Carta IEDI
O Déficit de US$ 35 Bilhões nos Bens da Indústria de Transformação
Sumário
A balança comercial brasileira dos bens típicos da indústria de transformação registrou o expressivo déficit de US$ 35,3 bilhões no acumulado dos três trimestres inicias de 2011, o que acena com um desequilíbrio no ano de quase US$ 50 bilhões (US$ 34,8 bilhões em 2010). Até então, o déficit mais elevado para períodos de três primeiros trimestres do ano no Brasil foi o registrado em 2010, quando o saldo ficou negativo em US$ 25,8 bilhões. O incremento significativo do déficit em bens típicos da indústria de transformação ocorreu paralelamente ao aumento do saldo positivo dos produtos da agropecuária, da extração mineral e outros mais – que chegou a US$ 58,3 bilhões nos primeiros três trimestres deste ano. Daí o saldo total da balança comercial brasileira ter alcançado US$ 23,0 bilhões no período.
Mas, mesmo que os produtos primários minimizem, do ponto de vista do resultado comercial brasileiro, o problema do déficit comercial dos bens da indústria de transformação, deve ser considerado outro ângulo da mesma questão, a saber: é flagrante o descompasso entre vendas do varejo nacional e a produção industrial interna, no qual as vendas vêm crescendo bem mais que a produção. Em parte relevante, isso é decorrência da chamada guerra cambial e do reconhecido diferencial entre as taxas de juros domésticas e as internacionais. O Plano Brasil Maior tenta dar conta desse contexto adverso para o setor produtivo doméstico, mas deve ser aprimorado visando a concatenar objetivos de médio e longo prazo para o País. Conferir um norte contundente nos intentos para um horizonte maior faz-se premente, ao sinalizar custos menores de investimento e produção e para esforços bem maiores em elevação da produtividade e inovação.
O comércio de bens da indústria de transformação por intensidade tecnológica, segundo o critério da OCDE, traz alguns detalhes relevantes até para a atuação governamental em prol do binômio investimento-produção:
- Os bens produzidos por atividades de alta intensidade tecnológica observaram déficit sem igual para o período do ano em tela, de US$ 23,2 bilhões. Além dessa deterioração, suas exportações pouco tem se recuperado, atingindo US$ 6,7 bilhões. Notar que, além do conjunto dos bens do complexo eletrônico e dos produtos farmacêuticos – historicamente deficitários –, o intercâmbio de aeronaves e afins também ficou deficitário.
- É na categoria de bens de média-alta tecnologia que o déficit mais se avoluma, atingindo US$ 38,3 bilhões nos três trimestres iniciais de 2011 – também patamar recorde. Tanto as vendas externas de bens da indústria automobilística, quanto as de bens de capital e mesmo as de produtos químicos cresceram, apesar da deterioração nos saldos. Mencione-se que o déficit em automóveis chegou a US$ 5,0 bilhões e o de produtos químicos a US$ 16,3 bilhões.
- Já o segmento de média-baixa intensidade tecnológica ficou deficitário em US$ 5,6 bilhões em janeiro-setembro de 2011. Foi a segunda vez e seguida que os bens típicos desse conjunto de atividades apresentou déficit para tal acumulado do ano. A grandeza do déficit até caiu, por conta das exportações de US$ 17,9 bilhões de produtos metálicos, um patamar também recorde. Porém, os produtos de minerais não-metálicos registraram déficit na série. Dada sua baixa capacidade produtiva interna, os derivados de petróleo refinado, outros combustíveis e afins experimentaram déficit recorde, de US$ 11,2 bilhões. Como dado positivo, o comércio de embarcações obteve superávit de US$ 957 milhões.
- A faixa de baixa intensidade tecnológica mais uma vez arrefeceu os efeitos dos déficits das demais faixas. O superávit sem igual na série, de US$ 31,8 bilhões foi puxado por exportações de US$ 45,2 bilhões. Os bens das indústrias de alimento, bebidas e fumo concorreram sobremaneira para tanto, com superávit de US$ 28,6 bilhões e exportações de US$ 33,7 bilhões. Os produtos madeireiros e de papel e celulose também contribuíram positivamente. Por outro lado, o conjunto das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, percebeu seu primeiro déficit em toda a série, déficit de US$ 1,0 bilhão.
