como os conhecidos problemas de infraestrutura, complexo sistema tributário e oferta de recursos humanos qualificados e mesmo de serviços especializados.
A ironia é que a favor do Brasil está sua baixa exposição a desastres naturais, diferentemente do que tem ocorrido recentemente, a exemplo do Japão com a tsunami e da Tailândia, com as enchentes que comprometeram a produção de discos rígidos usados em servidores, computadores, notebooks etc. Tais fenômenos, como ressaltado em reportagem do Wall Street Journal veiculada na edição de 12/01/2012 do Valor Econômico, tem feito com que as transnacionais revejam suas estratégias concernentes a cadeias produtivas enxutas. Momento propício para a inserção brasileira, a questão é suplantar os óbices de monta mencionados acima e aproveitar a janela de oportunidades, que podem não se abrir desta forma futuramente.
A balança por intensidade tecnológica. Lançando mão da classificação da indústria de transformação por intensidade tecnológica adotada pela OCDE, tem-se uma perspectiva útil para abordar a balança comercial dos bens típicos desta atividade. Conforme tal tipologia, há quatro faixas: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade tecnológica.
O saldo dos bens produzidos por atividades consideradas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica percebeu déficit de US$ 30,0 bilhões em 2011. Com tal cifra, o déficit ultrapassou em US$ 3,8 bilhões o de 2010, déficit recorde até então – saldo negativo de US$ 26,2 bilhões. Como atenuante, as exportações cresceram ainda que discretamente, chegando a US$ 9,6 bilhões, ficando abaixo apenas das vendas externas logradas em 2007 e em 2008, quando atingiram US$ 10,3 bilhões e US$ 11,6 bilhões, respectivamente.
Se o resultado negativo dos bens da indústria de alta intensidade já impressiona, o que dizer da magnitude do intercâmbio dos bens típicos da faixa de média-alta? Tal déficit ultrapassou a barreira dos US$ 50 bilhões, mais precisamente o resultado ficou negativo em US$ 52,4 bilhões. Em 2010, o déficit ficou em US$ 39,3 bilhões. Mesmo com o superlativo resultado negativo, as exportações dos produtos em questão alcançaram seu maior patamar histórico, US$ 42,6 bilhões, superando finalmente as vendas para o exterior de 2008, de US$ 40,0 bilhões.
Quanto aos produtos típicos da indústria de média-baixa intensidade tecnológica, estes tiveram saldo negativo de US$ 9,3 bilhões em 2011, sendo o segundo déficit seguido observado em toda a série iniciada em 1989. A magnitude deste déficit aumentou US$ 1,1 bilhão frente ao saldo de 2010. É um grande contraste se tomarmos 2006, quando se logrou o maior superávit destes bens, US$ 10,6 bilhões. Desde então, ano a ano, a balança foi se deteriorando, ainda que as exportações tenham crescido pelo segundo ano seguido.
O segmento de bens típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica permaneceu como o único com saldo positivo dentre as quatro faixas: um portentoso superávit de US$ 42,9 bilhões. Por sinal, o maior de toda a série iniciada em 1989. Até então o melhor resultado fora logrado em igual acumulado de 2008, superávit de US$ 39,6 bilhões. As exportações também alcançaram seu ápice em 2011, US$ 61,4 bilhões, ultrapassando 2010, ano de maior montante exportado até então (US$ 53,1 bilhões).
Bens de alta intensidade tecnológica. Todos os segmentos que compõem a indústria mais intensiva em tecnologia registraram deterioração em suas respectivas balanças, que culminando no déficit de US$ 30,0 bilhões. Apesar das exportações terem se ampliado ante 2010, chegando a US$ 9,6 bilhões, nunca se importou tanto dos bens em tela: US$ 39,6 bilhões.
Começando pelos equipamentos da indústria aeronáutica – aviões, helicópteros, satélites etc., tal grupo de produtos foi o único a apresentar superávit nessa faixa, US$ 179 milhões. Porém sua grandeza ficou aquém daquela obtida em 2010. Suas exportações em 2011, US$ 4,7 bilhões, ficaram abaixo das do ano anterior. Ademais, as importações cresceram de US$ 4,0 bilhões em 2010 para US$ 4,5 bilhões no ano seguinte.
Os produtos farmacêuticos, desde 2001, têm observado suas exportações crescerem contínua e ininterruptamente, chegando a US$ 2,2 bilhões em 2011. Para a faixa de alta intensidade, este montante exportado só ficou inferior ao dos equipamentos aeronáuticos. Contudo, as vendas externas não impediram o déficit recorde de US$ 6,5 bilhões, associado ao incremento do poder aquisitivo brasileiro, o que ampliou a demanda por medicamentos. As aquisições do exterior de produtos farmacêuticos totalizaram US$ 8,6 bilhões em 2011, nível sem igual.
