Análise IEDI
A indústria e o baixo dinamismo do emprego
O quadro do emprego, que em 2017 parecia estar recobrando o ânimo, passou a dar sinais de esmorecimento no início de 2018, em linha com a relativa perda de dinamismo da atividade econômica verificada no período. Não é que estejamos revivendo o passado de forte contração no emprego, mas a situação, embora positiva, não tem registrado progressos.
A taxa de desemprego de 12,9% do trimestre móvel findo em abr/18, permanece em um patamar muito próximo daquele que marcou a maior parte do ano passado, à exceção dos seus últimos meses. Frente ao mesmo período do ano anterior, as elevações expressivas da taxa de desemprego, sobretudo em 2016 e início de 2017, refluíram e passaram a dar lugar a reduções. As quedas da taxa, contudo, ainda são módicas, não chegando nem a 1 ponto percentual (-0,7 p.p. ante fev-abr/17).
A dificuldade em apresentar avanços adicionais vem do fato de que a criação de emprego segue em um ritmo muito monótono, com o agravante de registrar certa desaceleração desde o início de 2018. Na comparação interanual, o crescimento da população ocupada desacelerou de 2,1% no trimestre móvel findo em jan/18 para 1,7% naquele findo em abr/18.
Compensou, em parte, esse movimento o fato de que a entrada de pessoas na força de trabalho desacelerou ainda mais que a criação de vagas, contribuindo para que a taxa de desemprego continuasse declinando mesmo que lentamente. A alta da população na força de trabalho, que atingia 2,4% em jul-set/17 ante igual período do ano anterior, foi se reduzindo até chegar a 0,8% agora em fev-abr/18. Este é um dado que sugere que o desalento da população quanto à busca de emprego continua presente e vem ganhando força.
Diante deste quadro pouco promissor, cabe indagar de onde está vindo a redução do ímpeto na criação de postos de trabalho. A seguir, as variações em milhares de pessoas mostram as diferentes trajetórias do emprego nos principais setores econômicos identificados na Pnad Contínua do IBGE. Vale observar que são evitadas as sazonalidades típicas do mercado de trabalho por se tratarem de variações frente ao mesmo período do ano anterior.
• Ocupados na indústria: +558 mil em nov/17-jan/18; +375 mil em dez/17-fev/18; +232 mil em jan/18-mar/18 e +225 mil em fev/18-abr/18;
• Ocupados em alojamento e alimentação: +317 mil; +272 mil; +283 mil e +156 mil, respectivamente;
• Ocupados no info., com., ativ. financeiras, imob. e profissionais: +351 mil; +327 mil; +129 mil e +212 mil;
• Ocupados no comércio e reparação de veículos: +186 mil; +270 mil; +260 mil e +199 mil;
• Ocupados na construção: -280 mil; -280 mil; -280 mil e -175 mil;
• Ocupados na agropecuária: -350 mil; -284 mil; -196 mil e -259 mil, respectivamente.
O principal destaque fica a cargo da indústria, cuja criação de vagas vinha liderando o aumento do número de ocupados até pouco tempo atrás. Pela força com que a crise atingiu o setor, a indústria foi quem mais fechou postos de trabalho em 2016, mas vinha revertendo essa situação em 2017. Em 2018, claramente o crescimento de ocupados na indústria murchou, dando o tom do esmorecimento do dinamismo do emprego observado no corrente ano. Foram +558 mil ocupados (+4,9%) no trimestre findo em jan/18 ante igual período do ano anterior, mas apenas +225 mil (+2,0%) agora no trimestre findo em abr/18.
Entretanto, não foi só o emprego industrial cujo desempenho caiu para menos da metade. Outros setores estão na mesma condição. É o caso de alojamento e alimentação, setor de peso na geração de empregos sem carteira assinada e por conta própria no período recente, que havia criado +683 mil vagas (+15,2%) no trimestre findo em jul/17, mas que agora no trimestre findo em abr/18 criou apenas +156 mil vagas (+3,1%), na comparação com o mesmo período do ano anterior.
É o caso também de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e profissionais, onde o número de ocupados tinha aumentado em +540 mil (+5,6%) no trimestre findo em out/17, um nível que veio caindo e chegou a 212 mil (+2,2%) no trimestre fev-abr/18. Embora em menor medida, outro setor que seguiu a mesma trajetória foi o comércio e reparação de veículos: +410 mil ocupados (+2,4%) em jul-set/17, mas apenas +199 mil (+1,2%) em fev-abr/18.
Em contrapartida, dois setores andaram em direção oposta aos setores acima mencionados, absorvendo um número cada vez maior de pessoas. Por um lado, administração pública, defesa e serviços sociais, cujo número de ocupados passou a crescer sistematicamente a partir de set-nov/17, passando de +124 mil (+0,8%) para +569 mil (+3,8%) em fev-abr/18 na comparação interanual. Por outro lado, o conjunto bastante diversificado de outros serviços, cujo número de ocupados cresce na faixa de +400 mil (ou +10%) desde o trimestre findo em fev/18.
Por fim, uma referência aos setores de construção e agropecuária: eles continuam bloqueando a queda do desemprego no país. O número de ocupados em ambos os casos persiste em retração, ainda que tenha havido alguma moderação no ritmo de queda, notadamente na construção: -857 mil (-10,8%) em out-dez/16 e -175 mil (-2,6%) em fev-abr/18.
De acordo com dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre de fevereiro a abril de 2018 atingiu 12,9%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, de novembro de 2017 a janeiro de 2018, houve crescimento de 0,7 p.p, já para ao mesmo trimestre do ano anterior houve queda de -0,7 p.p, quando apresentou taxa de 13,6%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos ficou em R$2.182, apresentando retração de 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez-jan). No entanto, frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve expansão de 0,8%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$193,0 bilhões no trimestre que fechou em abril, registrando decréscimo de 1,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 2,5% em relação ao trimestre do ano anterior (R$188,3 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 90,7 milhões de pessoas, aumento de 1,7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (89,2 milhões de pessoas ocupadas), já em relação ao trimestre imediatamente anterior houve retração de 1,1% (nov-dez-jan). Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados variou 5,7% chegando a 13,4 milhões de pessoas, e para a comparação com o trimestre do ano anterior observou-se retração de 4,5%. Para a força de trabalho, registrou-se neste trimestre 104,1 milhões de pessoas, retração de 0,2% frente ao trimestre imediatamente anterior.
Comparando com o mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram crescimento da ocupação foram, na ordem decrescente: Outros serviços (9,0%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,8%), Alojamento e alimentação (3,1%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,2%), Indústria (2,0%), Transporte, armazenagem e correios (1,7%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (1,2%) e Serviços domésticos (1,1%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram retração da ocupação foram: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-3,0%) e Construção (-2,6%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, observamos aumentos nas seguintes categorias: trabalho privado sem carteira (6,3%), empregador (5,7%), trabalhador por conta própria (3,3%), setor público (3,3%) e trabalho doméstico (1,0%). Para o trabalho privado com carteira houve retração de 1,7% e para trabalho familiar auxiliar não houve variação.