Análise IEDI
Ainda no vermelho
Como os dados do PIB mostraram na semana passada, o segundo trimestre de 2018 não foi nada favorável à indústria, que voltou ao terreno negativo na comparação com o trimestre anterior, já descontados os efeitos sazonais. Ainda que a paralisação dos caminhoneiros em maio seja um fator explicativo importante, a indústria já vinha perdendo dinamismo desde a entrada do ano. Hoje, a divulgação da produção industrial pelo IBGE indica que o início da segunda metade do ano tampouco começa bem.
Em julho, isto é, passada a volatilidade da produção derivada dos impactos mais diretos da greve de caminhoneiros, a indústria geral voltou a registar declínio na produção, de -0,2% frente a junho, com ajuste sazonal. Este resultado veio depois de já ter caído -2,6% em abril-junho frente aos três meses anteriores.
Deste modo, 2018 vai se mostrando um ano pouco eficaz para conferir maior vigor e consistência à recuperação do setor. Um aspecto que ilustra bem esta afirmação é o de que o nível de produção atingido em julho (índice de 90,2) ainda está 0,8% abaixo daquele registrado em dezembro do ano passado (índice de 90,9).
A variação negativa da indústria geral no começo da segunda metade do ano foi acompanhada pela grande maioria dos macrossetores, como mostram as variações com ajuste sazonal abaixo. Apesar disso, serve de algum alento o fato de que 16 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE evitaram a faixa negativa.
• Indústria Geral: +1,7% no 4ºT/17; +0,2% no 1ºT/18; -2,5% no 2ºT18 e -0,2% em jul/18;
• Bens de Capital: +1,2%; +1,7%; -1,8% e -6,2%, respectivamente;
• Bens Intermediários: +1,7%; -1,3%; -1,1%; +1,0%;
• Bens de Consumo Duráveis: +6,1%; +2,9%; -5,6%; -0,4%;
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: -0,7%; +1,4%; -3,0% e -0,5%, respectivamente.
A perda mais intensa ficou a cargo de bens de capital, cujo desempenho pode estar refletindo a deterioração das expectativas vindas do cenário político, mas também do próprio ritmo de recuperação da indústria, que tem deixado muito a desejar. Vale enfatizar que bens de capital foram um dos macrossetores mais atingidos pela crise recente e, por esta razão, ainda tem um longo caminho a trilhar para se restabelecer integralmente. Seu atual nível de produção permanece mais do que 30% abaixo do pico pré-crise do último trimestre de 2013.
Outros macrossetores igualmente no vermelho em julho foram bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis, que haviam registrado as quedas mais intensas no segundo trimestre do ano (-5,6% e -3,0%, respectivamente). Ao menos agora o decrescimento foi menor: -0,4% no primeiro caso e -0,5% no segundo. De todo modo, estes resultados podem estar sinalizando algum esmorecimento do consumo das famílias.
Bens intermediários, por sua vez, foram a exceção neste primeiro mês do segundo semestre ao conseguirem crescer +1% frente a junho. É preciso considerar, contudo, a existência de uma base de comparação baixa, depois de dois trimestres consecutivos de perda de produção. O nível de produção de julho ainda é inferior (-0,4%) àquele de dezembro do ano passado, na série com ajuste.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de julho divulgados hoje pelo IBGE indicam, para dados livres de influência sazonal, que a produção industrial nacional registrou recuo de 0,2% frente ao mês de junho de 2018, após expandir 12,9% em junho.
Em comparação a julho de 2017, registrou-se acréscimo de 4,0%. Já para o acumulado do ano de 2018 o setor industrial obteve crescimento de 2,5%, e para o acumulado de doze meses a expansão ficou em 3,2%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, um dos cinco segmentos obteve crescimento, sendo ele o de bens intermediários (1,0%). Por outro lado, os outros quatro segmentos apresentaram retrações: bens de capital (-6,2%), bens de consumo (-1,2%), bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-0,5%) e bens de consumo duráveis (-0,4%).
O resultado observado na comparação com o mês de julho de 2017 aponta acréscimo para todos os segmentos: bens de consumo duráveis (16,9%), bens de capital (6,5%), bens de consumo (4,6%), bens intermediários (3,5%) e bens semiduráveis e não duráveis (1,8%). Para o índice acumulado do ano também foi registado expansões em todos os segmentos: bens de consumo duráveis (14,6%), bens de capital (9,0%), bens de consumo (3,5%), bens intermediários (1,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,8%).
Setores. Na comparação com julho de 2017, houve acréscimo no nível de produção de 19 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores crescimento estiveram nos seguintes segmentos: veículos automotores, reboques e carrocerias (21,0%), bebidas (12,5%), fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (11,3%), celulose, papel e produtos de papel (9,2%), máquinas e equipamentos (7,4%), produtos de madeira (6,2%), outros equipamentos de transporte (5,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (5,1%), produtos de borracha e material plástico (5,0%), metalurgia (4,8%), produtos de fumo (4,5%), outros produtos químicos (4,2%), indústrias extrativas (3,8%), produtos de metal (3,5%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (2,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (1,6%), produtos diversos (1,3%), manutenção reparação e instalação de maquinas e equipamentos (0,7%) e produtos de minerais não metálicos (0,4%). Em sentido oposto, os seguintes segmentos apresentaram retrações: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-0,3%), produtos têxteis (-0,7%), móveis (-0,8%), produtos alimentícios (-5,8%), impressão e reprodução de gravações (-5,8%), couro, artigos de viagem e calçados (-6,4%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,5%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 14 dos 26 ramos analisados: veículos automotores, reboques e carrocerias (18,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (13,4%), produtos de madeira (6,4%), metalurgia (5,7%), celulose, papel e produtos de papel (4,8%), máquinas e equipamentos (4,7%), móveis (4,5%), bebidas (4,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (3,0%), produtos de borracha e de material plástico (2,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (2,6%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (2,4%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (1,5%) e produtos de metal (0,9%). Para os demais segmentos houve queda: produtos de fumo (-5,6%), couro, artigos de viagem e calçados (-5,3%), impressão e reprodução de gravações (-3,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,1%), produtos diversos (-2,4%), outros equipamentos de transporte (-2,3%), produtos alimentícios (-1,8%), outros produtos químicos (-1,6%), produtos têxteis (-0,9%), produtos de minerais não-metálicos (-0,8%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-0,5%). Para as indústrias extrativas não houve variação (0,0%).