Análise IEDI
Recuperação puxada pelo Consumo
O PIB voltou a crescer em 2017 puxado quase que exclusivamente pelo consumo das famílias. O setor externo pouco ajudou, a despeito do avanço de nossas vendas externas, enquanto os gastos do governo e os investimentos fecharam mais um ano em declínio. A expansão tanto do PIB como o consumo das famílias chegou a 1% no acumulado do ano.
Como o IEDI tem apontado, esta reação do consumo foi alavancada por fatores excepcionais, como a liberação dos recursos do FGTS e do PIS-Pasep, que foram utilizados para pagar dívidas e para efetivar uma parcela da demanda reprimida ao longo da crise. Mas não foi só isso. Houve também importantes fatores de caráter mais sistêmicos, como o expressivo declínio da inflação, que recompôs parte do poder de compra das famílias, e o aumento do crédito a um custo cadente, devido aos cortes da taxa básica de juros (Selic).
Com isso, a trajetória do consumo não só se tornou positiva como se acelerou ao longo do ano. Na comparação interanual, o resultado do quarto trimestre (+2,6%) foi bastante superior ao do acumulado do ano. Uma fração desta melhora do consumo e da economia em geral se traduziu em uma completa reversão na evolução das importações. Depois de cair 10,2% em 2016, nossas compras externas cresceram 5,0% em 2017, anulando boa parte do dinamismo gerado por nosso desempenho exportador de +5,2%. O setor externo não ajudou muito, mas ao menos não restringiu a recuperação.
• PIB total: -3,5% em 2015; -3,5% em 2016 e +1,0% em 2017, sendo +2,1% no 4º trim./17;
• Consumo das famílias: -3,2%; -4,3%, +1,0% e +2,6%, respectivamente;
• Consumo do Governo: -1,4%; -0,1%; -0,6% e -0,4%;
• Investimento: -13,9%; -10,3; -1,8% e +3,8%;
• Exportações: +6,8%; +1,9%; +5,2% e +9,1%;
• Importações: -14,2%; -10,2%; +5,0% e +8,1%.
O mesmo, contudo, não pode ser dito do investimento. A formação bruta de capital fixo foi beneficiada pelo boom agrícola, mas não o suficiente para compensar os fatores negativos ainda prevalecentes sobre as decisões de investir. Assim, a FBKF declinou pelo quarto ano seguido ao variar -1,8% em 2017. O tombo acumulado neste período todo foi de nada menos do que 27%. Deste modo, a taxa de investimento da economia brasileira atingiu seu nível mais baixo dos últimos 20 anos: 15,6% em 2017, depois de ter chegado a 20,9% em 2013.
A recuperação da economia começa, assim, revivendo um padrão muito conhecido por nós: consumo na frente, investimento atrás. É verdade que, dadas as características da crise recente, não teria como o investimento não ser o mais afetado, porém, alguns traços da política econômica aprofundaram ainda mais as quedas:
1. Em primeiro lugar, o ajuste das despesas públicas ficou praticamente restrito a cortes do investimento público;
2. Em segundo lugar, o encarecimento do crédito de longo prazo e as restrições às operações do BNDES pagaram um preço elevado em jogar para baixo as inversões;
3. Por fim, foi muito grave a crise em todo o setor de construção – tanto no segmento residencial como no de construção pesada – sem que o governo tivesse tomado medidas mais efetivas para a reversão ou amenização deste quadro. Não é à toa que o PIB do setor teve em 2017 seu quarto ano de retração (-5,0%).
A boa notícia em relação ao investimento é que no quarto trimestre do ano passado registrou sua primeira alta na comparação interanual depois de uma sequência de 14 trimestres negativos. O resultado foi de +3,8%.
Do lado da oferta, a reativação do consumo influenciou o crescimento de 1,8% do comércio. Em boa medida devido a este resultado, o setor de serviços conseguiu sair do vermelho em 2017, ostentando um modesto, porém positivo crescimento: +0,3%. Outros de seus componentes também ajudaram, como transportes (+0,9%), atividades imobiliárias (+1,1%) e outros serviços (+0,4).
Se o resultado do PIB dos serviços totais apenas superou levemente a estabilidade, no caso da indústria não há espaço para meias palavras. A indústria total ficou estagnada em 2017. Isso, contudo, deveu-se muito à construção, cujo desempenho foi decepcionante como vimos acima. Outros segmentos se saíram bem melhor, como o setor extrativo (+4,3%) e a indústria de transformação (+1,7%).
