Análise IEDI
Motores em marcha lenta
Os dados do PIB divulgados hoje pelo IBGE confirmaram aquilo que já vinha se prenunciando: o segundo trimestre de 2018 contribuiu com praticamente nada para a trajetória de recuperação da economia. O PIB variou só +0,2% frente ao primeiro trimestre do ano, já descontados os efeitos sazonais, com muitos de seus componentes tendo resvalado novamente para o terreno negativo.
É fato que o segundo trimestre sofreu adversidades excepcionais com a paralisação do transporte de carga rodoviário, que interrompeu por mais de dez dias o fluxo normal de mercadorias e insumos e, consequentemente, a própria produção. Entretanto, não é de agora que o desempenho da economia tem se mostrado insatisfatório. Na série com ajuste sazonal, o PIB ficou virtualmente estagnado nos últimos três trimestres (0%; +0,1% e +0,2%). Já em relação ao mesmo período do ano anterior, o dinamismo foi cortado pela metade ao passar de +2,1% no 4º trim/17, para +1,2% no 1º trim/18 e então para +1% no 2º trim/18.
Esta é uma evolução que está associada à perda de força de dois dos mais importantes motores de propulsão do crescimento econômico, o investimento, do lado da demanda e a indústria, do lado da oferta.
Os investimentos, isto é, a formação bruta de capital fixo, caíram 1,8% no 2º trim/18, na esteira da deterioração das expectativas. Porém, este foi apenas o episódio mais grave de uma sequência de resultados nada favorável, como mostram abaixo as variações com ajuste sazonal. Na comparação interanual, apesar de ainda haver bases de comparação muito baixas, tampouco o investimento vem conseguindo adicionar vigor a sua reativação, crescendo em torno de 3,7% desde final de 2017. Com isso, a taxa de investimento permaneceu em 16% do PIB, bem abaixo dos níveis pré-crise (mais de 20% entre 2010 e 2014).
• PIB Total: +0,6% no 3º trim/17; 0% no 4º trim/17; +0,1% no 1º trim/18 e +0,2% no 2º trim/18;
• Consumo das famílias: +1,3%; 0%; +0,4% e +0,1%, respectivamente;
• Consumo do governo: -0,2%; +0,1%; -0,3% e +0,5%;
• Formação Bruta de Capital Fixo: +2,0%; +1,8%; +0,3% e -1,8%;
• Exportações: +2,5%; -1,2%; +1,8% e -5,5%;
• Importações: +6,4%; +1,9%; +0,8% e -2,1%, respectivamente.
Também não contribuíram para o PIB no segundo trimestre do ano a estabilidade do consumo das famílias (+0,1%, com ajuste) e a forte queda das exportações (-5,5%), que registraram o pior resultado desde o último trimestre de 2014 (-6,7%). Quanto ao desempenho exportador, não bastasse a greve dos caminhoneiros maio, o governo decidiu extinguir o Reintegra, que não é um subsídio, mas um instrumento de compensar os impostos pagos pelos exportadores e não recuperados no momento do embarque. O resultado é uma menor competitividade do produto nacional no comércio exterior e, consequentemente, menos exportações.
Do lado da oferta, quem vem minguando desde o início deste ano é o resultado da indústria, o que tem implicações das mais adversas sobre a evolução da economia como um todo. De modo geral, em função dos inúmeros efeitos encadeados que é capaz de estabelecer, quando a indústria vai bem, o PIB vai bem. Como não é isso que vem ocorrendo nos últimos trimestres, não surpreende a dificuldade de a recuperação econômica entrar em um processo mais consistente e vigoroso.
No segundo trimestre de 2018, já descontados os efeitos sazonais, o PIB da indústria total registrou retração de 0,6% depois de ter ficado praticamente estável nos primeiros três meses do ano (variou só +0,1%). No caso da indústria de transformação, o quadro é ainda pior: queda tanto no primeiro (-0,4%) como no segundo trimestre (-0,8%) de 2018. A sequência de resultados na comparação interanual também mostra que o setor vem esmorecendo: +2,7%; +1,6% e +1,2% para o PIB da indústria total do 4º trim/17 até o 2º trim/18 e +6%; +4% e apenas +1,8% para o PIB manufatureiro.
Diante desses resultados, não há dúvidas de que o motor industrial da economia vem reduzindo a marcha. Como consequência, o PIB não deslancha, ainda que alguns ramos do setor de serviços, como telecomunicações, atividades imobiliárias e atividades financeiras e de seguros tenham conseguido reforçar seus resultados no 2º trim/18.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou, no segundo trimestre de 2018, R$ 1,693 trilhão a preços correntes, apresentando crescimento de 0,2% na comparação com o trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Com relação ao segundo trimestre de 2017, houve expansão de 1,0%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior o acréscimo registrado foi de 1,1%.
Ótica da oferta. Frente ao primeiro trimestre de 2018, a partir de dados dessazonalizados, houve estabilidade para o setor agropecuário, o setor industrial registrou retração de 0,6% e o setor de serviços acusou expansão de 0,3%.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, tivemos crescimento nos seguintes segmentos: produção de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (0,7%) e extrativa mineral (0,4%). Em sentido oposto, apresentaram retração a construção (-0,8%) e indústria de transformação (-0,8%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, apresentaram acréscimos os segmentos de atividades imobiliárias e aluguel (1,2%), serviços de informação (1,2%), outros serviços (0,7%) e intermediação financeira e seguros (0,7%). Por outro lado, apresentaram retração os subsetores de transporte, armazenagem e correio (-1,4%), comércio (-0,3%) e administração, saúde e educação pública (-0,1%).
Em relação ao segundo trimestre de 2017, houve queda no setor agropecuário de 0,4%, sendo que o setor industrial aferiu expansão de 1,2% e o de serviços também variou positivamente em 1,2%.
Para os componentes do setor industrial, ainda frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os segmentos que registraram variações positivas foram: produção e distribuição de eletricidade, gás e água (3,1%), indústria de transformação (1,8%) e extração mineral (0,6%). Para o segmento da construção civil houve retração em 1,1%.
No setor de serviços, todos os segmentos apresentaram expansão, os destaques positivos ficaram por conta de atividades imobiliárias e aluguel (3,0%), comércio (1,9%), transporte, armazenagem e correios (1,1%), outros serviços (0,9%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,6%), administração, saúde e educação públicas (0,9%) e serviços de informação (0,4%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao primeiro trimestre de 2018, para dados com ajuste sazonal, a Importação e Exportação retraíram 2,1% e 5,5%, respectivamente, e a formação bruta de capital fixo variou negativamente em 1,8%. Em sentido oposto, apresentaram expansão os segmentos consumo do governo (0,5%) e consumo das famílias (0,1%).
Por fim, na comparação com o segundo trimestre de 2017, a formação bruta de capital fixo aumentou 3,7%, seguido do consumo das famílias (1,7%). O setor externo apresentou retração nas exportações de 2,9% e expansão nas importações de 6,8%. Para o consumo do governo houve acréscimo de 0,1%.