Mesmo com o tamanho de déficit em farmacêuticos, o saldo negativo de maior vulto dessa faixa em 2011 coube aos bens da indústria de aparelhos de áudio, vídeo e comunicações e componentes eletrônicos. Sua balança ficou deficitária em US$ 11,4 bilhões, o maior déficit destes produtos. Os componentes eletrônicos têm sido utilizados não só como bens intermediários de produtos de áudio, vídeo e equipamentos de informática, mas em várias outras atividades industriais (automobilística, bens de capital etc.), ampliando sobremaneira o déficit. Isto principalmente por conta de haver fabricação doméstica de vários destes bens intermediários. A taxa de câmbio barateou tanto os importados, quanto os componentes para a produção doméstica. As exportações recuaram uma vez mais, a terceira retração seguida, ficando em US$ 1,5 bilhão, parte devido à demanda interna aquecida, parte por conta da dificuldade em se exportar em face do desaquecimento das economias avançadas e da consequente ofensiva chinesa em outros mercados, inclusive o brasileiro. Cabe lembrar que as vendas externas chegaram a ser de US$ 3,6 bilhões em 2006. Em contrapartida, as importações têm crescido sobejamente, atingindo patamar recorde de US$ 12,8 bilhões.
Fatores similares também contribuíram para a piora no saldo de bens de informática e de escritório e no de equipamentos e instrumentos de precisão e médico-hospitalares: déficits de US$ 6,5 bilhões e de US$ 5,8 bilhões, respectivamente. Quanto às exportações de produtos de informática e de escritório, estas até cresceram ante o montante exportado em 2010, mas somaram somente US$ 404 milhões. Já as vendas para o exterior de instrumentos e equipamentos de precisão têm se recuperado, de sorte a obter o maior patamar exportado da série, US$ 994 milhões. Frisa-se que as importações de mantas de LCD para monitores de informática e aparelhos de TV aparecem ao menos em parte em equipamentos e instrumentos de precisão, contribuindo para a deterioração deste saldo. Aliás, as importações de equipamentos e instrumentos de precisão somaram US$ 6,8 bilhões em 2011.
Bens de média-alta intensidade tecnológica. O déficit sem igual, de US$ 52,4 bilhões, no intercâmbio de bens da faixa de médio-alto conteúdo tecnológico, os bens de todas as atividades concorreram para tanto. Mais: todos experimentaram déficits sem equivalentes na história. Atenuando, quase todos os segmentos lograram aumento das exportações vis-à-vis 2010.
O mais superlativo dos resultados negativos foi o dos produtos químicos (exclusive farmacêuticos): déficit de US$ 22,4 bilhões. Para o mercado externo, foram vendidos US$ 11,2 bilhões, superando o recorde de exportação logrado 2010. Todavia as importações totalizaram US$ 33,6 bilhões, sendo o grupo de bens com maior montante importado dentre todos da indústria de transformação no ano em pauta.
Os materiais de transporte produzidos por indústrias de médio-alta intensidade tecnológica somaram conjuntamente déficit de US$ 8,8 bilhões. Destes, a indústria automobilística respondeu por US$ 7,4 bilhões, mesmo tendo exportado US$ 16,1 bilhões. Tal montante exportado representou o segundo ano consecutivo de incremento nas vendas externas, praticamente equiparando o patamar recorde logrado em 2008. Já o grupo formado por equipamentos ferroviários e outros de transporte, que inclui motocicletas, apresentou déficit de US$ 1,3 bilhão. Tais números refletiram o mercado aquecido para bens de transporte no País, inclusive por conta de condições de crédito facilitadas.
Quanto às máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados em outros segmentos e às máquinas elétricas, seus respectivos déficits foram de US$ 14,5 bilhões e de US$ 6,7 bilhões, ambos recordes. Nos dois casos, os resultados negativos se deveram a importações também sem iguais, de US$ 25,8 bilhões e de US$ 10,2 bilhões. As exportações cresceram frente a 2010, atingindo US$ 11,2 bilhões e US$ 3,5 bilhões, respectivamente, sendo a segunda elevação seguida por tal base comparativa. As vendas externas de máquinas mecânicas ou não especificadas nas outras atividades atingiram inclusive seu maior nível em 2011.
Como o IEDI tem atentado, para boa parte destes dois segmentos faz-se mister a formação de recursos humanos qualificados o que demanda tempo. Baratear os bens de capital e sua produção doméstica também passa pela redução de outros custos relevantes, inclusive maior oferta de serviços especializados. A maior oferta tanto de recursos humanos quanto de outras condições deve reduzir o próprio custo de se produzir domesticamente bens de capital, dirimindo a necessidade de câmbio valorizado para baixar o preço da inversão. Tal necessidade pode conduzir a uma observação equivocada de que o câmbio apreciado por si só é desejável.
Bens de média-baixa intensidade tecnológica. O agrupamento que abarca produtos típicos das atividades industriais de média-baixa intensidade tecnológica sofreu pela segunda – e seguida – vez déficit em toda a série iniciada em 1989: resultado negativo de US$ 9,3 bilhões. Em 2010, o saldo fora US$ 1,1 bilhão menor.
