Análise IEDI
Quebra de ritmo
O desempenho da indústria, como vimos na semana passada, foi muito fraco tanto em março como no primeiro trimestre de 2018 como um todo. Hoje, os dados divulgados pelo IBGE permitem avaliar o perfil regional do resultado do setor.
A virtual estabilidade (-0,1%) em março frente a fevereiro na produção industrial do total Brasil, já descontados os efeitos sazonais, foi condicionada pela retração na maior parte das localidades acompanhadas pelo IBGE (8 das 15), atingindo inclusive aquelas com trajetórias bastante favoráveis, como Santa Catarina, que viu sua primeira queda (-1,2%) depois de dez meses seguidos de crescimento.
O quadro só não foi mais grave porque algumas regiões de peso na indústria nacional conseguiram crescer. Foi o caso notadamente de São Paulo, que depois de ficar no vermelho em janeiro e fevereiro cresceu 2,0% em março. Outros resultados positivos neste último mês vieram de Amazonas, Pernambuco e dos estados com estruturas industriais mais especializadas, como Pará e Espírito Santo no ramo extrativo e Goiás e Mato Grosso no setor alimentício.
Deste modo, março não conseguiu salvar o desempenho do primeiro trimestre do ano. Em relação a outubro-dezembro de 2017, com ajuste sazonal, o total Brasil ficou rigorosamente estagnado, mas 9 das 15 localidades tiveram perda de produção, incluindo Nordeste e todos os estados do Sudeste, sobretudo, Rio de Janeiro (-2,6%), mas também São Paulo (-0,8%).
Em comparação com um ano antes, houve uma quebra generalizada do ritmo da recuperação. Na maioria dos casos, o crescimento da produção perdeu força na entrada do ano, mas manteve-se na faixa positiva. Isso, contudo, não foi uma realidade para outros, cuja perda de dinamismo foi tamanha que implicou um retorno ao negativo. Raro mesmo foi quem conseguiu ganhar velocidade, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Brasil: +0,4% no 2º trim/17; +3,1% no 3º trim/17; +4,9% no 4º trim/17 e +3,1% no 1º trim/18;
• São Paulo: -0,2%; +5,3%; +8,1% e +5,4%, respectivamente;
• Rio de Janeiro: +1,8%; +1,7%; +7,8% e +3,0%;
• Santa Catarina: +1,3%; +4,2%; +7,5% e +5,9%;
• Nordeste: -2,2%; +1,6%; 0% e -0,4%;
• Paraná: +1,9%; +6,8%; +2,4% e -1,2%;
• Minas Gerais: +1,0%; +0,4%; +1,5% e -2,5%;
• Rio Grande do Sul: +1,5%; -1,7%; -1,0% e +0,3%;
• Amazonas: +2,3%; +3,8%; +9,2% e +24,4%, respectivamente.
Assim, o panorama regional da indústria no primeiro trimestre de 2018 é composto por três situações distintas: casos em desaceleração, outros novamente em contração e alguns poucos em aceleração. Na primeira situação, isto é, em que houve arrefecimento do ritmo de recuperação em comparação com o resultado do último quarto de 2017, encontram-se o total Brasil e 6 das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE, notadamente a indústria do eixo Rio-São Paulo.
Há, contudo, uma ponderação a ser feita. À exceção do Pará, em todos os outros casos que sofreram desaceleração o desempenho de janeiro-março de 2018 ficou em linha com o do terceiro trimestre de 2017 ou então conseguiu superá-lo. Isso abre uma chance de que mais do que significar uma inversão de rota, o crescimento do primeiro trimestre de 2018 poderia estar retomando o padrão de recuperação moderada depois de um trimestre excepcionalmente bom no final do ano passado. Neste sentido, a exceção teria sido a força da alta do 4º trim/17.
Este atenuante, porém, não se aplica a um conjunto relativamente expressivo de outras localidades, cuja recuperação foi interrompida neste primeiro trimestre. Foram 5 das 15 localidades nesta situação. É o caso de Minas Gerais e Paraná, que nos 4 trimestres anteriores tinham registrado crescimento, de Mato Grosso, que havia avançado bastante no final de 2017, e do Nordeste que finalmente ensaiava alguma recuperação. Espírito Santo também ficou no vermelho, mas neste caso foi pior, pois 2018 trouxe um agravamento em suas perdas.