As medidas recentes adotadas pelo governo apontam na direção correta, projetando inclusive espaços para a correção de rumos. Em sentido amplo, o fato é que a estrutura produtiva deve ser reforçada. Uma produção doméstica que engendre aprendizagem e confira visibilidade a condições do Brasil para o investimento e produção pode representar uma nova etapa da economia, casando a força do mercado interno, com atendimento a padrões de exigência mundial para competir. O cenário externo é adverso e há muito a ser feito: pinçar oportunidades, baratear o investimento, incentivar a inovação e a produtividade devem ser objetivos perseguidos incessantemente.
O Déficit de Bens da Indústria de Transformação de US$ 35 Bilhões. No acumulado até setembro de 2011, o déficit externo das mercadorias tipicamente produzidas pela indústria de transformação alcançou patamar recorde: resultado negativo de US$ 35,3 bilhões. O saldo deficitário cresceu US$ 9,6 bilhões vis-à-vis igual período de 2010. Um contraste bem maior se considerarmos que, no mesmo período de 2005, o País lograra superávit recorde, de US$ 22,4 bilhões. Em janeiro-setembro de 2001, o saldo dos produtos típicos da indústria de transformação também ficara deficitário, déficit de US$ 2,8 bilhões. No mesmo acumulado de 1991, o saldo fora superavitário, em US$ 7,6 bilhões.
Em que pese tal déficit, os demais produtos, basicamente bens da extração mineral e da agropecuária, lograram no mesmo período superávit sem equivalente para acumulado até setembro US$ 58,4 bilhões. No mesmo período de 2010, o resultado foi de US$ 38,5 bilhões, isto é, o saldo cresceu praticamente US$ 10 bilhões. Tal incremento se deveu sobremaneira à expansão das exportações desses produtos, que saltaram de US$ 55,2 bilhões em janeiro-setembro de 2010, para US$ 80,3 bilhões, no mesmo período de 2011. Tais números contribuíram bastante para que, após quatro anos ininterruptos de recuo do superávit comercial brasileiro no acumulado até setembro, o saldo total crescesse, para US$ 23 bilhões. No acumulado dos três primeiros trimestres de 2010, as exportações líquidas somaram US$ 12,8 bilhões. O maior superávit da balança de bens do País foi conquistado em janeiro-setembro de 2006, totalizando US$ 34,2 bilhões.
Voltando ao intercâmbio de bens típicos da indústria de transformação, vale frisar que o superlativo aumento de seu déficit comercial foi acompanhado de aumento das exportações, chegando a US$ 109,7 bilhões, superando enfim o montante exportado no acumulado até setembro de 2008, de US$ 104,5 bilhões, o maior patamar até então. No mesmo período de 2010, as vendas externas de tais bens foram de US$ 89,7 bilhões.
No entanto, considerando a série iniciada em 1989, para o acumulado até o nono mês, os produtos típicos da indústria de transformação responderam pela primeira vez por menos de 60% da pauta: 57,7%. Esta participação cada vez menor tem ocorrido ininterruptamente para o período de janeiro a setembro, desde 2006. No acumulado até setembro de 2005, os bens da indústria de transformação representavam 77,6%. Janeiro-setembro de 1993 foi o período de maior participação, significando 82,9% das vendas externas. O ano de 2000 foi o último no qual os nove meses iniciais tiveram os produtos da indústria de transformação representando mais de 80% do montante exportado.
Os desafios daí decorrentes são vários. A existência de capacidade ociosa na indústria do sudeste e leste asiáticos é um destes, pois torna sua produção barata. Um exemplo está nos dados de agosto da balança comercial dos EUA que, se por um lado, retrocedeu frente a julho último, por outro, registrou o maior déficit comercial junto à China em um único mês. A desvalorização do yuan frente ao dólar também é apontado como um dos fatores de tanto.
