Análise IEDI
Dez propostas para focar o BNDES no desenvolvimento
O BNDES, ao lado de outras instituições, teve importância histórica indiscutível no processo de desenvolvimento econômico e social do Brasil. Entretanto, assumindo que o próprio desenvolvimento produz grandes transformações que podem tornar redundantes as instituições que o promoveram, é fundamental que papel do banco seja constantemente discutido.
O fundamental para o futuro do BNDES é que haja um resgate de sua ingente e insubstituível missão de promover o desenvolvimento brasileiro. No intento de contribuir para o debate da constituição do BNDES de que o desenvolvimento brasileiro precisa, o economista João Furtado, a pedido do IEDI, preparou algumas propostas que são sintetizadas a seguir:
1. Reformulação e ampliação de escopo da Finame, com menor concentração das operações junto a montadoras de caminhões, ônibus e assemelhados; reformulação do cadastro FINAME para privilegiar os instrumentos de difusão de produtividade e oferecer, às empresas produtoras e usuárias condições para acelerarem a adoção e a migração para novas gerações; inclusão no acervo de itens financiáveis pela FINAME de serviços de todas as naturezas, com ênfase em serviços tecnológicos, design, consultorias de engenharia, de exportação, de capacitação em manufatura enxuta e em manufatura avançada, etc.
2. Finame Produtividade, para aquisição fortemente subsidiada de produtos e serviços promotores de produtividade empresarial e das cadeias produtivas, concentradas em 3 eixos: a) cadeias com potencial de exportação (FINAME - EXPORTAÇÃO); b) setores produtores de "bens salário" para ajudar no combate à inflação (FINAME - CONSUMO); c) projetos de infraestrutura para remover gargalos com economia de investimento (FINAME - INFRAESTRUTURA). Esse programa poderia ter uma vertente Indústria 4.0.
3. Criação de um fundo de investimento em empresas de base tecnológica e inovadoras, com o objetivo não de apoiar startups ou empresas emergentes de base tecnológica de uma maneira geral, mas realizar a um recorte preciso e relativamente bem delimitado desse universo: empresas detentoras de tecnologias que possam servir para a elevação substancial da produtividade do sistema econômico.
4. Estabelecimento de um “programa de apoio à criação de produtos e serviços brasileiros de classe mundial” destinado a projetar produtos e serviços brasileiros promissores em trajetórias de conquista de fatias relevantes nos mercados mundiais, reconhecendo que a única forma de amortizar os investimentos crescentes (e por vezes gigantescos) em P&D é por meio de um denominador (dimensão de mercado) que vai muito além do que um país representa.
5. Criação de um “programa de apoio à internacionalização das empresas, com propósitos tecnológicos para alcançar novas posições na cadeia de valor”, dado que o contato com o mundo e a exposição a novas fontes de concorrência e a novas oportunidades de aquisição de competências e recursos são uma fonte importante de dinamismo e vitalidade para as empresas. O programa deveria limitar os apoios à aquisição de ativos de natureza tecnológica e assemelhados (design, por exemplo; ou marcas de reputação; ou ainda certificações que permitam ampliar os horizontes de mercado).
6. Financiamento de entrepostos comerciais e incubadoras tecnológicas para pequenas e médias empresas brasileiras no exterior (Vale do Silício, China, Alemanha), voltado para a constituição de bases de incubação de empresas brasileiras com potencial tecnológico em espaços econômicos de elevado dinamismo tecnológico, onde as suas chances de transformarem as suas propostas em produtos ou serviços de classe mundial existem.
7. Programa de internacionalização para aquisição de mercados, uma vez que poucas dezenas de empresas brasileiras industriais e de serviços contam com presença relevante em outros mercados com atividades para além da exportação. Precisamos reconhecer que as tecnologias são, cada vez mais, de alcance mundial; e nenhuma empresa confinada a um espaço nacional será capaz de acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos que se originam em uma multiplicidade de polos econômicos.
8. Apoio à Economia de Baixo Carbono (EBC), reconhecendo que o Brasil poderá sofrer grandes restrições em suas exportações em um cenário de redução impositiva de emissões de carbono.
9. Desenvolvimento de tecnologias para conciliar agricultura familiar e serviços ambientais, de modo a evitar a desertificação rural, promovendo a translação das pesquisas científicas e tecnológicas de natureza mais acadêmica para tecnologias, técnicas e equipamentos e artefatos que permitam elevar de modo significativo a produtividade do trabalho e reduzir o caráter penoso das lides agrícolas e rurais de uma maneira geral.
10. Apoio à transição energética, pois, em que pesem as medidas recentes em prol da energia eólica e solar, o Brasil continua distante de uma iniciativa vigorosa e consistente em direção às novas tecnologias que estão alimentando o salto das indústrias produtoras de equipamentos e do uso de energias renováveis tanto no meio industrial como nas famílias.
Mais detalhes sobre as propostas podem ser encontrados na Carta IEDI n. 834 - "BNDES do futuro, um banco voltado para o desenvolvimento" elaborada a partir do estudo realizado por João Salvador Furtado – também disponibilizado no site do IEDI. Deste modo, o IEDI dá continuidade à reflexão sobre o futuro do BNDES, que já foi tema de outras publicações, como a Carta IEDI n. 828 - “O futuro da atuação do BNDES”.