Análise IEDI
A Indústria 4.0 na Índia
O estudo das políticas do governo indiano em direção à Indústria 4.0 é o tema da Carta IEDI a ser divulgada ainda hoje. Trata-se de mais um exemplar da série de publicações que o IEDI vem fazendo sobre as medidas em prol da indústria do futuro nas principais potências industriais do mundo, tais como Alemanha (Carta n. 807), Estados Unidos (Carta 820), China (Carta n. 827), Coreia do Sul (Carta n. 831) Japão (Carta n. 838), França (Carta n. 841) e Reino Unido (Carta n. 847), além do Brasil (Cartas n. 797 e 803).
Diferentemente de outros países, a Índia ainda não desenvolveu um plano nacional com objetivo de alavancar a indústria do futuro, mas nem por isso deixa de contar com programas voltados ao desenvolvimento e disseminação de tecnologias subjacentes à Indústria 4.0. Além disso, o governo indiano vem crescentemente tentando alavancar o setor industrial no país como elemento-chave para a continuidade do processo de desenvolvimento econômico.
Ao longo das últimas décadas, o centro da economia da Índia se deslocou da agricultura para o setor de serviços, sobretudo de tecnologia de informação e de gestão de processo, enquanto a indústria de transformação, com exceção de alguns setores (automotivo, eletrônica e farmacêutica), pouco se desenvolveu. Além de ter baixa produtividade, a manufatura indiana contribuiu para o PIB com apenas 16%, destoando de outros países asiáticos em estágios similares de desenvolvimento.
É esta realidade que o país vem tentando mudar. Desde a sua posse em maio de 2014, o governo do primeiro ministro Narendra Modi lançou diversas iniciativas para converter a manufatura no motor do crescimento da economia indiana, tornando o país um centro mundial de produção industrial.
Ciente da importância da indústria na geração de inovações e de progresso técnico que se espraiam para outras atividades econômicas, elevando a produtividade do sistema produtivo como um todo, e das profundas transformações em curso no mundo associadas às tecnologias da Indústria 4.0, o governo indiano anunciou o Make in India em setembro de 2014, com vistas a tornar o país um centro avançado de produção industrial global.
Além de políticas voltadas ao desenvolvimento do setor de indústria de transformação, o Make in India também inclui novas iniciativas de políticas, com vistas: a estimular o investimento estrangeiro direto (IDE), proteger a propriedade intelectual (Creative India), facilitar a realização de negócios e melhorar a classificação da Índia no ranking Facilidade de Negócios do Banco Mundial, promover a criação de start-ups industriais de base tecnológica (Start-up India).
Outras iniciativas, por sua vez, procuram facilitar a criação de emprego, promover a inovação, melhorar o desenvolvimento de habilidades dos trabalhadores indianos, e fortalecer a infraestrutura mediante o desenvolvimento de corredores industriais e construção de cidades inteligentes com tecnologia de ponta e comunicação de alta velocidade.
Com a nova lei de IDE, consolidada em 2016, o governo indiano abriu novos setores para o investimento estrangeiro direto, aumentou o limite para os investimentos naqueles em que o investimento estrangeiro já era permitido, e simplificou as condições de entrada dos recursos. Ficaram livres de aprovação prévia (rota automática), os investimentos estrangeiros em diversos setores. Em outros, como nas áreas da defesa, telecomunicação e refino de petróleo, por exemplo, os investimentos estrangeiros em até 49% podem ser realizados pela rota automática.
Para que o Make in India seja bem-sucedido e o país possa se tornar uma potencia industrial em meio a profundas transformações que a emersão da Indústria 4.0 trará, a Índia precisa superar inúmeros desafios. Entre os quais destacam: a ausência de uma cultura de qualidade em processos, produtos e serviços, sobretudo entre as micro e pequenas empresas; deficiências em infraestrutura; pouca penetração da tecnologia de informação na indústria; baixa inclusão digital na sociedade, insuficiente nível de escolaridade de parte expressiva da população; escassez de profissionais qualificados e habilitados para operar em um ambiente de produção da Indústria 4.0 e baixo investimento do setor privado em atividades de P&D.
Com propósito de superar essas deficiências, o governo da Índia vem adotando várias medidas proativas, entre as quais: programa Digital India; a Missão Nacional de Desenvolvimento de Competências (Skill India), a Nova Política Nacional de Educação e o programa Defeito Zero Efeito Zero (ZED, na sigla em inglês). Igualmente, o governo reafirmou o compromisso com os objetivos da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2013, que inclui: ampliar o papel do setor privado no sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação mediante parcerias público-privadas, para alcançar a meta de 2% do PIB em P&D.