Por si só, o déficit comercial dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação não é ruim. Porém, à medida que se observa o descompasso entre as vendas do varejo e a produção física interna, no qual as vendas vinham crescendo bem mais que a produção, a postura deve ser distinta. O Plano Brasil Maior tenta dar conta deste contexto adverso para o setor produtivo doméstico, porém carece ainda de uma maior concatenação com objetivos de médio e longo prazo para o País. Conferir um norte mais contundente nos intentos para médio e longo prazos faz-se mister à medida que sinalize custos menores de investimento, produção e para esforços inovativos.
A Balança por Intensidade Tecnológica. A tipologia da indústria de transformação por intensidade tecnológica adotada pela OCDE permite esmiuçar de modo diferente a balança comercial dos produtos típicos desta atividade. Assim, segundo tal classificação, há quatro faixas: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade tecnológica.
O resultado dos bens produzidos por atividades consideradas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica ficou deficitário em US$ 23,2 bilhões nos nove primeiros meses de 2011. A grandeza do déficit superou o resultado recorde para igual período, registrado em 2010, quando o saldo ficou negativo em US$ 19,9 bilhões. Foi o terceiro ano consecutivo no qual as a balança dos bens em pauta se deteriorou na comparação entre acumulados dos nove primeiros meses. Embora o saldo tenha se deteriorado, as exportações não declinaram. De fato, cresceram, ainda que muito discretamente, de US$ 6,5 bilhões para US$ 6,7 bilhões no comparativo entre acumulados em nove meses de 2010 e de 2011. O que chamou atenção, porém, foi o incremento no déficit dos bens típicos da indústria de transformação de média-alta intensidade, cujo saldo negativo saltou para US$ 38,3 bilhões, déficit US$ 10,2 bilhões acima do de janeiro-setembro do ano passado. Apesar da expressão do resultado deficitário, foram exportados US$ 31,3 bilhões destes produtos, superando o déficit recorde de 2008, de US$ 30,4 bilhões.
Os bens típicos da indústria de média-baixa intensidade tecnológica registraram déficit de US$ 5,6 bilhões em janeiro-setembro de 2011. Foi o segundo e consecutivo déficit observado em toda a série para tal acumulado, a contar desde 1989. O déficit recuou um pouco frente a seu equivalente de 2010, quando o resultado negativo atingiu US$ 6,4 bilhões. O maior superávit para o acumulado até o nono mês fora obtido em 2007: US$ 7,3 bilhões. No mesmo período de 2009, o superávit ficou em US$ 2,9 bilhões. As vendas externas dos produtos em questão atingiram US$ 26,6 bilhões em janeiro-setembro de 2011, praticamente equiparando-se às de igual período de 2008.
O agrupamento de bens típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica foi o único superavitário dentre as quatro faixas, de US$ 31,8 bilhões. Ademais, logrou o maior superávit de toda a série, iniciada em 1989, para os noves meses iniciais do ano – até então o melhor resultado fora logrado em igual acumulado de 2008, superávit de US$ 30,5 bilhões. O mesmo vale para as exportações: em janeiro-setembro foram exportados US$ 31,8 bilhões, quase US$ 3,1 bilhões a mais do que em igual período de 2008, asseverando a notável recuperação nos preços das commodities industriais do segmento de alimentação.
Bens de Alta Intensidade Tecnológica. Todos os segmentos da indústria mais intensiva em tecnologia registraram saldo negativa e praticamente todos – exceto a indústria farmacêutica – experimentaram uma deterioração no saldo, o que culminou no déficit, de US$ 23,2 bilhões. Resultado decorrente de exportações US$ 6,7 bilhões frente ao montante recorde importado de US$ 29,8 bilhões. Os bens farmacêuticos foram os únicos cujo saldo não piorou, porém continuam a representar um dos principais déficits dessa faixa, com resultado negativo de US$ 4,8 bilhões no período em foco.
Quanto aos equipamentos da indústria aeronáutica – aviões, helicópteros, satélites etc., não registravam saldo negativo para janeiro-setembro desde 1997. Só agora, no acumulado dos três trimestres iniciais de 2011, que observaram déficit de US$ 304 milhões. Suas exportações declinaram pela terceira vez seguida nessa base de comparação, situando-se em US$ 3,0 bilhões. Já as importações cresceram para US$ 3,3 bilhões.
