Análise IEDI
Brasil x China quanto a complexidade de suas exportações
A Carta IEDI n. 826, divulgada na última sexta-feira, dia 19 de janeiro, retorna ao tema da evolução da complexidade das exportações brasileira sob a pressão concorrencial exercida pela China em mercados importantes ao Brasil em suas vendas externas de bens manufaturados (Mercosul, Aladi e Nafta). Estudos anteriores podem ser consultados a partir das Cartas IEDI n. 590 de 20/09/2013 “O Dinamismo Exportador do Brasil e a Ameaça das Exportações Chinesas no Após Crise”, n. 716 de 26/01/2016 “Complexidade das Exportações Brasileiras: De Mal A Pior” e n. 769 de 20/01/2017 “Exportação de manufaturados: Concorrência China x Brasil”.
O presente estudo compara os resultados de 2012 com os de 2016 (última informação disponível) com base nas informações do Atlas da Complexidade Econômica (http://atlas.cid.harvard.edu/), que reúne uma série de indicadores de complexidade dos bens exportados por diferentes países. Para obter os dados de complexidade por produto exportado para os países que integram essas regiões, as informações foram cruzadas com as informações de comércio por produto do Trademap, construído pelo Centro de Comércio Internacional (ITC) da UNCTAD/WTO.
De acordo com os economistas que elaboraram o Atlas da Complexidade Econômica, Ricardo Hausmman e César Hidalgo (respectivamente da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts – MIT), a complexidade das exportações é determinante para o crescimento econômico de longo prazo dos países. Isto porque, alguns conjuntos de produtos no núcleo do tecido produtivo são mais essenciais para dinamizar outras atividades produtivas, por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, ou seja, por estabelecerem mais conexões com o restante das atividades econômicas. Neste grupo estão, principalmente, produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde).
Os dados mostram que o Brasil melhorou sua posição no ranking de complexidade econômica entre 2012 e 2016, passando do 50º para o 42º lugar. Contudo, nesse período, o Índice de Complexidade Econômica (ICE), além de ter diminuído, se tornou negativo. Ou seja, outros países devem ter apresentado uma redução maior no ICE, resultando na melhora da posição relativa do Brasil. Esse resultado está em linha com a evolução do Brasil no ranking global de exportações de manufaturados, em que a posição do país, embora marginal, avançou do 31º para o 30º lugar entre 2015 e 2016 (de 0,59% para 0,61% do total), em muito devido ao recuo das exportações mundiais de manufaturados já que a alta das vendas externas desses bens pelo Brasil foi de apenas 1,8% no período.
Já a análise das exportações brasileiras e chinesas para os países do Mercosul, Aladi e Nafta, qualificando o tipo de produto exportado a partir do Índice de Complexidade do Produto (ICP), contribui para a compreensão dos determinantes da interrupção no biênio 2012-2015 da tendência de aumento da especialização das exportações brasileiras em produtos pouco dinâmicos observada entre 2008 e 2012.
O Brasil procurou se adaptar ao avanço da concorrência chinesa em seus principais mercados externos não apenas por meio da exportação de produtos de baixa complexidade, mas também exportando produtos de maior complexidade, como os da indústria de máquinas, em especial a automotiva, beneficiados pelos acordos comerciais com alguns países dessas regiões. Entretanto, a China destacou-se em produtos ainda mais sofisticados (sobretudo eletrônicos), resultado também associado a acordos comerciais entre países latino-americanos e países externos à região.
Frente à concorrência chinesa, os avanços do Brasil permanecem limitados, devendo o país aumentar suas exportações de manufaturados de maior complexidade e ampliar suas competências produtivas em direção a bens similares dos que já produz. Além disso, vale ressaltar a importância de participar de acordos comerciais que envolvam produtos de maior complexidade econômica, notadamente com os países com os quais já apresentamos laços comerciais estreitos em manufaturados, como Mercosul, Aladi e Nafta.