O que mudou nessa faixa de produtos no passado recente para tal mudança de sinal? Desde 2007, o saldo do segmento de média-baixa intensidade tem declinado, processo ligado ao incremento do tamanho do mercado interno com redução na demanda dos países avançados. As importações ganharam fôlego. De fato, a penetração de importados, escudada por uma taxa de câmbio ainda pró-aquisições externas e favorecida pela melhor situação relativa do consumo interno com estratégia de maior variedades no varejo, consubstanciou o movimento observado desde 2007. E este comportamento se vincula sobremaneira ao de dois segmentos de peso desta faixa: produtos metálicos, mormente da siderurgia; e produtos de petróleo refinado, outros combustíveis e afins.
Começando pelo segundo, os produtos de petróleo refinado e afins experimentaram seu maior déficit, de US$ 15,9 bilhões, ainda que suas exportações tenham atingido seu segundo melhor resultado, US$ 4,5 bilhões, só abaixo do de 2008, quando foram vendidos US$ 4,9 bilhões.
Os produtos metálicos costumavam mais do que contrapor o déficit em derivados do petróleo e afins, quadro que mudou a partir de 2010. Embora o superávit dos produtos metálicos tenha mais do que dobrado, somando US$ 8,7 bilhões, com as vendas externas galgando patamar recorde de US$ 23,4 bilhões, tais cifras não foram suficientes como contrapeso. Aliás, outro fenômeno preocupa: a menor adição de valor no âmbito das próprias commodities. O minério de ferro não aglomerado respondia por 60,8% das exportações em 2005 ante 76,2% em 2011, em detrimento de item de maior valor agregado em território nacional. Ou seja, no limite, tem-se maior participação de bens da extração mineral do que insumos básicos oriundos da indústria de transformação. Acresça-se a tanto que o Brasil nunca importou tanto produtos metálicos como em 2011: US$ 14,7 bilhões. Isto sem citar que outro segmento costumeiramente superavitário, o de produtos de minerais não metálicos experimentou seu primeiro saldo negativo em toda a série, déficit de US$ 314 milhões.
Os produtos plásticos e de borracha também registraram seu pior resultado comercial, com saldo negativo de US$ 2,6 bilhões, suplantando o déficit recorde até então, observado em 2010. Vale notar que o Brasil exportou mais destes produtos em 2011, US$ 3,4 bilhões, do que em qualquer outro ano.
Quanto ao comércio internacional de embarcações, navios etc., este logrou superávit de US$ 850 milhões, o segundo maior superávit da série só suplantado pelo desempenho em 2008. O saldo positivo ocorreu mesmo com as importações alcançando seu maior nível, de US$ 303 milhões. Suas exportações foram de US$ 1,2 bilhão.
Bens de baixa intensidade tecnológica. O comércio dos bens típicos das atividades da faixa menos intensiva em tecnologia logrou expressivo superávit, de US$ 42,9 bilhões, sobrepujando o já impressionante saldo de 2010, de US$ 38,9 bilhões, bem como o maior superávit até então, obtido em 2008, US$ 39,6 bilhões. O sucesso exportador desse grupo de produtos se deve principalmente aos bens industriais de alimentação, bebidas e fumo, superávit de US$ 38,8 bilhões, em especial devido aos produtos alimentícios. As exportações de alimentos, bebidas e fumo industrializados atingiram US$ 46,1 bilhões, montante que tem contribuído para a maior participação das commodities na pauta exportadora brasileira.
Passando para as transações dos bens do segmento madeireiro, de papel e celulose, impressão gráfica e afins, estas registraram superávit de US$ 6,3 bilhões, praticamente o mesmo resultado de 2010. Tal saldo positivo ainda ficou ligeiramente abaixo dos superávits registrados em 2007 e 2008 (de US$ 6,4 bilhões em ambos). Apesar do menor superávit, suas exportações foram as maiores da história, chegando a US$ 9,2 bilhões.
Todavia, as mercadorias típicas das duas outras atividades destoam. Os bens diversos ou reciclados experimentaram pela terceira vez consecutiva déficit: resultado negativo de US$ 760 milhões. De 1989 a 2008, o intercâmbio de tais produtos era superavitário. Quanto aos bens das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, já vinham registrando superávits cadentes desde 2005. Em 2010, tais produtos registraram o primeiro déficit na série iniciada em 1989, de US$ 215 milhões. Em 2011, o déficit chegou à casa do milhão, intercâmbio deficitário de US$ 1,5 bilhão. Suas vendas para o exterior até aumentaram pela segunda vez consecutiva, atingindo US$ 4,9 bilhões. Todavia tal patamar ainda não recuperou a magnitude lograda com as vendas externas de 2005, de 2006, 2007 e de 2008. E as atividades produtivas em questão, mais intensivas em mão-de-obra e menos em recursos naturais, são mais sensíveis à taxa de câmbio do que outras da faixa de baixa intensidade.
Esforços foram feitos em 2011 para defender e fomentar segmentos intensivos em mão-de-obra e, portanto, capazes de efeito multiplicador na economia. Como as cadeias globais enxutas estão sendo reavaliadas como estratégia de redução de custos, podem surgir oportunidades de reinserção destes segmentos. A diferenciação dos produtos também é outro fator que pode contribuir para tanto