Os saldos negativos de maior vulto dessa faixa são dos bens da indústria de aparelhos e equipamentos de áudio, vídeo e comunicações e componentes eletrônicos, cujo saldo negativo, atingiu US$ 8,8 bilhões, o maior déficit para janeiro-setembro da série. Os componentes eletrônicos têm sido utilizados não só como bens intermediários de produtos de áudio, vídeo e equipamentos de informática, mas em várias outras atividades industriais (automobilística, bens de capital etc.), ampliando sobremaneira o déficit. Isto principalmente por conta de haver fabricação doméstica de vários destes bens intermediários. A taxa de câmbio barateou tanto os importados, quanto os componentes para a produção doméstica. As exportações recuaram uma vez mais, a terceira retração seguida, ficando em US$ 1,1 bilhão, parte devido à demanda interna aquecida, parte por conta da dificuldade em se exportar em face do desaquecimento das economias avançadas e da consequente ofensiva chinesa em outros mercados, inclusive o brasileiro. Cabe lembrar que as vendas externas chegaram a ser de US$ 2,7 bilhões no acumulado dos nove meses iniciais de 2006. Em contrapartida, as importações têm crescido sobejamente, atingindo patamar recorde de US$ 9,9 bilhões.
Fatores similares também contribuíram para a piora no saldo de bens de informática e de escritório e no de equipamentos e instrumentos de precisão e médico-hospitalares: déficits de US$ 4,9 bilhões e de US$ 4,3 bilhões, respectivamente. Quanto às exportações de produtos de informática e de escritório, estas ficaram aquém do montante exportado em janeiro-setembro de 2010, totalizando apenas US$ 282 milhões, a segunda queda seguida do montante exportado. Já as vendas para o exterior de instrumentos e equipamentos de precisão têm se recuperado, de sorte a obter o maior patamar exportado para o período em questão, US$ 740 milhões. Frisa-se que as importações de mantas de LCD para monitores de informática e aparelhos de TV aparecem ao menos em parte em equipamentos e instrumentos de precisão, respondendo em boa medida pela deterioração do saldo em questão. Aliás, as importações de equipamentos e instrumentos de precisão somaram US$ 5,0 bilhões em janeiro-setembro de 2011.
A preocupação do governo em se estimular a produção de alguns componentes-chave do complexo eletrônico deve-se tanto a questão da balança comercial, como de conferir inserção mais competitiva, caso a atração de investimentos nesta área se concretize. O desafio é enorme devido aos requisitos para inversões, por exemplo, em plantas de mantas de LCD e de semicondutores. Todavia uma produção doméstica que engendre aprendizagem e exerça visibilidade às condições do Brasil produzir podem representar uma nova etapa do setor produtivo, casando o atrativo do mercado doméstico, com atendimento a padrões de exigência mundial para competir. Nesta direção, não só o esforço para a produção de tablets no País, mas também – e principalmente – para viabilizar a fabricação de suas telas, bem como de telas para celulares etc., caminham na direção correta. Há, no entanto, um amplo conjunto de obstáculos a serem vencidos para o esforço se converter em êxito: oferecer condições atraentes frente às disponíveis no sudeste asiático, além de mitigar os problemas de infraestrutura, reduzir a burocracia e simplificar o sistema tributário. Mesmo a disponibilidade de recursos humanos pode ser um entrave.
Bens de Média-alta Intensidade Tecnológica. Para o déficit recorde, de US$ 38,3 bilhões, no intercâmbio de bens da faixa de médio-alto conteúdo tecnológico, todas as atividades concorreram para tanto e todas experimentaram, respectivamente, déficits sem iguais na história. Atenuando, quase todos os segmentos lograram aumento das exportações vis-à-vis o acumulado até setembro de 2010.
O mais superlativo dos resultados negativos foi o dos produtos químicos (exclusive farmacêuticos): déficit de US$ 16,3 bilhões. Para o mercado externo, foram vendidos US$ 8,4 bilhões, superando o recorde de exportação logrado em janeiro-setembro de 2010. Todavia as importações totalizaram US$ 24,7 bilhões, sendo o grupo de bens com maior montante importado dentre todos da indústria de transformação.