Por fim, a terceira situação a compor o quadro regional da indústria é aquela em que o primeiro trimestre do ano significou uma melhora adicional frente ao desempenho do final de 2017. Isso ocorreu em apenas 4 localidades. Em 3 delas, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, a queda do final de 2017 se reverteu em pequena alta no início de 2018. Já no Amazonas, o crescimento 9,2% no 4º trim/17 avançou para 24,4% no 1º trim/18, dando continuidade à aceleração de sua recuperação.
A partir dos dados dessazonalizados, a passagem de fevereiro de 2018 para março de 2018, a produção industrial brasileira apresentou retração de 0,1%. Dentre os 15 locais pesquisados, sete registraram variação positiva: Pará (9,0%), Mato Grosso (4,7%), Espírito Santo (2,8%), Amazonas (2,6%), São Paulo (2,0%), Goiás (1,2%) e Pernambuco (0,2%). Por outro lado, as demais localidades apresentaram variação negativas: Bahia (-4,5%), Rio de Janeiro (-3,7%), Nordeste (-3,6%), Santa Catarina (-1,2%), Rio Grande do Sul (-0,9%), Paraná (-0,9%), Minas Gerais (-0,5%) e Ceará (-0,2%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior, houve crescimento de 1,3% da indústria nacional, com 7 dos 15 locais pesquisados registrando crescimento: Amazonas (24,3%), Pará (10,1%), São Paulo (4,0%), Mato Grosso (3,4%), Ceará (2,3%), Santa Catarina (2,0%) e Pernambuco (1,0%). Para as demais regiões observamos decréscimos: Bahia (-5,3%), Rio Grande do Sul (-4,8%), Minas Gerais (-4,5%), Nordeste (-3,7%), Espírito Santo (-2,4%), Goiás (-2,4%), Paraná (-2,1%) e Rio de Janeiro (-0,3%).
No acumulado do ano (janeiro de 2018 a março de 2018) frente ao mesmo período do ano anterior, houve crescimento de 3,1% em termos nacionais, com expansão na produção de 10 das 15 regiões pesquisadas. Os principais crescimentos se deram nos estados do Amazonas (24,4%), Pará (8,1%), Santa Catarina (5,9%), São Paulo (5,4%), Ceará (3,3%), Rio de Janeiro (3,0%), Pernambuco (1,0%), Bahia (0,9%), Mato Grosso (0,5%) e Rio Grande do Sul (0,3%). De outro lado, as regiões que apresentaram retração foram: Espírito Santo (-6,0%), Minas Gerais (-2,5%), Paraná (-1,2%), Goiás (-1,0%) e Nordeste (-0,4%).
São Paulo. Na comparação com o mês de fevereiro de 2018, a produção da indústria paulista apresentou crescimento de 2,0%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a março de 2017, houve expansão de 4,0%. Analisando os dados de março de 2018 contra o mesmo mês do ano anterior, tivemos aumento nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (18,3%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e higiene (10,3%), metalurgia (10,0%), máquinas e equipamentos (9,7%) e coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (8,1%). Os setores que apresentaram retrações foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-18,2%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-10,9%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-8,3%), produtos de minerais não metálicos (-4,3%) e bebidas (-3,8%).
Amazonas. Na comparação com o mês de fevereiro de 2018, a produção da indústria amazonense apresentou crescimento de 2,6%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a março de 2017, houve expansão de 24,3%. Os setores com a maior variação positiva (comparação março de 2018 contra março de 2017) foram: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (48,1%), bebidas (36,0%), impressão e reprodução de gravações (32,0%), indústria de transformação (25,6%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (13,5%). De outro lado, o maior decréscimo foi em máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-24,3%).
Bahia. Na comparação com o mês de fevereiro de 2018, a produção da indústria baiana apresentou decréscimo de 4,5%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a março de 2017, houve retração de 5,3%. Os setores com a maior variação positiva (comparação março de 2018 contra março de 2017) foram: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (48,9%), produtos alimentícios (16,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (10,8%) e bebidas (8,9%). Por fim, de outro lado, os maiores decréscimos foram em: produtos químicos (-20,4%), coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-13,3%), produtos de minerais não metálicos (-10,9%), preparação de couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-10,4%) e indústria de transformação (-5,5%).