Análise IEDI
Menor dinamismo industrial, exceto para a alta tecnologia
O primeiro trimestre de 2018 impôs à indústria uma inflexão da trajetória que vinha apresentando desde a segunda metade do ano passado, quando sua recuperação ganhava cada vez mais vitalidade. Com a virada do ano, este movimento foi interrompido e o crescimento industrial perdeu força. Em abril, até se ensaiou recobrar um ritmo mais forte, o que muito provavelmente foi abortado novamente em maio diante da paralisação do transporte rodoviário de carga.
Há sinais desse comportamento de desaceleração no primeiro trimestre do ano qualquer que seja o prisma de análise. Na série com ajuste sazonal, a produção industrial frente ao trimestre anterior sofreu uma estagnação, depois de ter avançado 1,7% no último trimestre do ano passado. Já na comparação interanual, o crescimento refluiu de 4,9% para 2,9% do último quarto de 2017 para o primeiro de 2018.
Considerada apenas a indústria de transformação, o quadro não foi diferente, salvo que na série com ajuste sazonal a entrada de 2018 implicou retorno ao negativo (-0,1% frente ao 4º trim/17). Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, por sua vez, sua produção desacelerou de +5,7% no 4º trim/17 para +3,8% no 1º trim/18.
Como a indústria não foi a única a apresentar perda de dinamismo, tendo sido acompanhada pelo setor de serviços e, em menor medida, pelo comércio varejista, não há dúvidas de que 2018 não começou bem, o que certamente impactará negativamente a perspectiva de crescimento da economia para o ano. Neste momento, parece evidente a fragilidade da recuperação econômica do país, que corre o risco de ter de enfrentar, ainda este ano, momentos de forte incerteza e volatilidade decorrentes do cenário político-eleitoral.
A Carta IEDI a ser divulgada hoje apresenta a evolução da indústria de transformação no primeiro trimestre de 2018 a partir da classificação de seus ramos segundo a intensidade tecnológica, em linha com a metodologia desenvolvida pela OCDE: alta, média-alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica. Os principais resultados do estudo serão sintetizados a seguir nesta Análise.
Em resumo, como mostram as variações trimestrais da produção relativamente ao mesmo período do ano anterior, o único grupo a não apresentar desaceleração no primeiro trimestre de 2018 foi a alta tecnologia. Em contraste, o maior retrocesso se deu na média-baixa tecnologia, que voltou ao negativo.
• Indústria de transformação: +3,2% no 3º trim/17; +5,7% no 4º trim/17 e +3,8% no 1º trim/18;
• Alta tecnologia: -0,9%; +8,1% e +13,0%, respectivamente;
• Média-Alta tecnologia: +6,4%; +11,2% e +8,2%;
• Média-Baixa tecnologia: -0,6%; +3,7% e -0,2%;
• Baixa tecnologia:+4,5%; +3,2% e +2,7%, respectivamente.
A indústria de alta intensidade tecnológica, depois de ficar muito próxima da estabilidade no segundo e terceiro trimestres de 2017, passou a crescer com força no final do ano passado (+8,2%), um processo que teve sequência no trimestre inicial de 2018 (+13,0%). Esse desempenho permitiu ao segmento de alta intensidade registrar expansão de 4,6% em doze meses, lembrando que até o terceiro trimestre de 2017, a variação por essa base de comparação permanecia negativa.
A indústria farmacêutica mostrou dinamismo nesse começo de 2018, mas o grande destaque coube aos ramos do complexo eletrônico, no qual a fabricação de equipamentos de áudio, vídeo e comunicação teve expansão de 31,8% no primeiro trimestre, a maior dentre todos os ramos. Como cabe sublinhar, estes mesmos ramos que agora crescem explosivamente, estiveram entre os mais sacrificados pela recessão de 2015/16.
O segmento de média-alta intensidade, por sua vez, teve muito bom desempenho,produzindo 8,2% a mais no contraponto entre o primeiro quarto de 2018 e igual trimestre do ano anterior. Contudo, não se livrou de certa perda de vitalidade em relação ao resultado do último trimestre de 2017 (+11,2%). Assim, esse grupamento cresceu 6,9% em doze meses, a maior taxa nessa base comparativa dentre os quatro faixas. Vale lembrar que já são 5 trimestres seguidos de alta.
A indústria automotiva continua capitaneando a expansão, obtendo forte incremento em todas essas bases de comparação. A necessidade de recompor a demanda reprimida nos anos de crise econômica, o retorno do crédito ao consumo e as exportações permitiram que no primeiro trimestre o setor desse sequência a uma série iniciada no último trimestre de 2016 de forte crescimento da produção. No primeiro trimestre deste ano cresceu 19,9%, isto é, um pouco abaixo do resultado do trimestre anterior (+23,8%).
Beneficiando-se do retorno do investimento “leve” na economia brasileira, a fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos logrou o melhor resultado trimestral (+6,4%), desde quando voltou ao azul (1º trim/17). Já a indústria química ficou estável no primeiro trimestre de 2018, expressando as restrições da demanda de bens intermediários na economia.
Como dito anteriormente, o conjunto dos ramos de média-baixa, , foi o único a se retrair em janeiro-março no contraste com igual período de 2017: taxa de -0,2%. As retrações foram, em muito, decorrentes dos declínios na fabricação de produtos de petróleo refinado, álcool e afins (-6,0%), seguido de minerais não metálicos (-0,6%), neste último caso, refletindo o fato de que a crise na construção civil ainda não foi debelada. Outro ramo de grande peso dessa faixa, a produção de bens metálicos, inclusive siderúrgicos, cresceu 5,5% no 1º trim/18, o que não só foi incapaz de fazer frente à queda de outros ramos como também significou uma desaceleração em relação ao resultado do 4º trim/17 (+8,3%).
Por fim, o segmento de baixa intensidade logrou acréscimo de 2,7% no acumulado dos três primeiros meses do ano. Os ramos que se retraíram foram aqueles cujos processos produtivos são mais intensivos em mão-de-obra: o de manufaturados não especificados noutros ramos e reciclados (-1,0%) e o agrupamento muito sujeito à concorrência externa, qual seja, o de têxteis, artigos de vestuário, couro e calçados (-1,6%). Os mais intensivos em recursos naturais e que em uma parcela expressiva contam com um bom dinamismo exportador, cresceram nessa comparação: a indústria de alimentos, bebidas e tabaco, o mais expressivo ramo da indústria de transformação, cresceu 2,8%, já as indústrias madeireira, papel e celulose, gráfica e afins, 7,3%.