Os materiais de transporte produzidos por indústrias de médio-alta intensidade tecnológica somaram conjuntamente déficit de US$ 6,1 bilhões. Destes, a indústria automobilística respondeu por US$ 4,0 bilhões, mesmo tendo exportado US$ 11,7 bilhões, crescendo pela terceira vez seguida na comparação entre os nove meses iniciais. Entretanto, ainda não se exportou o equivalente alcançado em igual período de 2008. Já o grupo formado por equipamentos ferroviários e outros de transporte, que inclui motocicletas, apresentou déficit de US$ 1,1 bilhão. Tais números refletiram o mercado aquecido para bens de transporte no País, inclusive por conta de condições de crédito facilitadas.
Mas a desaceleração do comércio varejista em agosto, acusada em pesquisa do IBGE divulgada na presente semana, aponta para um contexto menos favorável. Iniciativas como a de proteger via IPI o ramo automotivo tenta responder a tal desafio ainda que sujeita a questionamentos típicos de quando tais práticas são adotadas. Considerando o cenário de baixa expansão das economias avançadas, dentre as oportunidades restantes está de fato ampliar a adição de valor via aumento da cadeia produtiva em território nacional. O mote é aproveitar que o Brasil, mesmo desacelerando, ainda pode significar um mercado de maior rentabilidade do que países desenvolvidos no próximo triênio. Como são atividades sujeitas a economias de escala e diferenciação de produto, tal procedimento em tese pode ter certa efetividade. A questão é a medida em face da OMC e mesmo se a medida seria a melhor para o correto intento o governo – já foi noticiado que o Japão contestará a alta do IPI no Comitê de Acesso ao Mercado da organização.
Quanto às máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados em outros segmentos e às máquinas elétricas, seus respectivos déficits foram de US$ 10,8 bilhões e de US$ 5,1 bilhões, ambos recordes para janeiro-setembro. Nos dois casos, os resultados negativos se deveram a importações também sem iguais, de US$ 19,0 bilhões e de US$ 7,7 bilhões. As exportações cresceram frente a janeiro-setembro de 2010, atingindo US$ 8,2 bilhões e US$ 2,6 bilhões, respectivamente, sendo a segunda elevação seguida por tal base comparativa. As vendas externas de máquinas mecânicas ou não especificadas nas outras atividades atingiram inclusive seu maior patamar para o acumulado em questão.
Nestes dois segmentos, que abarcam a produção de bens de capital, as opções de atuação do governo devem enfocar mais o longo prazo, partindo de medidas enérgicas em prol do barateamento da produção local, seja via aumento de produtividade, seja ampliando a oferta de mão-de-obra especializada e redes de suporte, como laboratórios especializados em medição etc. Nesse ponto, baratear o custo doméstico de investir é a melhor maneira de tornar o investimento interessante e menos dependente de câmbio apreciado.
Bens de Média-baixa Intensidade Tecnológica. A faixa que abrange produtos típicos das atividades industriais de média-baixa intensidade tecnológica sofreu seu segundo e consecutivo déficit para acumulado dos três trimestres iniciais em toda a série: saldo negativo de US$ 5,6 bilhões. O mesmo acumulado de 2010 apresentou resultado negativo com magnitude ainda maior, déficit de US$ 6,4 bilhões.
O intercâmbio de produtos siderúrgicos manteve a condição de principal superávit, atingindo US$ 6,8 bilhões em janeiro-setembro de 2011, uma melhora acima de US$ 4,0 bilhões frente a igual período de 2010. Mesmo com tal acréscimo no superávit, a balança dos bens metálicos não se equiparou aos saldos positivos para o acumulado até setembro dos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008. Em janeiro-setembro de 2008, as exportações líquidas chegaram a US$ 9,0 bilhões.
Quanto aos produtos de minerais não-metálicos, experimentaram seu primeiro déficit em toda a série desde 1989 para o período em questão: saldo negativo de US$ 206 milhões. Um claro contraste ante o histórico do intercâmbio de tais bens, que chegou a registrar superávit de US$ 1,1 bilhão nos três primeiros trimestres de 2006. Suas vendas para o exterior, de US$ 1,4 bilhão, representaram a terceira alta seguida, mas estão aquém das exportações logradas em iguais acumulados de 2006, de 2007 e de 2008.