Em 2017, assim, a expansão do PIB da indústria manufatureira representou uma compensação de apenas 1/10 do que foi sua retração de 2014 a 2016, quando acumulou perdas de 17%. Não chega a surpreender, então, que a participação da indústria de transformação no PIB tenha regredido para meros 9,9% no último trimestre do ano passado. Entretanto, serve de consolo o fato de que sua expansão no final do ano foi expressivamente maior do que no acumulado do ano: +6,0% ante o 4º trim./2016, um ritmo que se assemelha àquele de 2008, antes da crise global ter atingido o Brasil.
Tivesse a indústria crescido como cresceu a agropecuária (+13,0%), dadas as suas diversificadas e fortes relações inter e intrassetoriais e o perfil do seu emprego, majoritariamente formal, a recuperação da economia em 2017 teria sido, sem sombra de dúvida, muito mais vigorosa do que foi.
No quesito de vigor do crescimento ao longo de 2017, cabe observar que um crescimento mais forte ocorreu verdadeiramente apenas no primeiro trimestre, na esteira do boom agrícola (+1,3% com relação ao trimestre anterior). Nos trimestres seguintes a perda de tração do PIB na margem é patente: +0,6%, +0,2% e +0,1% em cada um dos trimestres frente ao trimestre anterior. Interromper esta trajetória - o que traria maior ímpeto ao crescimento da economia - seria possível em 2018 a partir de um maior protagonismo do setor que mais difunde o seu próprio crescimento para o resto da economia, ou seja, a indústria. Isso pode ser possível, dados seus resultados favoráveis no último trimestre de 2017.
De todo modo, com o auxílio de bases de comparação baixas, a economia deve se manter em rota ascendente em 2018. O consumo será influenciado positivamente pelo recuo dos juros dos empréstimos, bem como pela expansão da massa salarial, cada vez mais dependente da melhora adicional do emprego. Os investimentos, por sua vez, devem continuar no terreno positivo, porém restritos a projetos de menor envergadura, geralmente associados à atualização de equipamentos e maquinário. O setor externo, como já temos notado, não deve contribuir muito, já que o quadro mais favorável da economia despertará o ímpeto das importações.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil atingiu, no quarto trimestre de 2017, R$ 1,702 trilhão a preços correntes, mantendo-se estável com relação ao trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Em relação ao quarto trimestre de 2016, houve aumento de 2,1%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior, houve crescimento 1,0%.
Ótica da oferta. Em relação ao terceiro trimestre de 2017, a partir de dados dessazonalizados, foi verificada a expansão dos setores de indústria (0,5%) e serviços (0,2%). Sendo que o setor agropecuário, na mesma comparação, apresentou estabilidade.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, verificou-se aumento nos seguintes segmentos: indústria de transformação (1,5%), produção de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (0,3%). Construção apresentou zero de variação e a extrativa mineral redução de -1,2%.
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, apresentaram variações positivas os segmentos de transporte, armazenagem e correio, estabilidade (0,9%), atividades imobiliárias (0,9%), serviços de informação (0,5%), administração, saúde e educação pública (0,4%), comércio (0,3%). Por outro lado, os outros subsetores apresentaram retração: outros serviços (-0,7%) e intermediação financeira e seguros (-0,3%).
Em relação ao quarto trimestre de 2016, houve elevação no setor agropecuário (6,1%), sendo que o setor industrial apresentou variação positiva de 2,7% e o de serviços teve aumento de 1,7%.
Dentro do setor industrial, ainda frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o segmento de construção civil (-1,6%) e extração mineral (-0,1%) apresentaram queda. O segmento da indústria de transformação (6,0%) apresentou crescimento como demonstrado. E por fim, produção e distribuição de eletricidade, gás e água não variou ficando com zero, para o período analisado.
No setor de serviços, os destaques positivos ficaram por conta do segmento de comércio (4,7%), transporte, armazenagem e correios (4,5%), atividades imobiliárias (2,6%), serviços de informação (1,5%), outros serviços (1,0%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social, assim como atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,3%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao terceiro trimestre de 2017, com ajuste sazonal, verificou-se expansão em Formação Bruta de Capital Fixo (2,0%), importação (1,6%), consumo governamental (0,2%) e consumo das famílias (0,1%). Do outro lado, as exportações apresentaram queda de -0,9%.
Na comparação com o quarto trimestre de 2017, a formação bruta de capital fixo aumentou 3,7%, seguido também de consumo das famílias (2,6%). O consumo do governo retraiu em -0,6%. Já o setor externo apresentou aumento nas exportações de 8,9% e nas importações de 7,6%.