No entanto, o contraponto histórico aos superávits dos produtos metálicos (até 2010, com apoio dos minerais não-metálicos) tem cabido aos produtos de petróleo refinado, álcool, outros combustíveis e afins. E o déficit desses bens chegou a US$ 11,2 bilhões, um resultado negativo bastante agudo mesmo se confrontado com igual período de 2010, quando o saldo ficou negativo em US$ 7,9 bilhões. O déficit maior ocorreu mesmo com suas exportações crescendo pela segunda vez consecutiva, chegando a US$ 3,6 bilhões, aproximando-se do nível recorde do acumulado até o terceiro trimestre de 2008, quando atingiu US$ 4,2 bilhões.
Também concorrendo para o déficit da faixa de média-baixa intensidade, os produtos plásticos e de borracha apresentaram déficit de US$ 2,0 bilhões, suplantando o déficit recorde até então para os nove meses iniciais registrado em 2010. Isso mesmo com as exportações chegando a seu maior nível, de US$ 2,5 bilhões.
Por fim, o intercâmbio de embarcações, navios etc. logrou superávit de US$ 957 milhões, sendo este o melhor resultado de toda a série para acumulado dos nove meses iniciais. O saldo positivo ocorreu mesmo com as importações alcançando seu maior nível, de US$ 175 milhões. Suas exportações foram de US$ 1,1 bilhão.
Bens de Baixa Intensidade Tecnológica. O comércio dos bens típicos das atividades da faixa menos intensiva em tecnologia apresentou um superávit, de US$ 31,8 bilhões, não só maior do que o de janeiro-setembro de 2010, como superior ao do saldo recorde obtido em igual período de 2008. O sucesso exportador desse grupo de produtos se deve principalmente aos bens industriais de alimentação, bebidas e fumo, superávit de US$ 28,6 bilhões, em particular devido aos produtos alimentícios. As exportações de alimentos, bebidas e fumo industrializados atingiram US$ 33,7 bilhões.
Já o intercâmbio dos bens do segmento madeireiro, de papel e celulose, impressão gráfica e afins registrou superávit de US$ 4,7 bilhões, pouco alterando o resultado dos três trimestres iniciais de 2010, de US$ 4,6 bilhões. Embora esteja em patamar aquém daquele do acumulado equivalente de 2008, foram exportados US$ 6,9 bilhões desses bens em janeiro-setembro último, o maior montante exportado em toda a série iniciada em 1989 para o período em pauta.
Todavia, as mercadorias típicas das duas outras atividades destoam. Os bens diversos ou reciclados registraram pela terceira vez consecutiva déficit em janeiro-setembro: saldo negativo de US$ 552 milhões. De 1989 a 2008, para acumulado até o nono mês, o intercâmbio de tais produtos era superavitário. Quanto aos bens das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, já vinham registrando superávits cadentes para os três primeiros trimestres desde 2006. Em igual acumulado de 2011, o comércio exterior de tais bens experimentou, pela primeira vez, desde 1989, déficit para o período do ano em questão: saldo negativo de US$ 1,0 bilhão. Apesar das vendas externas terem crescido pela segunda vez seguida, totalizando US$ 3,7 bilhões, ainda não ultrapassaram o montante exportado em iguais acumulados de 2005, de 2006, 2007 e de 2008. E as atividades produtivas em questão, intensivas em mão-de-obra, são mais sensíveis à taxa de câmbio do que outras da faixa de baixa intensidade.
A desoneração da folha de pagamentos em benefício das atividades têxtil, calçadista e moveleira – esta inclusa em diversos – é uma tentativa correta de lidar não apenas com as dificuldades impostas até recentemente com a taxa de câmbio apreciada, bem como com as fortes oscilações da mesma em setembro-outubro. Além destes segmentos industriais a setor de software também foi beneficiado pela medida anunciada em agosto. Sendo tal instrumento implementado na forma de projeto-piloto, adequa-se melhor a ajustes mais finos e preparo para uma desoneração mais ampla.